Bissau: Eleições devem decorrer "imperativamente" em 2019
Iancuba Dansó (Bissau)
8 de outubro de 2019
Eleições na Guiné-Bissau devem ocorrer "imperativamente" na data prevista e o atual Governo deve manter-se em funções, diz missão internacional que se deslocou ao país para avaliar preparativos para as presidenciais.
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Após contactos com autoridades e atores políticos da Guiné-Bissau, na segunda-feira (07.10), a missão conjunta das Nações Unidas, União Africana (UA), Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e Comunidade dos Países de Língua Portuguesa CPLP) reiterou a determinação para que o escrutínio presidencial aconteça na data marcada: 24 de novembro.
"As eleições presidenciais devem ter lugar, imperativamente, no ano 2019. A primeira volta em 24 de novembro e a segunda volta, se houver, no dia 29 de dezembro de 2019, conforme o calendário estabelecido", declarou Francis Behanzin, porta-voz da missão.
"Conforme a decisão da 55ª cimeira dos Chefes de Estados e de Governos da CEDEAO, a missão conjunta reitera a manutenção do atual governo em exercício, saído das eleições legislativas de 10 de março de 2019, cuja missão principal é a organização das eleições presidenciais. A missão conjunta reafirma a manutenção dos ficheiros eleitorais das eleições legislativas, caso não haja consenso e por escrito entre os atores políticos", acrescentou.
Entre críticas e troca de acusações
O Governo tem sido fortemente acusado pelos partidos da oposição e pelos potenciais candidatos pela forma como está a conduzir o processo eleitoral. "Não podemos acompanhar cegamente o Governo naquilo que nos parecem ser manobras para alguma fraude eleitoral. Na Guiné-Bissau, nunca houve problemas no recenseamento eleitoral. Esta é a primeira vez que se coloca este problema", afirma Fernando Mendonça, diretor nacional da campanha de Carlos Gomes Júnior.
Califa Seide, líder da bancada parlamentar do PAIGC, partido que lidera o atual Governo, mostrou-se tranquilo quanto aos preparativos para as eleições. Uma semana antes da votação do programa do Governo no Parlamento guineense, prefere olhar para a aliança política que sustenta o Executivo. "Podemos garantir-vos aqui que a aliança constituída, resultante das eleições legislativas de 10 de março, está firme", garante.
Bissau: Eleições devem decorrer "imperativamente" em 2019
Nos últimos dias, o ambiente político guineense tem sido marcado por troca de acusações mútuas entre as entidades políticas, numa altura em que faltam menos de dois meses para as eleições presidenciais.
Numa entrevista recente à agência Lusa, o candidato presidencial do Movimento para Alternância Democrática (MADEM G-15), Umaro Sissocó Embaló, acusou o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) de ser "beneficiário" do tráfico de drogas, pela campanha eleitoral de luxo que fez, em março deste ano, aquando das eleições legislativas. Em comunicado o PAIGC disse que Umaro Sissocó Embalo é um "fanático religioso", que quer dividir o país e etnias e lembrou os esforços do partido e do governo, no combate ao narcotráfico.
Por seu lado, o Presidente cessante, José Mário Vaz, candidato à sua sucessão, acusa o Governo de o ter impedido de ir a Nova Iorque, para participar na última Assembleia Geral das Nações, sob alegações de dificuldades financeiras.
Recusas e exigências
Na sexta-feira (04.10), quatro das 19 figuras que se perfilam para as eleições presidenciais, nomeadamente, José Mário Vaz, Umaro Sissocó Embaló, Nuno Gomes Nabiam e Carlos Gomes, através de um comunicado conjunto das respetivas diretorias da campanha eleitoral, garantiram que não iriam participar em nenhuma reunião convocada pelo Governo sobre o processo eleitoral.
Também exigiram a anulação das correções das omissões nos cadernos eleitorais, que visa permitir que os cidadãos eleitores, que não tinham votado nas legislativas de março por erros técnicos no recenseamento, possam exercer o direto ao voto na escolha do Presidente da República.
Enquanto isso, fontes governamentais garantiram à DW África que, até 24 de novembro, estarão reunidas todas as condições técnicas e financeiras para as presidenciais guineenses.
Farpas e elogios: Frases das eleições na Guiné-Bissau
Principais partidos políticos, sociedade civil e comunidade internacional acompanham de perto contagem de votos na Guiné-Bissau. CNE só divulga resultados na quarta-feira (13.03), mas PAIGC já canta vitória.
Foto: Getty Images/AFP/SEYLLOU
PAIGC
O PAIGC declarou-se, na segunda-feira (11.03), vencedor das eleições legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau. O porta-voz do partido João Bernardo Vieira garantiu que o povo conferiu ao PAIGC os destinos do país. No domingo, após votar, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, disse que estas eleições representam "um momento de viragem" para que, na Guiné-Bissau, "o império da lei vingue".
Foto: DW/F. Tchumá
MADEM-G15
Após o anúncio do PAIGC, o Movimento para a Alternância Democrática frisou que ninguém ganhou as eleições com maioria absoluta e que também fará parte do próximo Governo do país. As declarações de Braima Camará no domingo, dia das eleições, foram das mais críticas, pois o líder do MADEM-G15 acusou o primeiro-ministro de "usar dinheiro público para corromper líderes de opinião no dia de reflexão".
Foto: DW/J. Carlos
PRS
O Partido da Renovação Social disse, esta terça-feira, que "é falsa a informação da maioria folgada que o PAIGC sustenta para semear a confusão"."Nenhuma das forças políticas atingiu sequer a barra dos 40 deputados", disse Vítor Pereira. No domingo, depois de votar, Alberto Nambeia, líder do PRS, disse que esta votação constitui um "balão de oxigénio" para o povo, que quer mudanças no país.
Foto: DW/B. Darame
FREPASNA
Baciro Djá considera que era o candidato com mais experiência nestas eleições e, por isso, o justo vencedor. No entanto, esta segunda-feira, o líder do partido Frente Patriótica para a Salvação Nacional (FREPASNA) foi o primeiro a reconhecer a derrota no pleito. "Consideramos que o nosso resultado foi péssimo e a responsabilidade máxima é minha, enquanto presidente do partido", disse.
Foto: Presidency of Guinea-Bissau
Comissão Nacional de Eleições (CNE)
Pouco depois do arranque do pleito, no domingo, José Pedro Sambú, presidente da CNE, disse aos jornalistas que o processo estava a decorrer num "clima de transparência e sem sobressaltos". O mesmo cenário foi reportado pela porta-voz da comissão, ao final do dia. Felizberta Vaz garantiu ainda que os "pequenos problemas" que surgiram foram resolvidos. A CNE divulga os resultados esta quarta-feira.
Foto: CNE
Presidente da República
Em declarações aos jornalistas, depois de votar, no domingo, José Mário Vaz garantiu que os observadores estavam "surpresos" pela positiva com a Guiné-Bissau. O Presidente guineense pediu à imprensa para que passasse lá para fora essa "grande imagem" da Guiné-Bissau como um país onde "não há problemas". "Considero a Guiné-Bissau hoje campeã da liberdade", disse.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
Primeiro-ministro guineense
Também no domingo, o primeiro-ministro guineense disse estar emocionado com a concretização de um processo eleitoral "difícil e intenso", no qual foi "necessária a intervenção da comunidade internacional". Aristides Gomes acrescentou ainda que, apesar das dificuldades, este foi um processo cheio de "pedagogia".
Foto: Präsidentschaft von Guinea-Bissau
Organização das Nações Unidas
David McLachlan-Karr, enviado das Nações Unidas à Guiné-Bissau, tem estado a reportar, com frequência, o ambiente vivido no país nestas eleições, nas redes sociais. Esta segunda-feira, o representante da ONU deu os parabéns à população guineense que, "em todo o país, saiu [às ruas] para votar pacificamente e com muito orgulho cívico".
Foto: DW/B. Darame
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na pessoa de Luiz Villarinho Pedroso, acompanhou de perto a votação. No domingo, dia da eleição, o chefe da missão da CPLP disse que estas eleições foram um "exercício cívico exemplar", que decorreu com a "maior tranquilidade e normalidade". O balanço preliminar do escrutínio será feito ao longo desta terça-feira (12.03).
Foto: DW/N. dos Santos
CEDEAO
À semelhança da ONU e da CPLP, também a CEDEAO deu nota positiva às eleições guineenses. Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira (11.03), Kadré Désiré Ouedraogo, chefe da Missão de Observação da CEDEAO, disse que as legislativas no país decorreram "de forma pacífica e transparente". Acrescentou ainda que espera que "todos [os partidos] aceitem os resultados".
Foto: DW/B. Darame
União Africana
Após o encerramento das urnas na Guiné-Bissau, Rafael Branco, chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana destacou a forma tranquila com que decorreu o processo e salientou a "participação cívica notável".
Foto: DW/Nélio dos Santos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Também as organizações locais fizeram chegar elogios. À semelhança do que foi dito pela CNE, Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, disse ter havido registo de "algumas falhas", mas "que foram imediatamente supridas". Tirando os atrasos na abertura das urnas em algumas mesas e trocas de cadernos eleitorais, "o processo decorreu de forma regular", disse.
Foto: DW/B. Darame
Sociedade Civil
Por último, a Célula de Monitorização do Processo Eleitoral salientou, esta segunda-feira, que "os eleitores compareceram em massa para exercer o seu direito de voto". Este grupo de monitorização das eleições, composto por 420 pessoas, espalhadas por todo o país, saudou também "a boa presença das forças de segurança nos centros de votação observados".