Violência na África do Sul: Presidente pede desculpa
Lusa | mjp
14 de setembro de 2019
Cyril Ramaphosa apresentou desculpas pela violência contra estrangeiros que eclodiu no país, garantindo que os seus compatriotas "não são xenófobos". Ataques já levaram 128 moçambicanos a regressar ao país de origem.
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Discursando na capital do Zimbabué, Harare, onde foi assistir ao funeral do ex-Presidente Robert Mugabe, o chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, foi vaiado pela multidão que assistia às cerimónias fúnebres num estádio.
"Apresento-me perante vós como um irmão africano que lamenta e pede desculpas pelo que aconteceu no meu país", disse Ramaphosa, acrescentando que os tumultos vão "contra o princípio de unidade do povo africano".
O Presidente sul-africano garantiu que continua a trabalhar para "encorajar o povo a acolher todos os cidadãos dos países africanos".
"Os sul-africanos não são xenófobos, não têm nada contra os cidadãos de outros países", declarou.
Milhões de zimbabueanos fugiram da repressão e da crise económica e procuraram refúgio na África do Sul, onde, no início do mês, se verificou uma onda de tumultos e pilhagens dirigidas contra estrangeiros e suas empresas.
Concentrada principalmente na maior cidade sul-africana, Joanesburgo, a violência fez 12 vítimas mortais, incluidno um cidadão estrangeiro, cuja nacionalidade não foi divulgada, segundo os últimos dados das autoridades sul-africanas.
Moçambicanos e nigerianos de regresso
Na quinta-feira (12.09), um grupo de 128 moçambicanos provenientes da África do Sul chegou ao centro de trânsito do distrito de Moamba, província de Maputo, no sul de Moçambique - um regresso voluntário, na sequência dos ataques contra estrangeiros.
No grupo incluem-se 22 crianças e 106 adultos provenientes de diferentes localidades da África do Sul, destacando-se Joanesburgo.
O centro de trânsito instalado em Moamba tem capacidade para cerca 200 pessoas e foi montado a poucos metros de uma linha férrea, para facilitar a viagem das pessoas acolhidas para o seu destino final.
As autoridades moçambicanas esperavam mais de 300 pessoas, mas algumas desistiram de regressar ao país de origem.
Segundo dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, a violência que eclodiu a 1 de setembro contra estrangeiros na África do Sul afetou cerca de 500 moçambicanos.
Também 600 nigerianos afetados pela violência xenófoba já foram repatriados da África do Sul, segundo as agências de notícias.
Violência de género preocupa autoridades
Entretanto, Cyril Ramaphosa cancelou a ida ao encontro anual de líderes mundiais das Nações Unidas devido aos problemas que afetam o país, com uma onda de violência de género e xenófoba.
Centenas de manifestantes reuniram-se esta sexta-feira (13.09) em Joanesburgo para exigir uma ação governamental mais forte contra os crescentes níveis de violência de género no país. Alguns membros do partido no Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) estão a pedir ao Governo que declare estado de emergência.
A polícia divulgou na quinta-feira estatísticas anuais sobre crimes, que revelam que abusos sexuais e violações aumentaram 4,6% e 3,9%, respetivamente, no ano passado. Mulheres de todo o país têm partilhado experiências de violência e receios nas redes sociais e média locais.
Estes acontecimentos surgem depois de vários dias de protestos na Cidade do Cabo, na semana passada, após uma série de assassínios de jovens, mulheres e crianças.
Joanesburgo, entre a decadência e a revitalização
Joanesburgo ainda luta com os efeitos do apartheid. A cidade tenta parar o declínio dos bairros decadentes e trazer o perigoso centro de volta à vida.
Foto: DW/T. Hasel
Entre a decadência e a ressurreição
Joanesburgo ainda luta com os efeitos do apartheid. A cidade tenta parar o declínio dos bairros decadentes e trazer o perigoso centro de volta à vida. Fundada em 1886 após a descoberta de enormes jazidas de ouro, Joanesburgo já teve várias fases de boom e momentos de profunda depressão. Isso mostram os vários edifícios construídos em diferentes estilos arquitetónicos.
Foto: DW/T. Hasel
Vida nova nas ruínas industriais
A última e maior das três centrais termoelétricas de Joanesburgo, no coração da cidade, gerou eletricidade para a metrópole entre 1934 e 1942. Depois, o prédio industrial decaiu, até que foi restaurado há dez anos. Desde 2007, a construção abriga a sede da mineradora Anglo Gold Ashanti, a terceira maior produtora de ouro do mundo.
Foto: DW/T. Hasel
Destruídos e abandonados
A fachada neobarroca do hotel Cosmopolitan, construído entre 1899 e 1902, reflete o otimismo que surgiu em Joanesburgo na época da corrida do ouro. A casa em estilo vitoriano, que antigamente abrigava um pub, foi popular entre os operadores de minas por muito tempo. Durante décadas entregue à deterioração, há planos de restaurar a casa e voltar a usá-la.
Foto: DW/T. Hasel
Mercado no centro da cidade
Após o fim do apartheid, muitos bancos e empresas sul-africanos deixaram o centro de Joanesburgo e se estabeleceram no norte da cidade. Muitos sul-africanos negros das favelas e townships (áreas urbanas que foram guetos durante o apartheid), mudaram-se para o centro. Atualmente, eles revitalizaram o centro com uma abundância de pequenas lojas.
Foto: DW/T. Hasel
Brilho fresco
Nas casas de Fietas, subúrbio de Joanesburgo, as lojas e oficinas ficam no piso térreo e os apartamentos, no primeiro andar. Nos anos 60 e 70, o regime do apartheid desalojou quase todos os moradores do bairro, para abrir espaço para os brancos. Uma grande parte das casas foi destruída. O Museu Fietas é um dos poucos edifícios que sobreviveram no estilo original.
Foto: DW/T. Hasel
Uma casa alemã
Em 1935, o arquiteto alemão Wilhelm Pabst fugiu dos nazistas da Alemanha e emigrou para Joanesburgo. Na bagagem, tinha trazido um estilo expressionista, que usou quando ergueu, em 1948, a Chinese United Club Mansion (foto), na época em Chinatown, no centro da cidade.
Foto: DW/T. Hasel
Pistolas diante da tela
O cinema Avalon, no distrito Fordburg, é uma relíquia de uma época em que Joanesburgo ainda era cheia de pequenas salas de cinema. Com a saída de muitos sul-africanos brancos do centro da cidade no início dos anos 90, muitos cinemas fecharam, foram demolidos ou dedicados a novos usos. O Avalon é atualmente uma loja de armas.
Foto: DW/T. Hasel
De endereço chique a casa dos horrores
Dificilmente um edifício simboliza tanto a ascensão, queda e possível renascimento de Joanesburgo como o Ponte City, no distrito de Hillbrow. Inaugurado em 1975, o edifício alto e redondo figurava entre os melhores endereços da cidade. Após o fim do apartheid, em 1994, a construção degenerou e passou a ser considerada extremamente insegura. Atualmente, o prédio é muito popular entre os estudantes.
Foto: DW/T. Hasel
Seguindo os passos de Nelson Mandela
À primeira vista insignificante, o prédio da Chancellor House é historicamente importante. Em 1952, Nelson Mandela e Oliver Tambo abriram aqui o primeiro escritório de advocacia liderado por negros na África do Sul. Na década de 1990, os últimos inquilinos se mudaram daqui. A casa foi ocupada ilegalmente e foi se deteriorando até pegar fogo. Atualmente, o edifício renovado abriga um museu.
Foto: DW/T. Hasel
À espera de novos moradores
Uma visão típica do centro de Joanesburgo: prédios da época do boom da cidade no início do século XX, que no fim do apartheid foram abandonados e negligenciados. Só recentemente as casas antigas têm sido compradas por investidores e parcialmente recompostas.
Foto: DW/T. Hasel
Vestígios do passado
"Lies Beeld", lê-se nesta placa enferrujada de propaganda no centro de Joanesburgo. Publicado na língua africâner (afrikaans), o jornal sensacionalista Beeld foi e é um dos mais lidos na África do Sul. A primeira edição chegou ao mercado em 1974. A publicação é lida, principalmente, por sul-africanos brancos.
Foto: DW/T. Hasel
Testemunhas do terror
Edifício transparente com um passado cruel: durante o apartheid muitos presos políticos foram interrogados, abusados e torturados no 10º andar do prédio da polícia no centro de Joanesburgo. Oito deles morreram, entre os quais o ativista Steve Biko. Um deles foi lançado do 10º andar por seus algozes.