Cyril Ramaphosa nos EUA para melhorar relações bilaterais
20 de maio de 2025
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, iniciou na segunda-feira uma visita aos Estados Unidos, onde se vai encontrar com o Presidente norte-americano, Donald Trump, na quarta-feira (21.05), para uma conversa crucial que determinará o futuro das relações entre os dois países.
Esta é a primeira vez que Trump recebe um líder africano na Casa Branca desde que tomou posse em janeiro. Durante o seu primeiro mandato (2017-2021), nunca o visitou enquanto presidente.
O seu homólogo Ramaphosa fez a sua última visita de trabalho a Washington em 2022, quando a administração de Joe Biden ainda estava a moldar a política dos EUA. Contudo, desde o início de 2025, as relações entre os Estados Unidos e a África do Sul deterioraram-se rapidamente, impulsionadas por divisões ideológicas, alianças geopolíticas e conflitos políticos internos.
"A visita representa uma oportunidade para redefinir a relação estratégica entre os dois países”, declarou a Presidência num comunicado.
Reduzir as tensões com os EUA
No entanto, alguns analistas alertaram para o facto de a visita de três dias de Ramaphosa dificilmente ser fácil, receando que se torne hostil ou conflituosa.
"O objetivo é tentar limpar a imagem da África do Sul e eliminar a perceção que Trump está a transmitir sobre a África do Sul como um país onde está a ocorrer um genocídio contra os afrikaners brancos”, afirma Fredson Guilengue, diretor do Programa Regional da Fundação Rosa Luxemburgo para a África Austral, em Joanesburgo.
A visita acontece poucos dias depois de os Estados Unidos terem acolhido um grupo de 59 "refugiados” sul-africanos brancos que o Presidente Donald Trump afirma estarem a ser perseguidos na África do Sul devido à sua raça e a enfrentar um "genocídio”. Os refugiados viajaram para os EUA ao abrigo de um plano especial de recolocação e serão autorizados a instalar-se no país.
O governo de Ramaphosa nega estas alegações e diz que os africanos brancos, que possuem mais de 70% das terras, apesar de representarem apenas 7% da população, não são discriminados.
Ramaphosa também vai aos EUA para tentar apresentar um novo quadro comercial que irá reger o comércio entre os dois países, especialmente no período pós AGOA”, diz Guilengue à DW.
A Lei do Crescimento e das Oportunidades (AGOA), o acordo comercial entre os Estados Unidos e os países elegíveis da África Subsariana, expira a 1 de outubro de 2025.
Novos acordos comerciais?
De acordo com os especialistas, as recentes tarifas comerciais impostas por Trump assinalaram o fim da AGOA - o acordo comercial que deveria ajudar as economias africanas a desenvolverem-se através do acesso preferencial aos mercados dos EUA.
A indústria automóvel sul-africana sofre substancialmente com estas tarifas devido ao elevado nível de exportações para os EUA e espera-se que Ramaphosa possa alterar a sua posição relativamente às tarifas que Trump impôs à África do Sul.
As tensões aumentaram devido à recente política comercial de Trump, que atingiu duramente a África do Sul, mas também devido ao corte no financiamento dos EUA para projetos de desenvolvimento.
O facto de a África do Sul não ter tomado posição contra a Rússia na guerra quando esta invadiu a Ucrânia - como se esperava também dos EUA - e de ter laços estreitos com a China alimentou o conflito, diz Guilengue.
As relações deterioraram-se ainda mais quando a África do Sul instaurou um processo contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça de Haia, alegando que Israel está a cometer genocídio contra os palestinianos na Faixa de Gaza.
"Ameaça os americanos a nível mundial e o facto de a África do Sul ser um dos membros ativos do grupo BRICS não é visto de forma positiva pelos Estados Unidos”, afirma Guilengue.
O BRICS é uma organização intergovernamental composta por dez países - Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Indonésia, Irão e Emirados Árabes Unidos.
Sul-africanos céticos
Tendo em conta o clima político tenso, como é que os sul-africanos encaram a viagem de Ramaphosa? "Há um pequeno segmento da sociedade sul-africana que acredita que é importante que Ramaphosa aproveite esta oportunidade para recuperar a independência da África do Sul, que tem o direito de escolher os parceiros com quem quer trabalhar e definir a sua própria diplomacia”, diz Guilengue.
Mas um segmento mais vasto da sociedade está muito cético em relação à reunião do Presidente, tendo em conta a forma como Trump lida com os seus opositores, diz ele, apontando a humilhação que o Presidente ucraniano Zelensky sofreu quando visitou Trump na Sala Oval em fevereiro.
A Presidência em Pretória confirmou que o convite a Ramaphosa foi iniciado por Trump. Guilengue argumenta que Trump ainda pode reconhecer a África do Sul como o seu maior parceiro comercial no continente.
Para Daniel Silke, analista político e diretor da Political Futures Consultancy, sediada na Cidade do Cabo, um fator importante é a liderança da África do Sul no G20 este ano.
África do Sul líder do G20
"O G20 - apesar dos comentários e das tentativas dos EUA de se retirarem das organizações e organismos globais - continua a ser um dos mais importantes”, afirma Silke à DW.
É neste contexto que a África do Sul se torna relevante em termos de importância global, pelo que é razoável que ambas as partes se reúnam em Washington, acrescentou.
Ramaphosa poderá tentar convencer Trump a participar na reunião do G20 em Joanesburgo, em novembro, a que o Presidente dos EUA tenciona boicotar.
Silke não acredita que a visita da África do Sul seja oportuna e que tenha algo a ver com a partida de refugiados africanos brancos para os EUA, que ocorreu há uma semana. A questão será levantada, mas não é um ponto importante nas conversações, diz ele.
"Os Estados Unidos estão a tomar posições diferentes em todos os tipos de questões e os Estados Unidos, e Trump em particular, criticam um líder num dia e no dia seguinte estendem a mão da amizade se for benéfico para os Estados Unidos", acrescenta Silke.
A melhor forma de lidar com Trump é pessoalmente: "Trata-se de uma questão de diplomacia pessoal e de uma relação pessoal que tem de ser forjada, mesmo que possa ser difícil”.
Silke espera uma reunião diplomática: "Apesar de toda a conversa sobre tarifas, parece que as piores tarifas podem ser negociadas. A África do Sul tem uma vantagem sobre alguns minerais essenciais que também poderia fornecer aos EUA”.