Divulgado relatório sobre corrupção no mandato Zuma
Lusa
5 de janeiro de 2022
Segundo documento, comissão judicial de inquérito determinou que existiu "captura do Estado" pela corrupção durante a presidência de Jacob Zuma.
Publicidade
A Presidência da República sul-africana divulgou na sua página oficial na Internet a primeira parte de um relatório sobre a captura do Estado pela corrupção durante a presidência do ex-Presidente Jacob Zuma.
O documento, com mais de 800 páginas, foi divulgado na terça-feira (04.01), minutos após a sua entrega ao chefe de Estado, Cyril Ramaphosa, numa cerimónia no 'Union Buildings', o palácio presidencial, em Pretória.
A entrega foi feita pelo juiz Raymond Zondo, que liderou durante quase quatro anos de testemunhos uma comissão judicial de inquérito 'ad hoc' à grande corrupção no Estado sul-africano.
Publicidade
"Captura do Estado"
Neste primeiro volume do relatório sobre a grande corrupção no mandato de Jacob Zuma, em que Cyril Ramaphosa desempenhou o cargo de vice-presidente do país entre 2014 e 2018, o juiz refere que a comissão judicial de inquérito determinou que existiu "captura do Estado" pela grande corrupção fomentada por dirigentes do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder desde 1994.
"Uma questão fundamental que esta comissão deve responder é se as evidências apresentadas antes da comissão estabeleceram a captura do Estado. Uma leitura da parte 1 do relatório mostrará ao leitor que esta comissão concluiu que a captura do Estado foi estabelecida", refere Raymond Zondo, no documento divulgado.
No documento consultado pela Lusa, Zondo revela que "aproximadamente 1.438 pessoas e entidades foram implicadas por evidências apresentadas perante a comissão".
Responder às conclusões
"Quem for afetado, poderemos garantir que haverá implementação" de medidas, salientou o Presidente Ramaphosa.
O chefe de Estado sul-africano sublinhou que "as áreas que podem ser atendidas serão abordadas", acrescentando que "o Governo precisa do relatório completo para que possa responder sistematicamente às conclusões e recomendações da comissão".
O relatório resulta de "quatro anos extenuantes", disse o juiz Raymond Zondo, que presidiu à comissão lançada pelo próprio Jacob Zuma (2009-2018) para demonstrar boa vontade em fevereiro de 2018.
Esta primeira parte do relatório contém os capítulos relativos à estatal aérea sul-africana SAA, aos negócios da controversa família indiana Gupta, próxima de Zuma, e aos serviços fiscais do país, disse Zondo, que entregou pessoalmente a versão impressa ao Presidente.
As próximas duas partes serão publicadas no final de janeiro e no final de fevereiro.
Embora a comissão que o elaborou tenha apenas um papel consultivo, as suas conclusões podem ser entregues ao Ministério Público para eventuais ações judiciais.
A voz pela equidade na África do Sul: Desmond Tutu
Foi o primeiro bispo negro da Igreja Anglicana de Joanesburgo e posteriormente da Cidade do Cabo. Juntamente com Nelson Mandela, lutou pelo fim do apartheid na África do Sul. Morreu a 26 de dezembro de 2021 aos 90 anos.
Foto: Paul Hawthorne/Getty Images
Envelhecer graciosamente
Tutu nasceu em 1931 numa cidade de mineiros chamada Klerksdorp. Mais tarde tornou-se professor. Quando o regime racista sul-africano do apartheid começou a discriminar alunos negros, renunciou ao cargo. Desmond Tutu seguiu uma carreira de teologia, tornando-se assim o primeiro bispo negro de Joanesburgo. Aqui, Tutu estava a celebrar o seu aniversário de 86 anos.
Foto: Mark Wessels/AP Photo/picture alliance
Companheiro de Mandela
Muitos sul-africanos colocam agora Tutu no mesmo pedestal que Nelson Mandela. Como primeiro Presidente negro eleito democraticamente da África do Sul, Mandela defendeu os ideais políticos, enquanto Tutu defendia os ideais espirituais da "Nação Arco-Íris", sustentam muitos pesquisadores. Para estes, a África do Sul sem Tutu é inimaginável.
Foto: David Brauchli/AP Photo/picture alliance
Criador da Comissão de Verdade e Reconciliação
Depois que o apartheid foi abolido, Mandela pediu a Tutu para liderar a Comissão de Verdade e Reconciliação (CVR). O objetivo era que as vítimas e transgressores se reconciliassem pelos crimes cometidos durante o apartheid. Tutu e a CVR lutaram para que a justiça fosse permeada por perdão e reconciliação. O bispo apresentou a Mandela o relatório final da CVR em 1998.
Foto: Walter Dhladhla/dpa/picture alliance
Nobel da Paz por lutar contra o apartheid
A oposição não violenta de Desmond Tutu ao apartheid foi reconhecida quando recebeu o Prémio Nobel da Paz, em 1984. Enquanto Mandela e outros combatentes pela liberdade estavam na prisão, Tutu assumiu a luta contra a segregação racial. Na imagem, Egil Aarvik, presidente do Comitê do Nobel em Oslo, entrega o prémio.
Foto: Helmuth Lohmann/AP Photo/picture alliance
Um monumento vivo
Em 2005, um monumento em homenagem aos vencedores do Prémio Nobel da Paz da África do Sul foi erguido no porto da Cidade do Cabo. A escultora Claudette Schreuders imortalizou os quatro homens: Albert Luthuli (1960), Desmond Tutu (1984) e F.W. de Klerk e Nelson Mandela, que compartilham o Prémio Nobel da Paz de 1993.
Foto: W. Veeser/imageBROKER/picture alliance
Líder espiritual com conexões internacionais
O arcebispo Desmond Tutu foi chamado de líder moral da África do Sul, por defender os direitos humanos e se opor a toda discriminação. O apelido de 'Nação do Arco-Íris' da África do Sul é atribuído a ele. Conhecido pelo seu humor, Tutu é considerado um “tesouro mundial”. Na foto um encontro com Dalai Lama, o líder espiritual do Tibete, na Cimeira da Paz de 2006 em Hiroshima.
Foto: Kyodo/MAXPPP/picture alliance
Tutu para o mundo
Quando a África do Sul sediou a Copa do Mundo FIFA em 2010, Tutu se mostrou um verdadeiro patriota. Na imagem traja o uniforme completo dos Bafana Bafana (como a seleção sul-africana de futebol é conhecida) no jogo de abertura do torneio entre a África do Sul e o México. A única coisa que falta é uma vuvuzela, o instrumento ensurdecedor da plateia nos estádios sul-africanos.
Foto: Phil Cole/Getty Images
Autoridade moral
Nelson Mandela convidou Desmond Tutu para participar da organização “The Elders” (“Os mais velhos”, em tradução livre). A entidade, que busca cooperação mundial para os direitos humanos, ganhou o apoio de personalidades internacionais, incluindo o ex-Presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter e o ex-secretário da ONU Kofi Annan.
Foto: Jeff Moore/THE ELDERS/AFP
Tutu, um homem de família
A esposa de Desmond Tutu, Leah Nomalizo Tutu, esteve do seu lado durante todo o apartheid. Também ela ativista, casou-se com Tutu em julho de 1955 - antes de Tutu passar de professor a bispo. O casal teve quatro filhos e nove netos. Juntos, têm uma fundação que defende resolução de conflitos. Parabéns, Tutu!
Foto: Gail Oskin/AP Photo/picture alliance
Morte no natal de 2021
Desmond Tutu morreu no dia 26 de dezembro de 2021 aos 90 anos. O arcebispo anglicano estava debilitado há vários meses, durante os quais não falou em público, mas ainda cumprimentava os jornalistas que acompanhavam cada uma das suas saídas, como quando foi tomar a sua vacina contra a Covid-19 num hospital ou quando celebrou os seus 90 anos em outubro de 2021.