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Gana: O que esperar do regresso de Dramani Mahama?

Isaac Mugabi
10 de dezembro de 2024

No Gana, o povo votou na mudança. John Dramani Mahama é o novo Presidente do país, saído das eleições de sábado. Mahamudu Bawumia, candidato do Novo Partido Patriótico (NPP), aceitou a derrota “com toda a humildade”.

Empossamento de John Dramani Mahama como Presidente do Gana
Antigo Presidente do Gana, John Dramani Mahama, regressa ao mais alto cargo do país, depois de vitória nas últimas eleiçõesFoto: Getty Images /AFP

O antigo Presidente do Gana, John Dramani Mahama, deverá regressar ao mais alto cargo do país, depois do candidato do Novo Partido Patriótico (NPP), Mahamudu Bawumia, ter admitido a derrota no dia seguinte às eleições de sábado (07.12).

A derrota de Bawumia põe fim a oito anos de poder do NPP sob a direção do Presidente Nana Akufo-Addo, que abandonou o cargo depois de cumprir os dois mandatos legalmente permitidos, o segundo dos quais foi marcado pela pior crise financeira que o Gana enfrentou durante décadas.

Antes do anúncio oficial da Comissão Eleitoral do Gana, previsto para esta terça-feira, Bawumia reconheceu numa conferência de imprensa que o povo do Gana "votou pela mudança” e que, neste sentido, respeita a decisão popular "com toda a humildade”.

"Aceitámos a derrota como qualquer democrata consumado faria. Mas não abandonámos a luta para transformar o Gana e alargar as oportunidades a todos os sectores da nossa sociedade. Não seremos uma oposição perturbadora”, afirmou Mahamudu Bawumia.

"Permitam-me que diga que os dados da nossa própria comparação interna dos resultados eleitorais indicam que o antigo Presidente, ganhou as eleições presidenciais de forma decisiva”, reafirmou.

Dramani Mahama, do Congresso Nacional Democrático (NDC), na oposição, foi presidente entre julho de 2012 e janeiro de 2017. Falhou por duas vezes a tentativa de recuperar a presidência nas eleições de 2016 e 2020.  Ainda não se pronunciou publicamente, mas na sua conta no X confirmou ter recebido uma chamada de felicitações de Bawumia na sequência da sua "vitória enfática”.

Durante a campanha eleitoral, o antigo Presidente também foi criticado por aqueles que se lembram dos problemas financeiros do seu governo e, em especial, dos cortes de eletricidade que marcaram o seu mandato. Certo é que a crise económica alimenta o regresso de Mahama.

Implementar políticas corretas

No norte do Gana, de onde é originário o presidente recém-eleito, os habitantes locais esperam que ele traga paz à região, frequentemente ameaçada por grupos jihadistas do Sahel, e com isso o tão necessário desenvolvimento. Memunatu Mutawakil, uma comerciante da localidade de Tamale, no norte do Gana, falou à DW com esperança. 

Apoiantes do novo Presidente expressam orgulho e acreditam numa mudança de paradigma para pôr fim à crise económicaFoto: OLYMPIA DE MAISMONT/AFP

"Vamos beneficiar e o Norte vai passar a ser respeitado graças à sua eleição. Estamos orgulhosos dele e acreditamos que vai fazer baixar o custo de vida”, expressou Mutawakil convicta.

Alhassan Ziblim, analista político também do norte do Gana, disse à DW que Mahama irá abordar os desafios de segurança regional devido às suas bem conceituadas capacidades de mediação e posição internacional.

"O Presidente Mahama, enquanto presidente da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), mediou muitos conflitos na sub-região e, com esta experiência, acredito que terá um papel fundamental a desempenhar na aproximação da sub-região e na mediação dos conflitos internos do Gana”, asseverou.

Ziblim referiu que Mahama é também visto como "uma pessoa pacífica, um ótimo mediador, uma pessoa de fala mansa”. Por isso, acredita que "essa reputação local e internacional pode desempenhar um papel fundamental na forma como a liderança da sub-região é gerida”.

No entanto, o analista político alertou para o facto de o desenvolvimento da região depender das nomeações de Mahama para cargos-chave da sua administração. Para Alhassan Ziblim, se Mahama implementar as políticas corretas, "não importa se ele é do norte ou não, o norte do Gana desenvolver-se-á”.

Por sua vez, Laila Alhassan, comerciante e apoiante de Mahama na capital Acra, disse que a sua eleição marca o início de um novo capítulo. "Estamos muito felizes pela sua eleição; o construtor da nação está de volta para construir o Gana”, adiantou, mas deixando um apelo. "Precisamos de escolas, precisamos de hospitais e precisamos de trabalho. A economia 24 horas está aqui e veio para ficar”.

Este sentimento de esperança também é partilhado com grandes expetativas por Rukayat Musa. "Ele já fez muito em apenas quatro anos. Por isso sei que pode fazer mais”, disse, confiante.

Desafio económico

A eleição para Presidente e deputados teve como pano de fundo a pior crise de custo de vida do Gana numa geração. De acordo com analistas, estas eleições foram um teste decisivo para a democracia, numa região abalada pela violência extremista e por golpes de Estado.

Gana: O lado obscuro da democracia

02:44

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O Gana, o maior produtor de ouro do continente africano e o segundo exportador de cacau do mundo, viveu uma crise de incumprimento e de desvalorização da sua moeda que terminou com um resgate de 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,8 mil milhões de euros) do Fundo Monetário Internacional.

Embora a inflação tenha baixado de mais de 50% para cerca de 23% e outros indicadores macroeconómicos tenham estabilizado, muitos continuaram a considerar as dificuldades económicas do Gana como uma questão eleitoral fundamental.