Nobel da Literatura para a norte-americana Louise Glück
Lusa
8 de outubro de 2020
O prémio Nobel da Literatura 2020 foi atribuído à escritora norte-americana Louise Glück, pela "inconfundível voz poética" que torna universal a existência individual", anunciou esta quinta-feira a Academia Sueca.
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No anúncio do prémio, o secretário permanente da Academia Sueca, Mats Malm, disse ter falado momentos antes com a laureada, que recebeu a notícia "com surpresa, mas bem-vinda", tanto quanto foi possível perceber tendo em conta a hora.
A atribuição do prémio foi justificada pela "inconfundível voz poética que, com beleza austera, torna universal a existência individual".
Louise Glück fez a sua estreia literária com "Firstborn", em 1968, e foi "rapidamente aclamada como uma das mais proeminentes poetas na literatura contemporânea americana".
O Nobel da Literatura, envolto em diversas polémicas nos últimos anos, tem um valor superior a 900 mil euros.
Numa lista de contemplados largamente masculina, Glück torna-se na sétima mulher a ser distinguida este século e a 16.ª, desde o começo, entre as 117 pessoas a quem foi atribuido o Nobel da Literatura.
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Anos polémicos
Após a controversa escolha de Bob Dylan, em 2016, a Academia Sueca foi apanhada pela agitação de um escândalo sexual e de crimes financeiros que a dividiu tanto que teve de adiar a atribuição do prémio de 2018, pela primeira vez em mais de 70 anos.
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A polémica rebentou no final de 2017 com denúncias de 18 mulheres a um diário sueco, de que teriam sido vitimas de abuso sexual por parte do artista Jean-Claude Arnault, que foi condenado no final de 2018 a dois anos e meio de prisão por violação. Ao rebentar o escândalo, a Academia Sueca cortou relações com o artista e pediu uma auditoria, que concluiu que Arnault não influenciou decisões sobre prémios e bolsas.
Contudo, descobriu-se que Katarina Frostenson, mulher do artista e membro do comité que decidia a atribuição do Nobel da Literatura, era coproprietária do clube literário do marido, que recebia regularmente apoio financeiro da Academia Sueca, o que violava as regras de imparcialidade. O relatório confirmou também que a confidencialidade sobre o vencedor do Nobel foi violada várias vezes.
Após várias demissões e reestruturação dos lugares de topo, em 2019, a Academia premiou o romancista austríaco Peter Handke (nesse ano o Prémio referente a 2018 foi atribuído à escritora polaca Olga Tokarczuk), o que gerou forte controvérsia, devido às conhecidas posições pró-sérvias do escritor, durante a guerra na ex-Jugoslávia, tendo, inclusivamente, levado a principal associação de vítimas do genocídio de 1995 em Srebrenica a acusá-lo de defender responsáveis por crimes de guerra e a pedir a retirada do prémio.
As artes como arma anticolonial
A luta contra o colonialismo fez-se em várias frentes. Uma caneta, uma música e um pincel também podem ser uma arma. Recordamos algumas figuras que fizeram da arte o seu grito de revolta contra o regime vigente.
Foto: Casa Comum/ Documentos Malangatana
Amílcar Cabral, o "Chefi di Guerra" que era poeta
Nasceu na Guiné, mas o percurso e luta dividiu-se entre o país natal e Cabo Verde. Promotor da cultura e educação, que via como partes integrantes do processo de revolução. O poeta português Manuel Alegre descreveu-o como” o mais inteligente, o mais criativo e o mais brilhante de todos os dirigentes da luta de libertação dos povos africanos".
Foto: casacomum.org/Documentos Amílcar Cabral
Deolinda Rodrigues: As mulheres também lutam
Langilia era o nome de guerra de Deolinda Rodrigues (no canto superior direito da foto) contra o império colonial. Perdeu a vida pela causa que defendia. É também um símbolo feminista – é ela a origem do Dia da Mulher Angolana. Excerto de um dos seus poemas: "Mamã África geraste-me no teu ventre, nasci sob o tufão colonial, chuchei teu leite de cor, cresci, atrofiada, mas cresci".
Foto: Casa Comum/Fundo Mário Pinto de Andrade
Mário Pinto de Andrade e a identidade africana
Passou grande parte da sua vida exilado, o que não o impediu de ser uma das grandes vozes dos nacionalismos africanos e do pan-africanismo. Idealista, acaba por deixar o MPLA, partido que fundou, por não se identificar com o rumo tomado. Em 1953, com o são-tomense Francisco Tenreiro, organizou o volume "Poesia Negra de Expressão Portuguesa", um testemunho da expressão africana dentro da lusofonia.
Foto: DW/J. Carlos
As "três Marias": Denunciar o Estado Novo internacionalmente
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho Costa escreveram "As Novas Cartas Portuguesas", que denunciava a repressão do regime, especialmente no que dizia respeito às mulheres. O livro foi censurado e as autoras levadas a tribunal. O caso teve grande repercussão internacional, com várias manifestações em sua defesa e contra o regime ditatorial em Portugal.
Foto: privat
José Luandino Vieira: Consciência nacionalista
É um dos grandes da literatura angolana. A sua obra reflete a consciência nacionalista, não foi por acaso que adotou um pseudónimo que inclui o nome "Luandino". Lutou pelo MPLA. Foi um dos que foram presos na sequência do conhecido "Processo dos 50". Esteve vários anos preso, incluindo no Tarrafal. Venceu o prémio Camões, o mais importante para escritores de língua portuguesa, que recusou.
Foto: Imago/GlobalImagens
Zeca Afonso: A voz da revolução
Português, com a infância passada entre Angola e Moçambique. Voz incontornável da música de intervenção contra a ditadura e o colonialismo. A sua música "Grândola Vila Morena" foi um dos sinais para dar início à Revolução dos Cravos. É reconhecido internacionalmente e as suas músicas permanecem um símbolo da luta contra regimes opressivos.
Foto: Casa Comum/Arquivo Mário Soares
Alda do Espírito Santo: "Independência total"
Figura mítica do nacionalismo são-tomense (à esquerda na foto), não fora ela a autora da letra do hino nacional onde por várias vezes reclama a "Independência total". A sua poesia é um elogio à sua terra e ao seu povo. Em Lisboa conviveu com intelectuais como Mário Pinto de Andrade e Amílcar Cabral, na famosa Casa dos Estudantes do Império.
Foto: Casa Comum/Fundo Mário Pinto de Andrade
Malangatana: O herói moçambicano
Esteve 18 meses preso pelos ideais anticolonialistas que defendia. Os anos de cárcere estariam depois presentes também presentes nos seus trabalhos. É conhecido internacionalmente pela pintura, mas também explorou outras formas de expressão como a escultura, cerâmica e a tapeçaria. Em 1997 foi nomeado pela UNESCO "artista pela paz".