João Lourenço quer esclarecimento sobre ausência de deputada
Lusa | kg
18 de maio de 2019
Tchizé dos Santos, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, não comparece ao Parlamento há mais de 90 dias. Deputada do MPLA está no Reino Unido e exige destituição de João Lourenço.
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O Presidente de Angola, João Lourenço, afirmou este sábado (18.05) que a ausência de mais de 90 dias da deputada Tchizé dos Santos do Parlamento deve ser esclarecida pelo Presidente da Assembleia Nacional. A deputada é membro do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder, e é filha do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
"Eu acho que é uma questão a ser respondida pelo presidente da Assembleia Nacional [Fernando Piedade Dias dos Santos]", disse João Lourenço.
A 7 de maio, o Grupo Parlamentar do MPLA enviou uma carta a Tchizé dos Santos a sugerir à deputada que "suspenda" o seu mandato na Assembleia Nacional angolana por se encontrar ausente do país há mais de 90 dias. Segundo o Regimento da Assembleia Nacional de Angola e o Estatuto de Deputado, os três meses de ausência implicam a suspensão do mandato. A suspensão pode ser solicitada pela própria deputada, pelo Grupo Parlamentar do partido a que pertence, ou ainda pelo presidente do Parlamento.
Tchizé dos Santos contestou o conteúdo da carta e recusou pedir a suspensão, alegando que vive no Reino Unido por motivos de segurança. Paulo Pombolo, porta-voz do MPLA, lembrou que o partido "não tem por norma" discutir os assuntos internos na "praça pública", tanto mais que Tchizé dos Santos integra o Comité Central do MPLA, cujos membros têm responsabilidades acrescidas, superiores às dos militantes de base.
"A camarada Tchizé dos Santos, como membro do Comité Central, sabe que há regras e normas a cumprir e está a portar-se mal", afirmou lembrando que tudo começou com uma carta do grupo parlamentar do MPLA. "O que fizemos [na carta do grupo parlamentar] foi facilitar o trabalho da deputada [sugerindo que solicitasse a suspensão temporária do mandato]. Já passaram 90 dias e o MPLA não pode continuar sem um deputado no Parlamento. As regras são do Parlamento e não do partido", sublinhou.
O porta-voz do MPLA disse não compreender por que Tchizé dos Santos não solicita a suspensão do mandato de deputada, para o qual foi eleita nas presidenciais e legislativas de agosto de 2017.
Pedido de destituição do Presidente
Em carta dirigida ao Presidente da Assembleia Nacional, Tchizé dos Santos alegou razões de saúde dos filhos e não questões de insegurança ou de perseguições. "Não faz sentido. Não é verdade", garantiu Paulo Pombolo.
Na contestação à proposta do Grupo Parlamentar do MPLA, Tchizé dos Santos acusou João Lourenço de estar "a fazer um "golpe de Estado às instituições" em Angola e defendeu a respetiva destituição. Na ocasião, a deputada assumiu que está "involuntariamente" fora do país devido à doença da filha e que há vários meses está a ser "intimidada" por dirigentes do partido no poder em Angola desde 1975.
A deputada disse ainda que está à procura de advogados em Luanda para avançar ao Tribunal Constitucional com uma participação sobre o seu caso, e ainda com "um pedido de 'impeachment' [destituição]" de João Lourenço no Parlamento.
"O Presidente da República é conivente porque nada faz. Está a haver um crime contra o Estado. Isto é um caso para 'impeachment'. Este Presidente da República merece um 'impeachment'", afirmou Tchizé dos Santos.
Em reação, o porta-voz do MPLA considerou "muito graves" as declarações de Tchizé dos Santos. Paulo Pombolo acrescentou que o assunto vai ser ainda debatido pela Comissão de Disciplina, pelo que não se pode antecipar seja o que for sobre uma eventual decisão de órgãos que são "independentes e autónomos".
Quem são as mulheres mais poderosas de África?
Nove mulheres africanas dão que falar no mundo da política e dos negócios, geralmente dominado por homens. Saiba quem são e como se têm destacado.
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Primeira mulher Presidente em África
Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher eleita democraticamente num país africano. De 2006 a 2018, governou a Libéria, lutando contra o desemprego, a dívida pública e a epidemia do ébola. Em 2011, ganhou o Prémio Nobel da Paz por lutar pela segurança e direitos das mulheres. Atualmente, lidera o Painel de Alto Nível da ONU sobre Migração em África.
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Um grande passo para as mulheres etíopes
Sahle-Work Zewde foi eleita, em outubro, Presidente da Etiópia. O poder no país é exercido pelo primeiro-ministro e o Conselho de Ministros. Entretanto, a eleição de uma mulher para a cadeira presidencial é considerada um grande avanço na sociedade etíope, onde os homens dominam os negócios e a política. Mas isto está a mudar. Hoje em dia, metade do Governo é formado por mulheres.
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Mulher mais rica de África
Isabel dos Santos tem uma reputação controversa em Angola. É filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que a colocou na administração da Sonangol em 2016. Mas o novo Presidente, João Lourenço, luta contra o nepotismo e despediu Isabel dos Santos. Mesmo assim, dos Santos ainda detém muitas participações empresariais e continua a ser a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes.
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Magnata do petróleo e benfeitora da Nigéria
1,6 mil milhões de dólares norte-americanos é a fortuna da nigeriana Folorunsho Alakija. A produção de petróleo faz com que a dona da empresa Famfa Oil seja a terceira pessoa mais rica da Nigéria. Com a sua fundação, a mulher de 67 anos apoia viúvas e órfãos. Também é a segunda mulher mais rica de África, apenas ultrapassada pela fortuna de Isabel dos Santos de 2,7 mil milhões (segundo a Forbes).
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Oficial da dívida da Namíbia
Na Namíbia, uma mulher lidera o Governo: desde março de 2015, Saara Kuugongelwa-Amadhila é primeira-ministra – e a primeira mulher neste escritório na Namíbia. Anteriormente, foi ministra das Finanças do país e perseguiu uma meta ambiciosa: reduzir a dívida nacional. A economista é membro da Assembleia Nacional da Namíbia desde 1995.
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Discrição e influência
Jaynet Kabila é conhecida pela sua discrição e cuidado. Irmã gémea do ex-Presidente congolês Joseph Kabila, é membro do Parlamento da República Democrática do Congo e também é dona de um grupo de meios de comunicação. Em 2015, a revista francesa Jeune Afrique apontou-a como a pessoa mais influente do Governo na RDC.
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Triunfo diplomático
A ex-secretária de Estado do Ruanda, Louise Mushikiwabo, será secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia em 2019. Isto, mesmo depois de o país ter assumido o inglês como língua oficial há mais de 10 anos. A escolha de Mushikiwabo para o cargo é vista como um triunfo diplomático. O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos apoiantes da sua candidatura.
Outra mulher influente: a nigeriana Amina Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas desde 2017. Entre 2002 e 2005, já tinha trabalhado na ONU no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Mais tarde, foi assessora especial do então secretário-geral, Ban Ki-moon, e, por um ano, foi ministra do Meio Ambiente na Nigéria.
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A ministra dos recordes no Mali
Recente no campo da política externa, Kamissa Camara é a mais jovem na política e primeira ministra do Exterior da história do Mali. Aos 35 anos, foi nomeada para o cargo pelo Presidente Ibrahim Boubacar Keïta e é agora uma das 11 mulheres no Governo. No total, o gabinete maliano tem 32 ministros.