Gâmbia: Presidente Yahya Jammeh declara estado de emergência
17 de janeiro de 2017
A dois dias do fim do seu mandato Presidente cessante da Gâmbia Yahya Jammeh decreta o Estado de emergência e fala de uma "ingerência estrangeira sem precedentes".
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O Presidente cessante da Gâmbia Yahya Jammeh decretou esta terça-feira (17.01) o estado de emergência. Numa declaração televisiva, Jammeh evocou o considera ser "um nível de ingerência estrangeira excecional e sem precedentes" no processo eleitoral do país.
Jammeh fez este anúncio a dois dias da prevista tomada de posse do seu sucessor eleito, Adama Barrow, que está desde domingo no Senegal e a quem o chefe de Estado cessante, Yahya Jammeh, recusa ceder o poder.
"O mandato de Yahya Jammeh termina a 19 de janeiro e naquela data começará o mandato do Presidente eleito Adama Barrow. Ele vai ser investido e assumirá funções sem falhas", disse o seu porta-voz, Mai Fatty, que o acompanha em Dacar.
Tomada de posse em Dacar ou Banjul?
O porta-voz recusou-se a precisar se a tomada de posse será realizada em Dacar ou na capital da Gâmbia, Banjul.
Recorde-se que a Gâmbia vive uma grave crise política depois de o Presidente cessante anunciar que não reconhece os resultados das eleições presidenciais, realizadas a 1 de dezembro, uma semana depois de ter felicitado Adama Barrow pela vitória no escrutínio.
Yahya Jammeh chegou ao poder na Gâmbia em 1994, através de um golpe de Estado, e desde então lidera aquele pequeno país anglófono com menos de dois milhões de habitantes, situada no meio da costa do Senegal. No passado sábado (14.01), uma pequena cimeira sobre a crise gambiana foi realizada em Bamako, Mali, à margem da conferência África - França, reunindo, nomeadamente, os Presidentes da Nigéria, Muhammadu Buhari, da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, e o antigo chefe de Estado do Gana, John Dramani Mahama.
Fonte da presidência senegalesa confirmou domingo (15.01) que Adama Barrow foi para Dacar depois de um encontro com responsáveis da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Comunidade Africana preocupada com a situação
A CEDEAO tentou em várias ocasiões convencer Yahya Jammeh a reconhecer a vitória de Adama Barrow e a ceder o poder e já ameaçou com uma intervenção militar caso insista em ficar na presidência do país.
Também na sexta-feira (13.01), o representante da ONU para a África Ocidental fez saber que a CEDEAO pode pedir ao Conselho de Segurança das Nações Unidas o destacamento de tropas para a Gâmbia.
A União Africana disse por seu turno que vai deixar de reconhecer Yahya Jammeh como Presidente da Gâmbia a partir de quinta-feira, quando terminar o seu mandato.
O clima de incerteza na Gâmbia levou já milhares de gambianos a fugirem do país em direção ao Senegal e à Guiné-Bissau.
As pessoas que fugiram para o Senegal nas duas últimas semanas são "principalmente crianças", segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados.
2016 em imagens: O que moveu África?
Entre o terror, a democracia e a imprevisibilidade, o ano no continente africano fica marcado por momentos de viragem. Acompanhe a DW África nesta viagem pelos acontecimentos mais marcantes de 2016.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Terror imprevisível
A África Ocidental ainda recuperava de um ataque a um hotel em Bamako, no Mali, quando os extremistas islâmicos voltaram a atacar: a 15 de janeiro, dezenas de pessoas morreram num atentado da Al Qaida no Magrebe Islâmico num hotel em Ouagadougou, no Burkina Faso. O cenário repete-se em março, com cerca de 20 mortos num ataque à estância balnear de Grand Bassam, na Costa do Marfim (na foto).
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
Reconhecimento do genocídio
Depois de vários anos de indefinição e após a resolução sobre a Arménia no Parlamento alemão, Berlim classifica também como genocídio a morte de dezenas de milhares de pessoas Nama e Herero na Namíbia, no período colonial. Mantêm-se as divergências entre os dois países sobre reparações. As negociações são adiadas para 2017. Na foto: manifestantes na Namíbia lembram os crimes do passado colonial.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Gebert
Todos contra o TPI
Depois do julgamento do Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, o Tribunal Penal Internacional chega a um impasse também no processo contra o seu vice, por falta de provas. Na União Africana, Kenyatta relança a campanha anti-TPI. Com sucesso: o Burundi, a Gâmbia e a África do Sul anunciam que vão abandonar o TPI. No entanto, enquanto forem membros, têm de continuar a cooperar com Haia.
Foto: Getty Images/AFP/M. Beekman
Ex-ditadores não são intocáveis
De Kenyatta, no Quénia, a Al-Bashir, no Sudão: os chefes de Estado são os pesos pesados na mira do TPI. A condenação do ex-ditador do Chade, Hissène Habré (na foto), em maio, lança um aviso a outros ditadores da região. Habré é condenado a prisão perpétua e a decisão parte de um tribunal especial no Senegal, criando-se a estrutura para julgar outros ditadores no futuro, sem depender do TPI.
Foto: picture-alliance/dpa
Herança cultural não deve ser subestimada
Em 2012, extremistas islâmicos destruíram a mesquita de Sidi Yahya, em Tombuctu. Só a restauração da porta demorou cinco meses. Em setembro de 2016, a mesquita é reaberta - um sinal de esperança para o Mali. O julgamento no Tribunal Penal Internacional também serve de aviso: Ahmad Al Mahdi é condenado em outubro a nove anos de prisão pela destruição de património mundial.
Foto: Getty Images/AFP/S. Rieussec
Braços cruzados podem custar vidas na Etiópia
No Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, após cruzar a meta da maratona, o etíope Feyisa Lilesa protesta com os braços cruzados. Na Etiópia, o gesto de oposição ao regime é perigoso. Em outubro, em Bishoftu, a polícia dispersa um protesto e dezenas de pessoas morrem num tumulto. O grupo étnico Oromo diz-se marginalizado pelo Governo da Frente Democrática Revolucionária Popular da Etiópia (EPRDF).
Foto: picture-alliance/AP Photo
"Meninas de Chibok": a persistência compensa
Depois de dois anos e meio de incerteza, os pais de 21 alunas sequestradas em Chibok recebem as suas filhas de volta, em outubro. É o resultado das negociações do Governo da Nigéria com os extremistas islâmicos do Boko Haram. No entanto, quase 200 meninas continuam detidas. O Executivo de Muhammadu Buhari garante que vai libertar as estudantes que permanecem em cativeiro.
Foto: Picture-Alliance/dpa/EPA/STR
#ThisFlag: desafiar o poder
Com o seu movimento #ThisFlag ("Esta Bandeira"), o pastor Evan Mawarire torna-se a cara da contestação popular no Zimbabué. Mas Robert Mugabe anuncia que pretende recandidatar-se à Presidência em 2018 e continua a reprimir protestos. Na República Democrática do Congo, as eleições são adiadas e Joseph Kabila tenta manter-se no poder até 2018, contra a Constituição.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Polémicas não demovem chefes de Estado
É "o Presidente dos escândalos" na África do Sul: acusações de violação e negação do HIV marcam os mandatos de Jacob Zuma, no poder desde 2009, juntamente com a restauração milionária da sua residência com fundos públicos. Mas Zuma mantém-se no poder, mesmo depois da divulgação de um relatório que levanta uma série de suspeitas de ligações entre a Presidência e a influente família indiana Gupta.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Presidenciais surpreendentes
Em Cabo Verde e no Benim, os cidadãos apostam na continuidade. Mas em outros países, como no Gana, vence a oposição: John Mahama aceita a vitória de Nana Akufo-Addo e promete uma transição pacífica. Na Gâmbia, o cenário parece, à partida, semelhante: Adama Barrow (na foto) vence as eleições. Após 22 anos no poder, Yahya Jammeh admite a derrota. Mais tarde, Jammeh recua e rejeita os resultados.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Adeus a Papa Wemba
Com 66 anos, "o rei da rumba congolesa" morre em abril,depois de perder os sentidos num concerto em Abidjan, na Costa do Marfim, tal como Miriam Makeba, oito anos antes. O mundo despede-se de um músico que dizia que não fazia música congolesa ou africana, "apenas música".