Presidente da AM de Sussundenga preso por roubar dinheiro
Bernardo Jequete (Manica)
18 de outubro de 2017
O roubo deixou os deputados da Assembleia Municipal sem seus ordenados por quatro meses. As investigações continuam sem desfecho.
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Em Sussundenga, na província de Manica, o presidente da Assembleia Municipal, Jacob Muiambo, e o respetivo chefe da contabilidade estão detidos desde setembro, por envolvimento em roubo financeiro da ordem de mais de um milhão e oitocentos mil meticais, o correspondente a quase 25 mil euros.
Segundo o procurador distrital de Sussundenga, Remigy Guiamba, ainda há mais um funcionário do setor da tesouraria, suspeito de envolvimento no caso, que está a ser investigado. Remigy Guiamba assegurou que a auditoria em curso poderá divulgar mais intervenientes. "Existe uma auditoria que está a decorrer. Acredito, inclusive, que já esteja em fase conclusiva dentro do Conselho Municipal. Mas também decorrem outras acções visando a recuperação de activos, daquilo tudo que eles foram adquirindo com esses valores; pelo menos, daquele montante que já se apurou: um milhão e oitocentos mil meticais", informou o procurador.Ainda de acordo com Remigy Guiamba, a detenção dos indiciados vai acontecer na sequência dessa investigação, que teve início em agosto. "É no âmbito de um trabalho que a procuradoria vem desenvolvendo a investigação de desvio de fundos no Conselho Municipal. Encontramos lá algumas evidências. Se o presidente da Assembleia Municipal, Jacob Muiambo, estivesse em liberdade, ele poderia perturbar a instrução. Por isso, optamos por promover a detenção dele. O tribunal colaborou, e ele foi detido. Mas assim que recolhermos as evidências necessárias, o tribunal poderá restituir a sua liberdade", explicou Guiamba.
Chimoio-Roubo nos cofres do município - MP3-Mono
Consequências do crime
O roubo nos cofres do município de Sussundenga deixou os deputados da Assembleia Municipal sem os seus ordenados. Palmira Chavier Francisco, deputada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), disse que o município já esteve a dever quatro meses aos deputados. Entretanto, a informação apurada é de que três meses de salário já foram regularizados, faltando apenas o ordenado de setembro.
"Estávamos há quatro meses sem receber. Agora, eles pagaram os três meses devidos; só resta o salário de setembro. Eu disse a eles que, se não pagassem nossos subsídios, como opositora, levaria o caso ao tribunal administrativo. Caso contrário, não iríamos trabalhar. Se pensarmos em tudo que houve lá na assembleia...", falou a deputada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) em entrevista à DW África.
A fim de tentar acabar com os casos de corrupção que acontecem na cidade, o procurador distrital de Sussundenga, Remigy Guiamba, fez um apelo aos gestores públicos. Ele disse que é preciso cultivar o espírito de saber gerir o erário público. "Isso vai fazer o país crescer e todos nós também vamos crescer", completou.
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.