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Ucrânia: João Lourenço pede cessar-fogo para evitar escalada

Lusa | ms
15 de março de 2022

O Presidente angolano apela a um cessar-fogo na guerra na Ucrânia, para evitar uma "escalada" até ao ponto de não retorno. Para conflitos em África, João Lourenço pede uma "ação concertada" dos países e soluções locais.

Foto: Alexander Nemenov/AFP/Getty Images

"Como sempre o fizemos com relação às vítimas de outros conflitos em África, no Médio Oriente ou em outros cantos do mundo, também hoje estendemos a nossa solidariedade para com as vítimas civis do conflito que assola o território ucraniano", afirmou João Lourenço, ao discursar na noite de segunda-feira (14.03), no Palácio Presidencial cabo-verdiano, na Praia, durante a visita de Estado que está a realizar a Cabo Verde.

Angola mantém relações históricas com a Rússia desde o período anticolonial, mesmo após a desintegração da URSS, com João Lourenço a lamentar o regresso da guerra ao continente europeu no banquete oficial oferecido pelo Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves.

"O mundo acordou a 24 de fevereiro com o ressurgir da guerra na Europa, continente palco das duas guerras mundiais que o planeta conheceu. Embora não seja a primeira vez que a paz é quebrada na Europa, eis que 77 anos depois da segunda guerra mundial, que foi responsável por 50 milhões de vidas humanas perdidas, o 'velho continente' volta a enfrentar de novo esta realidade que a todos preocupa, pelas repercussões que pode atingir, se não houver contenção da parte daqueles diretamente envolvidos e dos líderes mundiais no geral", apontou.

Mediação "neutra e credível"

Para João Lourenço, "talvez tenha havido nos últimos anos a oportunidade de dialogar e de negociar para se prevenir a guerra". Contudo, "não tendo sido possível fazê-lo antes, há a necessidade, hoje, de se evitar a todo o custo a escalada do conflito para nunca se chegar ao ponto de não retorno".

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"Saudamos e encorajámos todos os líderes mundiais que de forma incansável se desdobram em múltiplos contactos diplomáticos na busca da paz e da segurança na Europa. Confiamos numa mediação internacional neutra e credível, que seja aceite pela Rússia e pela Ucrânia, e que contribua para se alcançar um cessar-fogo definitivo e a abertura de negociações alargadas para uma paz duradoura para todo o espaço europeu", disse o chefe de Estado angolano.

João Lourenço, que iniciou segunda-feira (14.03) o programa oficial de três dias de visita a Cabo Verde, acrescentou que "com a crise energética e alimentar que se vislumbra à escala mundial, Angola está aberta ao investimento estrangeiro no setor energético do petróleo e do gás", bem como no setor agrícola, de produção de cereais e outros produtos alimentares exportáveis, "a julgar pela disponibilidade de terras aráveis, bom clima e recursos hídricos abundantes".

A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 564 mortos e mais de 982 feridos entre a população civil e provocou a fuga de cerca de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

Soluções locais para conflitos em África

O Presidente angolano também se mostrou preocupado com a situação de segurança em África nos últimos tempos e pediu uma "ação concertada" dos Estados africanos para a procura e implementação de "soluções" locais.

"O continente não se deve iludir contando que as soluções virão da Europa, da Ásia ou da América, as soluções devem ser encontradas e implementadas por nós, os filhos de África", defendeu Lourenço, numa intervenção numa sessão especial na Assembleia Nacional de Cabo Verde, enquadrada no programa da visita que está a efetuar ao arquipélago.

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O chefe de Estado disse estar preocupado com a situação de segurança em África ultimamente, com o alastrar de ações de terrorismo nos países da região do Sahel, desde a Líbia, no Corno de África, na República Democrática do Congo e, mais recentemente, em Moçambique.

"A remoção do poder pela força das armas, de Governos legitimados nas urnas e eleições democráticas, muitas vezes estimuladas e financiadas por interesses difusos, devem merecer também uma ação concertada dos Estados africanos a nível regional e continental", sugeriu.
 O Presidente angolano enumerou iniciativas tomadas para inverter a tendência, nomeadamente uma iniciativa de Angola de promover uma cimeira sobre o terrorismo e as mudanças inconstitucionais em África, que terá lugar na Guiné Equatorial, em 28 e 29 de maio próximo.

"Parceria estratégica" com Cabo Verde

Relativamente às relações com Cabo Verde, João Lourenço reafirmou a vontade de estabelecer uma "verdadeira parceria estratégica", com cooperação em domínios como a administração pública, educação, agricultura, transportes, turismo, serviços e a nível parlamentar.

"Os nossos dois países dispõem de recursos e de um enorme potencial humano para que se explore muito mais as áreas de cooperação em que somos mais fortes", traçou, prevendo uma aproximação entre os dois países com a iminente reabertura da rota aérea Luanda-Praia-Luanda.

O Presidente angolano chegou no domingo à Praia e iniciou hoje o programa oficial da visita de Estado a Cabo Verde, retribuindo a que foi realizada em janeiro último pelo Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, a Luanda.

Esta terça-feira, João Lourenço viaja para o Mindelo, na ilha de São Vicente, onde vai visitar pontos de interesse económico, como a empresa de conservação de pescado Frescomar e a Estação de Produção de Água dessalinizada, além de receber as chaves da cidade. A partida de Cabo Verde, a partir da ilha de São Vicente, está prevista para quarta-feira.

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