Tanzânia: Magufuli quer trabalhar com oposição após vitória
Reuters | AP | mjp
1 de novembro de 2020
John Magufuli prometeu trabalhar com os seus rivais após vitória esmagadora numas presidenciais rejeitadas pela oposição e marcadas por irregularidades. Promessa surge na véspera de manifestações contra os resultados.
Foto: Ericky Boniphace/AFP
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O Presidente da Tanzânia, John Magufuli, prometeu este domingo (01.11) trabalhar com os seus rivais, depois da sua vitória esmagadora nas presidenciais de quarta-feira. A oposição descreve as eleições como "um massacre da democracia" e rejeita os resultados anunciados pela Comissão Eleitoral Nacional, apelando à repetição da votação.
O sinal de abertura do chefe de Estado surge na véspera de "manifestações pacíficas sem fim" convocadas pelos dois principais partidos na oposição a partir desta segunda-feira.
"Vou servir todos os tanzanianos. Gostaria de agradecer aos meus colegas candidatos presidenciais pela sua participação", disse Magufuli num evento na capital, Dodoma, onde aceitou formalmente os resultados.
De acordo com os resultados anunciados pelos órgãos eleitorais, na sexta-feira, Magufuli conquistou 84% dos votos contra os 13% do seu principal rival, Tindu Lissu.
"Prometo trabalhar com vocês para garantir o desenvolvimento nacional. O desenvolvimento é apartidário. A política não é uma guerra, não é um conflito, somos todos tanzanianos", frisou o Presidente, que deverá tomar posse para o seu segundo mandato na quinta-feira.
"Durante a eleição houve alguns desafios mas, no geral, a eleição foi segura e pacífica", acrescentou, deixando a garantia: "Este é o meu segundo e último mandato no cargo".
Poder para alterar a Constituição
O anúncio de John Magufuli reveste-se de particular importância numa altura em que o seu partido, atualmente no poder, o Chama Cha Mapinduzi, conquistou quase todos os assentos parlamentares, podendo agora alterar a Constituição do país, permitindo a Magufuli candidatar-se a novos mandatos.
Alguns membros do partido já falaram publicamente sobre a adopção de medidas para a manutenção de Magufuli no cargo, além dos dois mandatos de cinco anos atualmente permitidos.
No seu primeiro mandato, o atual Presidente foi criticado por reduzir as liberdades democráticas na Tanzânia. No sábado, os dois principais partidos da oposição convocaram protestos pacíficos a partir de segunda-feira para contestar os resultados das eleições.
A votação ficou marcada por denúncias de irregularidades, incluindo o uso da força contra civis, enchimento de urnas e detenção de membros da oposição, segundo a embaixada dos Estados Unidos em Dar Es Salaam.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.