É a primeira visita oficial do Presidente João Lourenço a um país ocidental. Em Paris, chefe de Estado angolano deverá assinar acordos nos ramos da agricultura, defesa e formação de quadros.
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O Presidente angolano, João Lourenço, está durante três dias em França, a convite do seu homólogo, Emmanuel Macron. Lourenço viaja acompanhado por mais de uma dezena de ministros e uma delegação de 20 empresários.
Macron recebe o Presidente angolano esta segunda-feira (28.05). Após o encontro, que inclui almoço, deverá haver uma conferência de imprensa conjunta.
O analista político angolano, Olívio Kalumbu, considera que esta visita espelha uma "nova visão da diplomacia económica".
"A França é uma potência militar e uma das potências económicas da União Europeia", diz. "Foi um dos países que, na sua tomada de posse, o Presidente João Lourenço evocou como sendo a sua prioridade no ponto de vista da diplomacia angolana. Julgo que agora só se vem formalizar aquilo que foi a sua posição aquando da tomada de posse."
Isto, depois de "muitos altos e baixos" na relação entre os dois países, acrescenta Kalumbu.
Angola publicita "reforma"
Nos anos 90, o processo "Angolagate" sobre a venda de armas a Angola, envolvendo várias figuras da elite francesa, afrouxou os laços entre os dois países. Mas as relações voltaram entretanto à normalidade, com o encerramento do caso pela Justiça francesa.
Em 2014, o ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, visitou França. Um ano depois foi a vez do então chefe de Estado francês François Hollande visitar Angola para reforçar a cooperação bilateral.
Agora, o novo Presidente angolano, João Lourenço, vai a Paris apresentar o seu programa de reforma para atrair mais investimento estrangeiro, refere o presidente da Associação Empresarial de Angola, Francisco Viana.
"Nós sabemos que o Governo angolano está a fazer um esforço no sentido de pagar algumas despesas que ainda estavam por pagar. Portanto, isto cria automaticamente um bom ambiente, um ambiente de esperança. Acreditamos, também, que o senhor Presidente da República de Angola, saberá apresentar à comunidade empresarial francesa e a França, no seu todo, o seu programa de reforma, já iniciado aqui em Angola e que irá fazer de Angola um país melhor para se viver e investir."
Em abril, o Parlamento angolano aprovou, na generalidade, uma proposta de lei para reduzir a burocracia e facilitar o investimento privado em Angola, abolindo, por exemplo, montantes mínimos de investimento ou a obrigação de um sócio angolano.
O combate à corrupção deve ser igualmente uma prioridade, sublinha o empresário Francisco Viana.
"O que tem falhado é exatamente o sistema que está implementado em Angola, em que uma boa parte das instituições não funciona", afirma. "As instituições de crédito, as instituições financeiras, não estão a conseguir a cumprir o seu papel. Há demasiada corrupção no sistema angolano, e o senhor Presidente da República já iniciou o combate ao tráfico de influência, inclusivamente à corrupção e peculato. É preciso que esse combate continue.”
João Lourenço termina a visita a França a 30 de maio. De 04 a 05 de junho viajará até à Bélgica, onde está prevista a assinatura de um acordo sobre a isenção recíproca de vistos em passaportes diplomáticos e de serviço, bem como sobre a facilitação de vistos para empresários.
Desde que assumiu a Presidência, João Lourenço já realizou visitas oficiais a vários países africanos, como a África do Sul, República Democrática do Congo, Zâmbia ou Namíbia.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".