A Fundação Right Livelihood anunciou nesta terça-feira (26.09) os contemplados com o prémio para defensores de direitos humanos. A ativista etíope Yetnebersh Nigussie está entre os premiados.
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A ativista da Etiópia Yetnebersh Nigussie, ao lado de outros três contemplados de diferentes continentes, receberá em dezembro o chamado Nobel Alternativo de 2017 para defensores de direitos humanos. O prémio distingue o trabalho social de pessoas e instituições de todo o mundo. A etíope, que é cega, estudou Direito e atua para promover os direitos humanos e a inclusão de pessoas com deficiência.
Em homenagem ao trabalho dos premiados, o diretor executivo da Fundação do Prémio Right Livelihood, Ole von Uexkull, afirmou que eles têm desenvolvido um "trabalho corajoso na defesa dos direitos humanos, saúde pública e boa governação" e "enfrentado alguns dos maiores desafios mundiais".
Por sua vez, em entrevista à DW, Nigussie disse que a deficiência foi uma "oportunidade" na sua vida. "Muitas pessoas na Etiópia acreditam que a deficiência de alguém se deve a alguma maldição, algum mal que a família tenha cometido. Eu digo que minha cegueira foi uma oportunidade, porque poucos na minha aldeia tiveram a chance de ter educação".
Por ser cega, a etíope nunca fui considerada apta para o casamento precoce - uma prática comum na aldeia em que nasceu. "Já as minhas amigas casaram-se aos dez, onze ou doze anos", disse. "Fui a única exceção, a educação libertou-me. Por isso, tornei-me o que sou hoje."
Uma estudante de Direito cega
Nobel Alternativo para ativista etíope Yetnebersh Nigussie
Nigussie ficou cega aos cinco anos de idade. Foi uma das três primeiras estudantes de Direito do sexo feminino com essa deficiência na Etiópia. Em 2005, co-fundou o Centro Etíope para Deficiências e Desenvolvimento (ECDD, na sigla em inglês), que promove a integração de pessoas com deficiência. Atualmente, a jovem de 35 anos trabalha na organização internacional contra a cegueira "Light for the World".
A inclusão de pessoas deficientes em África é um desafio com experiências promissoras, defende Nigussie. "África já desenvolveu o seu próprio protocolo sobre os direitos das pessoas com deficiência, que está quase pronto para adoção e implementação pelos chefes de Estado da União Africana. Eu tenho orgulho de dizer que fiz parte do desenvolvimento deste protocolo".
A implementação de políticas para pessoas com deficiências em países africanos não é a melhor do mundo, explica. No entanto, a ativista acredita em experiências "promissoras", graças às quais os países africanos podem "aprender uns com os outros". E cita o Conselho Nacional de Pessoas com deficiências do Quénia como uma das "instituições mais vibrantes" com as quais se pode aprender em termos de implementação de leis e investimentos.
Prémio "Nobel Alternativo"
Os vencedores do prémio Nobel Alternativo para defensores de direitos de 2017 protegem os direitos e a vida dos cidadãos em três continentes numa "época de recuos alarmantes para a democracia", segundo a Fundação Right Livelihood. Além disso, "mostram caminhos para um mundo justo, pacífico e sustentável", disse o director do organismo, Ole von Uexkull.
Os contemplados com o prémio Nobel Alternativo
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Segundo Nigussie, isso também passa pela inclusão social das mulheres com deficiências. "Pessoas do sexo feminino com deficiências - que nas suas vidas superam barreiras físicas e desafios de género - têm muito a oferecer. A experiência de superar obstáculos não é apenas uma 'maratona desportiva de 100 ou 200 metros'. É uma maratona durante toda a vida...".
O júri internacional escolheu quatro premiados entre 102 nomeações oriundas de 51 países. A etíope partilhará com os demais contemplados um prémio de cerca de 315 mil euros.
A jornalista Khadija Ismayilova, do Azerbaijão, o advogado de direitos humanos Colin Gonsalves, da Índia também receberão o prémio. Já o advogado americano Robert Bilott foi congraçado com o prémio honorário.
Os prémios serão concedidos oficialmente em 1º de dezembro, em Estocolmo. Desde 1980, a fundação tem homenageado personalidades que encontram "soluções práticas para problemas globais".
Ser mulher na Guiné-Bissau significa vida dura
A maioria das mulheres guineenses tem uma vida difícil. Têm de percorrer dezenas de quilómetros para ir buscar lenha. Muitas morrem ainda jovens. A taxa guineense de mortalidade materna é uma das mais altas do mundo.
Foto: DW/B. Darame
Primeira a acordar, última a ir dormir
No campo, uma mulher trabalha a dobrar. Costuma acordar antes dos restantes membros da família e é a última a deitar-se no final do dia. São as mulheres que têm de caminhar até à mata para procurar lenha e água, às vezes em zonas de difícil acesso, a vários quilómetros da aldeia, como nesta fotografia na vila de Quinhamel, na região de Biombo, no norte da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Vender para sustentar a família
Com um pano estendido no chão, as vendedoras vão expondo os seus legumes, malaguetas verdes, pepinos, cenouras, alfaces. São cultivados em quintais ou em pequenos campos. "Vender para sustentar a família" é o lema das mulheres guineenses. Mais de metade vende em feiras improvisadas, como aqui no Mercado de Bandim, o maior mercado de céu aberto da cidade de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Economia dominada por homens
À beira das estradas, as mulheres sentam-se em bancos e mesas de madeira e vendem laranjas, mangas, bananas e outros frutos - como aqui em Bissack, bairro nos arredores de Bissau. As vendedoras têm uma receita que ronda os 10 euros diários. Em média, uma guineense consegue ganhar 907 dólares por ano, bastante menos que os homens que conseguem em média 1.275 dólares.
Foto: DW/B. Darame
Recolher areia para sobreviver
Tia Nhalá não sabe que idade tem, mas sabe que todos os dias deve acordar cedo, às 05h00, para recolher areia no bairro de Cuntum, em Bissau. Sem qualquer proteção no rosto, sem luvas e pés descalços, Nhalá, que aparenta ter 67 anos, trabalha duramente durante largas horas. Recolhe areia que depois vende a pessoas que a usam em obras de construção civil.
Foto: DW/B. Darame
Venda ambulante em condições perigosas
No Bairro de Belém, em Bissau, meninas deambulam de porta em porta para vender frutas. Organizações da sociedade civil denunciaram já várias vezes que as vendedoras ambulantes correm riscos, como o de serem violadas sexualmente, pois estão muito expostas e vulneráveis. Também há denúncias de que algumas mulheres são forçadas a fazer esse trabalho.
Foto: DW/B. Darame
Vender peixe é um bom negócio
As vendedoras de peixe geralmente possuem arcas velhas para a conservação do pescado. Colocam-nas nos portos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - para servir de local de armazenamento quando receberem peixe fresco dos pescadores. Nos últimos anos, a venda de peixe tornou-se num dos negócios mais rentáveis para as mulheres guineenses.
Foto: DW/B. Darame
Um dos piores países para ser mãe
As condições precárias nas zonas rurais da Guiné-Bissau têm reflexos nas estatísticas: em 126 partos morre uma mulher, segundo dados das Nações Unidas. Em comparação, no Japão, em 20.000 partos morre uma mulher. A taxa de mortalidade materna na Guiné-Bissau é uma das mais altas do mundo. Ainda assim, não existe no país uma estratégia política dirigida à mulher no meio rural.
Foto: DW/B. Darame
País difícil para as crianças
Cada mulher guineense tem em média cinco filhos. O país tem uma das taxas de fecundidade mais altas do mundo. Mas muitas crianças não chegam a celebrar o seu quinto aniversário. Segundo dados das Nações Unidas, 129 de 1.000 crianças morrem até aos cinco anos de idade, muitas durante no parto, o que torna a Guiné-Bissau um dos piores países do mundo para se nascer.
Foto: DW/B. Darame
Trabalhos domésticos no feminino
Em Mansoa, região de Oio, norte da Guiné-Bissau, as casas de adobe agrupadas debaixo de enormes árvores desenham intricados caminhos onde secam redes de pesca, peles de antílopes e roupas rasgadas de criança. A comida prepara-se num fogão improvisado a lenha, em frente da casa. Trabalhos domésticos como cozinhar, cuidar das crianças ou limpar cabem tradicionalmente às mulheres.
Foto: DW/B. Darame
Carregar à cabeça é a única solução
Nas zonas mais recônditas da Guiné-Bissau, como na aldeia de Suru, região de Biombo, a cerca de 20 quilómetros de Bissau, não há uma rede de estradas que facilite o transporte das mercadorias. Não há carros que façam as ligações entre as aldeias. Carregar à cabeça, por vezes mais de cinco quilos, é a única solução para que essas mulheres possam fazer chegar os produtos ao destino.
Foto: DW/B. Darame
Lenha e água a quilómetros de distância
Nas mais de 80 ilhas e ilhéus completamente isolados e sem grande presença do Estado guineense, as populações vivem no regime do "salva-se quem poder". As mulheres percorrem dezenas de quilómetros para ir buscar lenha e água potável. Em muitos casos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - atravessam rios caminhando, com os pés descalços, sem roupas adequadas e carregadas.
Foto: DW/B. Darame
Ultrapassando rios e braços de mar
Devido à falta de barcos nas aldeias insulares do arquipélago dos Bijagós, o fornecimento e o transporte de bens é extremamente difícil. É recorrente ver mulheres atravessando rios ou braços de mar bastante profundos. Estes caminhos para procurar lenha e água doce são bastante perigosos para quem não sabe nadar.
Foto: DW/B. Darame
Desigualdade começa na educação
A maioria das mulheres guineenses vive em situação de extrema pobreza. Em médias, as mulheres frequentaram a escola apenas 1,4 anos, menos de metade do que os homens guineenses, que têm em média 3,4 anos de escolaridade, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. Só investindo na educação e na saúde será possível melhorar a situação das mulheres da Guiné-Bissau.