Presidente angolano exige inquérito sobre tragédia no Uíge
Lusa | AFP | DPA | kg
11 de fevereiro de 2017
Abertura do campeonado angolano de futebol foi marcada por incidente que deixou 17 mortos e ao menos 60 feridos. Torcedores morreram pisoteados ou asfixiados ao forçar entrada no estádio.
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O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, lamentou este sábado (11.02) a morte de 17 pessoas no Estádio Municipal 4 de Janeiro, na cidade de Uíge, no norte do país, e ordenou a abertura de um inquérito para apurar as causas da tragédia. Ao menos 60 pessoas ficaram feridas.
O incidente ocorreu esta sexta-feira no início do jogo inaugural do campeonato angolano de futebol (Girabola) entre o Santa Rita de Cássia e o Recreativo do Libolo. As vítimas, incluindo crianças, morreram ao forçar a entrada no estádio lotado, o que fez o portão ceder. Algumas pessoas teriam sido pisoteadas e a maioria sofrido asfixia.
Em nota, o chefe de Estado exprimiu solidariedade com as famílias das vítimas na sequência da tragédia e instruiu o governo provincial a prestar apoio aos feridos. O Ministério da Juventude e Desportos solicitou à Federação Angolana de Futebol, à Associação de futebol local e às autoridades da província do Uíge que tomem as medidas necessárias.
A partida não foi interrompida e terminou em 1 a 0, com vitória dos forasteiros. Apesar da vitória, o Recreativo do Libolo expressou consternação. "Enquanto dentro do terreno, os jogadores disputavam cada lance, lá fora, os adeptos tentavam entrar no estádio e um dos portões terá cedido à pressão, fazendo com que muita gente fosse literalmente esmagada pela força da multidão, ávida de assistir ao encontro", explica comunicado publicado no site da equipa.
"Culpa é da polícia"
O presidente do Santa Rita, Pedro Nzolonzi, responsabilizou a polícia pela tragédia. "Ocorreu um erro grave da polícia, ao deixar a população aproximar-se do campo. Muitos não queriam pagar e os que tinham bilhetes não conseguiam entrar. Depois começou a confusão. É muito triste", explicou o dirigente à agência Lusa.
O líder do clube promovido ao Girabola afirmou que as forças de segurança deveriam ter acautelado a chegada dos adeptos. "Uíge é um povo que gosta de futebol e todo o mundo queria entrar no campo. Foi uma falha grave. A culpa disto tudo é da polícia. E era fácil evitar. Era só alargar o cordão de segurança", disse.
Nzolonzi assegurou ter cumprido a "obrigação de enviar cartas às forças de segurança" com antecedência para avisar sobre a necessidade de policiamento no local.
Comoção
Os treinadores portugueses de Recreativo do Libolo e Santa Rita, Vaz Pinto e Sérgio Traguil, respetivamente, disseram estar muito abalados com a tragédia no jogo entre as duas equipas.
"É uma coisa que ultrapassa qualquer resultado. Não interessa nem vitória, nem derrota. O meu pensamento está com as famílias que viram os seus filhos falecer desta forma, pessoas que tentaram a todo o custo ver os seus ídolos. É uma tragédia enorme, estou devastado. Nunca pensei que fosse passar por um momento destes", afirmou Sérgio Traguil à Lusa.
Vaz Pinto é da mesma opinião. "Toda a gente ficou muito triste com a notícia que estávamos a receber, porque não era isto que desejávamos para início de campeonato, obviamente", afirmou. "Parecia-me uma confusão momentânea, porque havia muita gente para entrar."
Os dois treinadores foram informados sobre a tragédia apenas ao final da partida. "Se esta informação fosse passada nós tínhamos a obrigação de saber. Nem no início do jogo, nem no intervalo, nada", referiu Sérgio Traguil.
Vaz Pinto apela que a tragédia desperte uma reflexão das autoridades no futebol de Angola. "É bom que se criem condições de segurança de modo a que isto não volte a acontecer. Havia muitas crianças no estádio? Espero que se tomem medidas".
Eusébio: O primeiro rei africano do futebol
O moçambicano Eusébio da Silva Ferreira, também conhecido por Eusébio, foi o primeiro africano a tornar-se uma estrela de futebol em todo o mundo. A passagem pelo Benfica e pela seleção portuguesa fizeram dele uma lenda.
Foto: F.Leon/AFP/GettyImages
Homenagem tardia para o craque
O moçambicano Eusébio é considerado a primeira super-estrela africana do futebol. Graças aos seus inúmeros golos, o Benfica de Lisboa venceu os maiores sucessos da história do clube. Da mesma sorte beneficiou a seleção nacional portuguesa, que com Eusébio viveu nos anos 60 do século passado o primeiro auge. Ainda assim, demorou para que o trabalho do jogador fosse reconhecido em Portugal.
Foto: picture-alliance/Pressefoto UL
Eusébio, o Pelé africano
Eusébio é considerado um dos três melhores jogadores de futebol do século passado, juntamente com o brasileiro Pelé (à esquerda) e com o alemão Franz Beckenbauer. Nasceu numa família pobre, em 1942, e cresceu em Maputo, quando a cidade ainda se chamava Lourenço Marques, sob o domínio colonial português. Aos 17 anos começou a jogar no Sporting de Lourenço Marques.
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Benfica, o clube do coração
Quando se mudou para Portugal em 1960, Eusébio não começou a jogar, tal como se esperava, pelo Sporting de Lisboa, o clube-mãe do Sporting de Lourenço Marques. Eusébio integrou, precisamente, a equipa rival, o Sport Lisboa e Benfica. A operação da contratação foi mantida em segredo. Anos depois do fim da sua carreira enquanto jogador, Eusébio continuou ativo como conselheiro do clube.
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No topo da Europa
Eusébio colocou o Benfica no topo do futebol europeu. A equipa chegou várias vezes à final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o precursor da Liga dos Campeões. Em 1962, o Benfica de Eusébio chegou mesmo a vencer o troféu. Porém, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1968, no Estádio de Wembley (foto), o Benfica perdeu frente ao Manchester United por 1:4, já no prolongamento.
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Mundial de 1966: O maior sucesso português
Pode dizer-se que foi graças a Eusébio que Portugal chegou em 1966 ao terceiro lugar do Campeonato Mundial de Futebol, o melhor resultado de sempre da seleção das quinas na competição. Esta foi também a primeira participação de Portugal no Mundial. O país falhou a final, ao perder nas meias-finais - na foto - por 2:1 contra a Inglaterra, a 26 de julho de 1966, no Estádio de Wembley, em Londres.
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Brasil e Pelé no chão
No Mundial de 1966: O brasileiro Pelé está ferido no chão e Eusébio procura reconfortá-lo. Neste jogo, Portugal venceu o Brasil por 3:1, com dois golos de Eusébio, afastando a equipa sul-americana na fase de grupos. A partida, disputada no estádio Goodison Park, em Liverpool, levou Portugal a sair das eliminatórias como primeiro do grupo. Com nove golos, Eusébio foi o melhor jogador do campeonato.
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Quatro golos decisivos contra a Coreia do Norte
Eusébio tornou-se uma lenda viva em 1966. A 23 de julho, Portugal jogava contra a Coreia do Norte e perdia por 3:0. Mas quatro golos do "Pantera Negra", como também ficou conhecido, inverteram o sentido do jogo. Portugal derrotou a equipa asiática por 5:3 e apurou-se para a semifinal. Na foto, Eusébio bate o guarda-redes norte-coreano Lee Chang-myung.
Foto: picture-alliance/dpa
Lesões
Na foto, durante o jogo contra a Hungria, a 13 de julho de 1966, em Manchester, Eusébio é atingido na cabeça. Porém, Portugal acabou por ganhar por 3:1. Ao longo da carreira, Eusébio sofreu vários problemas, especialmente depois de deixar o Benfica, em 1975, e jogou para clubes mais pequenos em Portugal e, mais tarde, no Canadá, Estados Unidos e México. Muitas vezes, estava fora de forma.
Foto: picture-alliance / United Archives/TopFoto
Bota de Ouro
Eusébio (esquerda) recebe a "Bota de Ouro", a 16 de setembro de 1968, como melhor jogador da Europa. O húngaro Antal Dunai recebeu a de prata. No total, Eusébio marcou 1137 golos durante a sua carreira profissional. A sua reputação é conotada, provavelmente, com menos elegância do que a de Pelé ou Beckenbauer, mas Eusébio é hoje considerado o melhor jogador de Portugal de todos os tempos.
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Embaixador de Portugal
Eusébio com o ex-técnico da seleção alemã, Jürgen Klinsmann, no Campeonato da Europa de 2004, em Portugal. Depois da carreira de jogador, Eusébio trabalhou quase sempre ao serviço do futebol português. O antigo jogador acompanhava a equipa portuguesa como assistente técnico. Apesar da fama generalizada, os companheiros descrevem-no como uma pessoa humilde e com os pés no chão.
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Despedida no Estádio da Luz
A poucos dias de completar 72 anos, Eusébio morreu de madrugada, a 5 de janeiro de 2014, vítima de insuficiência cardíaca. A estátua de bronze que eterniza o antigo jogador à porta do Estádio da Luz, em Lisboa, e que foi descerrada há quase 22 anos, é o palco privilegiado de todas as homenagens ao avançado que inscreveu o seu nome na lista dos melhores futebolistas de sempre.