Jorge Carlos Fonseca diz que CPLP precisa acompanhar com mais atenção as eleições nos seus Estados membros. Após missão de observação eleitoral na Guiné Equatorial, a oposição afirma que organização foi "comprada".
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A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deve zelar no futuro por uma "avaliação mais objetiva" dos processos eleitorais para o qual é chamada como observador. Este é o recado que o Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, deixou em Lisboa esta quinta-feira (23.11), durante visita oficial.
Fonseca referia-se às eleições legislativas e municipais realizadas no passado dia 12 deste mês na Guiné Equatorial, e qualificadas pela oposição ao regime de Obiang Nguema como um "processo fraudulento e pouco transparente".
O Presidente de Cabo Verde pediu à CPLP para acompanhar com mais atenção os processos eleitorais nos seus Estados membros. Jorge Carlos Fonseca considera "fundamental" a defesa dos valores que a organização lusófona partilha como um dos fatores de estabilidade.
"É fundamental que haja estabilidade, mas num quadro dos valores que a CPLP partilha. Isto é, de respeito pelos valores como a democracia, transparência e liberdade de atos eleitorais. Isso vale tanto para o Zimbabwe como vale para a Guiné Equatorial. Eu creio que a CPLP deve certificar-se e ter, digamos, uma avaliação objetiva e segura sobre este tipo de eleições. A Comunidade ergue-se na base de valores e de princípios", ressaltou.
Oposição da Guiné Equatorial critica a CPLP
"Este deve ser o critério vetor da intervenção da CPLP em qualquer circunstância", sublinha o chefe de Estado cabo-verdiano, quando confrontado pela DW África sobre as críticas feitas à Comunidade, cuja missão de observações chefiada pelo ex-ministro das Relações Exteriores de Cabo Verde, Jorge Borges, não apresentou no seu relatório preliminar qualquer crítica ao processo eleitoral na Guiné Equatorial.
24.22.17 Críticas CPLP - GE neu - MP3-Mono
Entretanto, os opositores do regime de Teodoro Obiang Nguema manifestaram-se desiludidos e acusaram a organização dos países lusófonos, sediada em Lisboa, de ter sido comprada quando veio dizer que as eleições legislativas e autárquicas de 12 de novembro foram "livres, justas e transparentes".
Jorge Carlos Fonseca reafirmou que a CPLP deve pugnar pelo respeito pelos valores da democracia. Da mesma forma, disse que os progressos no plano político também devem ser vislumbrados em outras organizações internacionais, nomeadamente a União Africana e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
"Chegada tardia"
O chefe do Executivo de Cano Verde falou à DW após um encontro na sede da CPLP, esta quinta-feira, no âmbito da visita oficial de quatro dias que efetua a Portugal, a convite do seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa. Por razões protocolares não foi possível obter uma reação do chefe de Estado português.
Maria do Carmo Silveira, secretária executiva da CPLP evitou comentar as críticas tecidas pela oposição da Guiné Equatorial e por organizações não governamentais, como a Transparência Internacional. "O que dizem as pessoas nós não podemos controlar, naturalmente", declarou.
A executiva são-tomense ao serviço da organização lusófona esclareceu que, a convite do governo da Guiné-Equatorial, a CPLP enviou sim uma missão de observação eleitoral. No entanto, "tendo em conta a chegada tardia da referida missão ao país, ela só pôde participar no próprio ato de votação".
"De acordo com aquilo que nos foi reportado pela missão, as eleições decorreram num clima de tranquilidade, conforme aquilo que está legalmente estabelecido", comentou a secretária executiva da CPLP.
Segundo Maria do Carmo, o processo eleitoral já foi concluído, depois da divulgação dos resultados oficiais. E neste momento, "caberá à missão da CPLP preparar o seu relatório final, no qual constarão, certamente, algumas observações e recomendações para a melhoria do ato eleitoral no futuro".
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.