Na Libéria, que vai a votos esta terça-feira (10.10), Ellen Johnson Sirleaf já anunciou que não vai mudar a Constituição para se recandidatar. Presidente é criticada no país por falhar no combate à pobreza.
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A Libéria, a mais antiga República de África, foi fundada há 170 anos. A Presidente Ellen Johnson Sirleaf está há mais de 10 anos à frente deste país, sendo a primeira mulher a ser eleita Presidente de uma nação africana. Foi em 2005 – ano em que a Libéria estava completamente destruída, depois de ter saído de uma sangrenta guerra civil que durara 14 anos e que matara mais de 250 mil pessoas.
É altura de fazer um balanço da sua atuação, uma vez que Ellen Johnson Sirleaf já anunciou que não se iria recandidatar nas próximas eleições. Mas esse balanço não é só positivo, dizem os observadores. A nível internacional, Sirleaf é bastante respeitada, é certo, mas a nível interno, as coisas não são bem assim. Muitos observadores dizem que Sirleaf falhou o objetivo principal: combater a pobreza e as desigualdades sociais. Sirleaf também é acusada de falta de transparência.
Alex Vines, pesquisador do "think tank” britânico Chattam House, lembra, no entanto, que Sirleaf conseguiu dar alguns passos na direção certa. A chefe de Estado manteve relações estreitas com Hillary Clinton, aquando da sua passagem pela administração Obama, atraiu apoios financeiros e vários acordos de perdão da dívida. Ela também conseguiu atrair alguns investidores estrangeiros, entre eles a ArcelorMittal, o maior produtor mundial de aço. Alex Vines lembra também que se deve a Ellen Sirleaf a reforma do setor dos diamantes na Libéria, que teve um triste papel no financiamento da guerra civil no país.
"Trabalhei com Sirleaf na Libéria entre 2001 e 2003 como inspetor das sanções impostas pelas Nações Unidas. O país estava numa situação desastrosa na altura. Voltei depois da guerra e com Sirleaf à frente do país. Ellen Sirleaf foi eleita depois do governo de transição de 2005 e cumpriu dois mandatos completos. O seu maior legado é a paz e também a estabilidade. É por isso que ela vai ser recordada. Entretanto, é certo que ela goza de mais admiração no estrangeiro do que na própria Libéria. E há que dizer que os problemas da desigualdade social e da pobreza continuam prementes no país, chega a ser deprimente", argumenta.
28.09. Liberia Sirleaf - MP3-Mono
Fonteh Akum, do Institituto de Segurança Internacional, sediado na África do Sul, é também de opinião que o balanço da carreira política de Ellen Johnson Sirleaf nem é de todo positivo, nem de todo negativo.
"Ela tentou resolver alguns dos problemas, mas muito ficou por fazer. O perigo da Libéria cair na violência continua real. Mas Sirleaf conseguiu, sem dúvida, dar um certo impulso à Libéria, com a ajuda da comunidade internacional. A ONU está a prestes a terminar a sua missão no país. Também é certo que o governo de Sirleaf foi repetidamente acusado de corrupção e nepotismo, porque dois dos seus filhos receberam postos no banco central do país. Isso contribuiu para uma certa corrosão da confiança que os liberianos depositavam nela, como presidente", explica o analista.
Em 2011, Ellen Johnson Sirleaf foi agraciada com o prémio Nobel da Paz pelo seu empenho em prol dos direitos e da segurança das mulheres no seu país. Foi isso também que lhe conferiu muita admiração a nível internacional. Em janeiro de 2018, deixará de ser presidente da Libéria. Ellen Johnson Sirleaf diz que não quer que a Constituição do país seja alterada, só para que ela possa manter-se no poder. Um gesto contra todos aqueles líderes africanos que se perpetuam no poder.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.