Presidente da África do Sul sobrevive a moção de censura
Milton Maluleque (Joanesburgo) | DPA | Lusa
8 de agosto de 2017
Jacob Zuma sobreviveu a nova moção visando a sua destituição do cargo de Presidente da República da África do Sul. Foi a oitava moção de censura a Zuma ao longo dos seus oito anos no poder.
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O Congresso Nacional Africano, o ANC, bloqueou a destituição do Presidente Jacob Zuma. A proposta foi rejeitada por 198 deputados do partido no poder, contra 177 votos a favor e nove abstenções.
A moção surgiu na sequência de uma polémica remodelação ministerial realizada em março, na qual Zuma nomeou uma dezena de aliados para cargos governamentais. A coligação dos partidos da oposição acusa o chefe de Estado de corrupção e de favorecer empresários de origem indiana próximos à sua família, os Guptas, em prejuízo da economia nacional.
"O ANC está aí, é forte e grande. É difícil derrotar o ANC", afirmou Zuma esta terça-feira (08.08) após sobreviver à moção de censura. O Presidente sul-africano teceu ainda críticas à "propaganda veiculada pelos média de que o ANC já não é apoiado pela população."
Protestos
Antes da votação da moção, houveregisto de protestos e distúrbios nas principais cidades sul-africanas, sobretudo na província de Gauteng, que engloba as cidades de Joanesburgo e de Pretória. Em vários subúrbios, o trânsito foi bloqueado com pedras e pneus em chamas. E as manifestações não devem ficar por aqui.
Reagindo minutos depois do bloqueio da moção de censura a Zuma, os partidos da oposição mostraram-se felizes pelo facto de 35 deputados do partido no poder, o ANC, terem votado a favor da destituição de Zuma.
Os deputados da oposição prometeram juntar-se aos Combatentes pela Liberdade Económica (o EFF), o partido de Julius Malema, que anunciou que iria dar entrada no Tribunal Constitucional a um processo de impeachment contra Zuma.
A oposição apelou ainda à sociedade civil para organizar protestos em massa e usar outros métodos legais para destituir o Presidente.
Presidente da África do Sul sobrevive a moção de censura
Assunto de "toda a população"
"Este caso que está a acontecer agora aqui na África do Sul não é uma coisa partidária", comenta Charly Khumalo, jornalista sul-africano e antigo exilado do ANC na era da segregação racial, o apartheid. "Este assunto afeta todo o país, toda a população da África do Sul."
Para o constitucionalista de origem alemã André Thomashausen, depois de Zuma sobreviver a esta nova moção de censura, assistir-se-á a uma agudização da crise económica no país.
"Zuma sairá com maior autoridade e provavelmente tentará impor até as eleições de 2019 reformas substantivas; vai tentar dar credibilidade à política da transformação económica radical, e isso, evidentemente, vai provocar mais contestação, mais litígio, mais apelos ao Tribunal Constitucional", diz Thomashausen.
Jacob Zuma termina o segundo mandato em 2019 e deixa a presidência do ANC em dezembro deste ano.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
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O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
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Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
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De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
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A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
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A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.