Abdelaziz Bouteflika regressou à Argélia após internamento num hospital na Suíça. Há semanas, a Argélia vive protestos contra a decisão do Presidente de 82 anos de optar pela reeleição para um quinto mandato consecutivo.
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Após duas semanas de internamento e tratamento médico de Bouteflika num hospital de Genebra, o Presidente argelino voltou neste domingo (10.03) ao seu país.
O avião presidencial, um Gulfstream classe 4SP com equipamento médico, partiu às 15:40 (hora local) do aeroporto de Genebra, na Suíça, e aterrou no aeródromo militar de Bufarik, norte da capital Argel, pouco após as 17:30 (hora local).
Ainda não se conhecem pormenores sobre o estado de saúde de Bouteflika. O chefe de Estado não surge em público desde 21 de fevereiro, dia em que assistiu à cerimónia de juramento do cargo do presidente do Conselho constitucional, Tayeb Belaid, um organismo deve validar as candidaturas presidenciais.
Onda de manifestações
O regresso ocorre com o prosseguimento dos protestos que se estenderam a todo o país contra a reeleição a um quinto mandato, após a primeira eleição de Bouteflika há 20 anos. Os protestos, que se iniciaram há alguns meses nas bancadas dos campos de futebol, alastraram para as ruas em 22 de fevereiro de 2019, dois dias antes da sua partida para Genebra, que também forçou o regime a suspender a inauguração do novo aeroporto de Argel, à qual deveria presidir.
Desde então, em particular às sextas-feiras, dia sagrado para ao muçulmanos, milhões de pessoas têm protestado contra a corrupção de um regime dominado pelas Forças Armadas e os serviços secretos e que se enquistou progressivamente desde o fim da guerra de libertação, iniciada em 1954, e a independência da França em 1962. Os estudantes têm mantido a pressão na rua, o que conduziu o regime a antecipar por dez dias as férias universitárias, que se iniciaram neste domingo (10.03) no país.
Graves problemas de saúde de Bouteflika desde 2013
Na presidência desde 1999, Bouteflika sofreu em 2013 um "derrame cerebral" que afetou as suas faculdades físicas e o impedir de fazer campanha nas presidenciais do ano seguinte, que voltou a vencer apesar dos protestos de uma oposição muito controlada.
Desde então não se exprime em público, move-se numa cadeira de rodas manejada pelo seu irmão Saïd e as suas aparições públicas são raras, e geral reduzidas a imagens gravadas pela televisão estatal por motivo do Conselho de ministros ou de vistas de altos dignitários estrangeiros.
Bouteflika não viaja há muito para o estrangeiro e nos dois últimos anos cancelou no último momento, por "recaídas de saúde", reuniões já confirmadas com altos responsáveis estrangeiros, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.