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Portos ucranianos retomam exportações de cereais

Ines Eisele | Lusa
27 de julho de 2022

Três portos ucranianos designados para proceder às exportações de cereais, bloqueadas por causa da guerra, já retomaram os trabalhos, depois de acordos assinados recentemente. Cinco factos para entender o conflito.

Silos de cereais no porto de Odessa (arquivo)
Silos de cereais no porto de Odessa (arquivo)Foto: ussi Nukari/Lehtikuva/dpa/picture alliance

A Marinha da Ucrânia anunciou esta quarta-feira (27.07) que foram retomadas as atividades em três portos, embora ainda estejam a ser feitos esforços para garantir a segurança dos corredores de passagem.

"No quadro da assinatura de um acordo para desbloquear os portos ucranianos para a exportação de cereais, os portos de Odessa, Chornomorsk e Pivdenny retomaram o trabalho", divulgou a Marinha nas redes sociais.

Na passada sexta-feira (22.07), a Ucrânia e a Rússia assinaram acordos com a Turquia e a ONU para desbloquear a exportação de cerca de 25 milhões de toneladas de cereais bloqueados nos portos do Mar Negro.

Entretanto, já foi inaugurado, na cidade turca de Istambul, o Centro de Coordenação Conjunta, responsável pelo controlo das exportações dos cereais ucranianos por via marítima.

Campo de trigo na região de Zaporizhzhia, na UcrâniaFoto: Dmytro Smoliyenko/Avalon/Photoshot/picture alliance

Cinco factos para entender o conflito

As exportações de cereais são cruciais para a segurança alimentar global, já que os preços dos alimentos dispararam desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro. Entenda melhor o conflito nestes cinco factos reunidos pela DW.

1. Que papel desempenha a Ucrânia na segurança alimentar global?

A Ucrânia é um dos maiores produtores de cereais do mundo. O país exporta principalmente trigo, milho e cevada. Segundo a Comissão Europeia, a Ucrânia representa 10% do mercado mundial do trigo, 15% do mercado do milho e 13% do mercado da cevada. Com mais de 50% do comércio mundial, é também o principal interveniente no mercado do óleo de girassol.

Classificados em primeiro e segundo lugares, respetivamente, o milho e o trigo são também os cereais mais cultivados no mundo. Um conflito num grande exportador como a Ucrânia pode ter graves consequências para a segurança alimentar mundial.

2. Quais são os maiores produtores de trigo, milho e cevada?

Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a Ucrânia surge como o sétimo maior produtor mundial de trigo em 2021/22, com 33 milhões de toneladas. Em primeiro lugar nesta lista está a União Europeia (UE) - contabilizando todos os Estados-membros em conjunto -, seguindo-se Austrália, EUA, Rússia, Índia e China.

A Ucrânia ocupa ainda a sexta posição no mercado do milho. De meados de 2021 a meados de 2022, apenas a Argentina, a UE, o Brasil, a China e especialmente os EUA produziram mais milho. A maior parte da cevada é cultivada na UE, logo seguida pela Austrália, Rússia e Ucrânia.

Melitopol: Colheita de cereais numa zona controlada pela RússiaFoto: AP/picture alliance

3. Quais são os maiores importadores destes grãos?

Segundo o Observatório da Complexidade Económica (OEC), um site que disponibiliza dados sobre o comércio internacional, os maiores importadores de trigo em 2020 foram o Egito (5,2 mil milhões de dólares), a China (3,47 mil milhões de dólares), a Turquia (2,44 mil milhões de dólares), a Nigéria (2,15 mil milhões de dólares) e a Indonésia (2,08 mil milhões de dólares). O Egito foi também o maior comprador de trigo vindo da Ucrânia.

No que diz respeito ao milho, nos números mais recentes da OEC disponíveis, relativos a 2018, surgem como principais importadores o México (3,14 mil milhões de dólares), o Japão (2,94 mil milhões de dólares), a Coreia do Sul (1,92 mil milhões de dólares), o Vietname (1,85 mil milhões de dólares) e a Espanha (1,72 mil milhões de dólares). Entre os principais compradores de milho da Ucrânia estão os Países Baixos, a Espanha e a China.

Alguns dos principais países importadores de cevada em 2020 foram a China (1,77 mil milhões de dólares), a Arábia Saudita (1,38 mil milhões de dólares), os Países Baixos (512 milhões de dólares), a Bélgica (369 milhões de dólares) e a Alemanha (307 milhões de dólares). A China era o maior cliente da cevada ucraniana.

4. Como é que a guerra na Ucrânia afeta o mercado global de cereais?

As entregas de cereais foram suspensas em consequência do bloqueio dos portos ucranianos pela Rússia, o que fez aumentar os receios de escassez a nível mundial e levou à subida de preços.

Em meados de maio, os preços de exportação de trigo e milho subiram em níveis sem precedentes, com consequências de grande alcance, particularmente em África, no Médio Oriente e na Ásia, segundo a ONU - em países onde a pandemia da Covid-19 já tinha piorado a situação alimentar.

Entretanto, diminuiu um pouco a pressão sobre o mercado de cereais. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) estima que, apesar da guerra da Ucrânia, a colheita global de cereais em 2022 deverá ser apenas ligeiramente menor do que em 2021. Com os recentes acordos assinados pela Ucrânia e pela Rússia, aumentaram as esperanças do retomar das exportações de cereais ucranianos.

Acordos assinados na sexta-feira passada preveem corredores seguros no Mar NegroFoto: aptyp_kok/YAY/IMAGO

5. O que significam os acordos da Ucrânia e da Rússia?

No âmbito dos acordos alcançados na Turquia, os cerca de 20 a 25 milhões de toneladas de cereais atualmente bloqueados na Ucrânia podem finalmente ser exportados. As exportações de cereais e fertilizantes russos - restringidos em resultado das sanções contra a Rússia - também devem ser facilitadas.

Os acordos preveem igualmente corredores seguros no Mar Negro entre a Ucrânia e o Bósforo, ou seja, os navios e os portos nesta zona não deverão ser atacados. Um centro de controlo criado em Istambul, chefiado pelas Nações Unidas e composto por representantes da Rússia, Ucrânia e Turquia, deverá controlar as exportações de cereais.

Os acordos assinados pela Ucrânia e pela Rússia são importantes para a segurança alimentar global. Os cereais são uma necessidade urgente no mercado mundial, especialmente na Ásia e em África. Na sequência da guerra da Rússia na Ucrânia, as Nações Unidas alertaram para a maior crise alimentar das últimas décadas.

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