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O Presidente alemão visita a "nova Etiópia"

Ludger Schadomsky
25 de janeiro de 2019

Em entrevista exclusiva com a DW em vésperas de uma visita oficial, o Presidente da República da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, disse que a Alemanha pretende apoiar o processo de reformas em curso na Etiópia.

Foto: DW/R. Oberhammer

O Presidente alemão Frank-Walter Steinmeier desloca-se no domingo (27.01) à Etiópia em visita oficial. Em entrevista exclusiva com a DW, o chefe de Estado, que conhece o país africano dos tempos em que exercia as funções de ministro dos Negócios Estrangeiros, falou sobre as expetativas da Alemanha no que toca o processo de reformas em curso naquele país.

Deutsche Welle (DW): Senhor Presidente, está é a sua terceira viagem à África. Já visitou o Gana, a Gâmbia, a África do Sul e o Botswana. Agora é a vez da Etiópia. Como avalia a esta deslocação a África em relação às outras que já fez?

Frank-Walter Steinmeier (FWS): É diferente, porque não se trata da minha primeira viagem à Etiópia. Conheci um pouco o país no passado, mas, claro, noutras circunstâncias políticas. Em menos de um ano, as pessoas na Etiópia viveram uma transformação de cortar o fôlego: o novo Governo lançou reformas que levaram a uma nova dinâmica de mudanças. Esta é a razão pela qual aceitei de imediato o convite que me foi feito pela Presidente Sahle-Work Zewde e o primeiro-ministro Abiy Ahmed. Não nos queremos limitar a respeitar de longe esta coragem de encetar o caminho da democratização. Quero demonstrar o nosso apoio no terreno como europeu e como alemão, para encorajar os responsáveis a prosseguir neste caminho. Por isso este é o momento indicado para visitara Etiópia.

A Alemanha apoia o ambicioso projeto de reformas do primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed Foto: Reuters/T. Negeri

DW: Regressa agora à "nova Etiópia” como Presidente, que visitou debaixo do antigo regime em 2014, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros. Mas os numerosos conflitos étnicos são uma provação para a Etiópia e suscitam sérias preocupações. Trata-se de um tema que pretende abordar com a sua homóloga e o primeiro-ministro Abiy?

FWS: Vamos com uma grande abertura, mas não somos ingénuos, porque conhecemos os desafios com os quais se debatem o primeiro-ministro e a Presidente: concluir a paz com o arqui-inimigo, a vizinha Eritreia, abrir as fronteiras encerradas há décadas, descriminalizar a oposição política, libertar os prisioneiros políticos, reformas legais para impedir a perseguição da população civil. Outros passos corajosos incluem a redução do número de ministros e a introdução da paridade de géneros no gabinete. Tudo isto são mudanças bastante revolucionárias em África. Mas é claro que todas estas mudanças não indicam o fim do desenvolvimento. Um país tão grande ainda marcado por antigas rivalidades, ainda com muitas feridas por sarar, exige muita persistência para que as mudanças possam conduzir ao sucesso. O que exige paciência por parte da população, para conceder tempo ao processo para dar frutos. Espero que a população tenha essa paciência. E espero que a chefia política mantenha a sua persistência.

DW: O primeiro-ministro Abiy é a figura de proa da transformação democrática da Etiópia. A muitos etíopes preocupa a dimensão das expetativas colocadas numa única pessoa e reclamam um reforço das instituições e regiões na Etiópia federal. O que pode a Alemanha – ela própria um Estado federado – contribuir neste âmbito?

FWS: Nós na Europa e na Alemanha conhecemos a diferença entre os esforços envidados em reformas e os frutos colhidos das reformas. Por isso não nos podemos limitar a observar de longe. Se considerarmos o curso acertado, então devemos apoiá-lo. Se nós na Alemanha, como um país com uma forte economia, quisermos prestar apoio, então estamos obviamente a falar de cooperação política, assessoria, ou ajuda na criação de instituições. Claro que o país também precisa de impulsos económicos. Por isso viajo acompanhado por uma delegação de investidores de empresários que eu sei que têm um verdadeiro interesse na Etiópia. Espero que também assim possamos apoiar o curso do primeiro-ministro Abiy.

Os conflitos étnicos na Etiópia preocupam a comunidade internacionalFoto: Getty Images/AFP/Z. Abubeker

DW: A propósito do empenho da Alemanha. Na semana passada o Parlamento federal apelou ao Governo de Berlim para que reforce o seu envolvimento no processo de paz entre a Etiópia e a Eritreia. Há muitos observadores, incluindo africanos, que consideram que a Alemanha podia assumir um papel mais significativo. Porque não assume a Alemanha esse papel e corresponde tão pouco às expetativas africanas?

FWS: Não considero que não estejamos a corresponder às expetativas. O caminho encetado pela Etiópia merece apoio. Mas cabe à Etiópia decidir se o nosso apoio pode ser nos moldes de uma contribuição para a pacificação do Corno de África e da normalização das relações entre a Etiópia e a Eritreia. É ao Governo etíope que compete assinalar que tipo de assistência requer para este ou aquele processo. Não acredito que haja uma falta de vontade por parte do lado alemão.

DW: Na agenda estão também consultas com a União Africana (UA). A Alemanha apoia há muitos anos o Conselho de Paz e Segurança da UA.  No entanto persistem as críticas que os Estados membros são demasiado solidários quando se trata de violações dos direitos humanos ou de fraudes eleitorais, como o que aconteceu recentemente na República Democrática do Congo. Também o ritmo de reformas é alvo de críticas, assim como a disciplina financeira. Estes são temas das consultas que manterá com o presidente da comissão Moussa Faki?

O Presidente alemão visita a "nova Etiópia"

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FWS: Aplica-se à União Africana o mesmo que se aplica à União Europeia: a sua força depende da vontade dos seus Estados membros. Entendo a crítica feita à UA, mas ao mesmo tempo digo que se os seus membros não lhe conferem competências, ela não pode contribuir para a mudança em África. Ainda assim constato na UA desenvolvimentos que aprecio e reconheço, e que espero prossigam na mesma senda, especialmente na política externa e de segurança. A UA é hoje muito mais eficaz em questões de segurança do que há dez ou vinte anos.

DW: Nos últimos anos falou-se muito da África como "continente das oportunidades”. A Alemanha foi anfitriã da cimeira entre o G20 e a África. Foram lançadas diversas iniciativas como os "Compacts with Africa” (CwA). Mas o público continua a ver a África sobretudo como o continente de fraude eleitoral no Congo, guerra civil no Sudão do Sul e emigração. Para quando a parceira entre iguais?

FWS: É algo que não se pode encomendar. Só podemos contribuir para que a visão europeia sobre a África se torne mais esclarecida. Incluindo a definição do termo "África”. Não há uma África, há muitas Áfricas. Acresce que a Europa tem que reforçar a sua presença e – em nome da igualdade – procurar por vias de cooperação que o parceiro sinta como justas e adequadas. Há áreas em que o conseguimos, mas outras em que lamentavelmente ainda não. E eu espero que nos países africanos cresça a vontade e a ambição de reagir com mais autoconfiança e menos acusação à aproximação dos Estados europeus. Uma parceria entre iguais é um processo mútuo, mas a maior contribuição terá que vir dos europeus.

 

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