Em São Tomé e Príncipe, há quem duvide que vá ser possível realizar as eleições em 25 de setembro. A questão é o recenseamento de novos eleitores.
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A data escolhida torna demasiado curto o prazo para a realização do recenseamento, que só arranca com a entrada em funcionamento da Comissão Eleitoral, em 25 de junho. A situação poderá obrigar o Presidente Carlos Vila Nova a alterar o dia do escrutínio.
Para já, a realização das eleições legislativas, autárquicas e regionais continua marcada para 25 de setembro próximo. A data foi anunciada a 1 de abril, depois de Vila Nova ter auscultado os partidos com e sem assento parlamentar.
"Caros concidadãos, a primeira resolução que tomei que hoje, comunico a todos os são-tomenses, é a realização de todas as eleições no mesmo dia. Sabemos, e eu subescrevo, que não podemos ter democracia sem a realização de eleições", disse, na altura, o chefe de Estado.
Permitir aos jovens votar
O maior partido da oposição são-tomense, Ação Democrática Independente (ADI), exige a atualização do caderno eleitoral, para permitir a inclusão de milhares de jovens, novos eleitores. Segundo o secretário-geral do partido, Américo Ramos, a escassos três meses das eleições, "deveria já haver as condições criadas para que se realizasse o recenseamento eleitoral".
O político diz estar preocupado por causa do "silêncio ensurdecedor e se calhar propositado", que interpreta como uma indicação de falta de vontade "de alguns órgãos" de realizar o recenseamento. A oposição suspeita que não há interesse em facilitar o voto jovem, que a poderia, tendencialmente, favorecer.
A juventude da União para Mudança e Progresso do Príncipe (UMPP) também se mostrou "extremamente preocupada com um atraso incompreensível" na atualização do caderno eleitoral, que considerou "pôr em causa a credibilidade de todo o processo eleitoral para o presente ano".
Escrutínio será adiado?
O líder da formação, Edilson Freire, apelou "para que cada jovem são-tomense que completa os 18 anos de idade até ao próximo dia 25 de setembro tenha a oportunidade de exercer o direito fundamental" de votar.
Eugénio Tiny, antigo presidente da Assembleia Nacional e professor de Ciências Políticas, diz que não vai ser possível realizar o escrutínio na data prevista no respeito da lei eleitoral de 2021.
"A saída é esta: Ou se faz a eleição sem recensear 10 mil jovens, que é uma questão muito polémica, ou então há que recuar quanto à data, que não faz mal a ninguém, para fazer o recenseamento desses jovens", explicou Tiny à DW África.
Após a entrada em funcionamento, a Comissão Eleitoral Nacional tem 45 dias para a emissão da certidão eleitoral, que posteriormente é remetida ao Tribunal Constitucional. Este deverá aferir a legalidade no prazo de 30 dias. Ao todo, o processo levará mais de dois meses.
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A responsabilidade é do Presidente
Tiny responsabiliza o Presidente são-tomense pela situação. Segundo o politólogo, Carlos Vila Nova foi aconselhado pelos partidos políticos da oposição a marcar as eleições em outubro, para facilitar o recenseamento.
"A forma como as pessoas chegam ao poder em São Tomé e Príncipe tem condicionado muita coisa. As pessoas [vão] pelas mãos dos partidos políticos. Logo, quase que não conseguem separar uma coisa da outra, porque é muito difícil, e depois afastar-se complementarmente do partido político".
A oposição pediu a intervenção do coordenador residente do sistema das Nações Unidas em São Tomé e Príncipe, Eric Overvest, que afirmou: "A nossa mensagem foi que queremos que as vias legais sejam usadas para resolver este problema."
São Tomé e Príncipe: Como a pandemia mudou a vida das pessoas
Na capital do país, São Tomé, profissionais dos mais diversos setores ralatam as intempéries causadas pela Covid-19, mas falam em esperança num futuro sem pandemia.
Foto: João Carlos/DW
Impacto negativo das restrições
Quem chega às ilhas de São Tomé e Príncipe, plantadas no meio do Oceano Atlântico, depara com um ambiente de quase total abstração sobre a existência da Covid-19. A maior parte da população não usa máscara facial. Mas a pandemia do novo coronavírus obrigou a muitas restrições e teve um forte impacto negativo na vida social e económica deste país da África Central.
Foto: João Carlos/DW
Normalidade em plena pandemia
Apesar dos vários avisos e informações oficiais recomendarem cuidados preventivos e proteção por causa do coronavírus e de suas variantes, muitos são-tomenses levam a sua vida quotidiana com normalidade, praticamente a ignorar que a Covid-19 constitui um problema de saúde pública. No entanto, há quem reconheça que a doença provocou perturbações no quotidiano da população.
Foto: João Carlos/DW
A vida está mais difícil
Taxista, 40 anos de idade, pai de quatro filhos, Euclides Gonçalves é quem sustenta a família. A vida que já não era está fácil ficou ainda mais difícil desde o início da pandemia de Covid-19. "Sentimos muita pressão com esta pandemia", afirma. "O negócio arrefeceu e é mais complicado ganhar dinheiro", diz o taxista, reconhecendo que "vivemos um momento de crise mundial".
Foto: João Carlos/DW
Subsídio do Estado é irrisório
O subsídio de cerca de 60 euros atribuído apenas uma vez pelo Governo são-tomense foi irrisório face à dimensão dos prejuízos que os taxistas sofrem depois do surto da pandemia. "O santomense nunca acreditou que houve Covid-19 em São Tomé e Príncipe", afirma Euclides, explicando a razão pela qual já não exige aos passageiros o uso de máscaras.
Foto: João Carlos/DW
Clientes também têm dificuldades
Fernando Afonso Vila Nova, motoqueiro de 62 anos de idade, também tem limitações para sustentar a família. Ainda com filhos na escola, consegue o sustento com muito sacrifício, já agravado pelo acidente de viação que lhe afetou as pernas e um braço. A crise pandémica agudizou a sua situação e de muitos colegas: "Há pouco movimento porque os clientes também passam por dificuldades".
Foto: João Carlos/DW
Nem barba, nem cabelo e tampouco bigode
A Barbearia Rita é uma das mais antigas da cidade de São Tomé. Edne Sacramento, cabeleireiro há 17 anos e pai de três filhos, testemunha em que medida a Covid-19 prejudicou a sua atividade. "Antes da pandemia, tínhamos muitos clientes", relata. Mas "depois da pandemia, muitos sentiam aquele receio de vir cá ao salão cortar cabelo, apesar de cumprirmos as regras todas".
Foto: João Carlos/DW
Escassez de mercadorias
Maria Helena da Mata, há mais de 30 anos no comércio, diz que é "muito forte" o impacto na sua atividade. O país depende totalmente do exterior: "Houve falta de transporte marítimo, o que provocou escassez de mercadorias". Além disso, a crise afetou a situação das famílias. "As pessoas não têm dinheiro, não têm poder de compra. Isso faz com que o comércio esteja também numa situação caótica".
Foto: João Carlos/DW
Encerramentos e incertezas
Os setores da restauração, viagens e eventos não ficaram ilesos. Elisabete Carvalho avalia a atual conjuntura com algum alívio porque fez investimentos próprios sem recorrer a créditos. Ainda assim, foi obrigada a fechar os serviços e isso acabou por afetar muitas famílias que empregava. "Neste momento, tudo é uma incerteza", refere.
Foto: João Carlos/DW
O peixe de cada dia
Nascido na localidade de Praia Gambôa, arredores de São Tomé, o pescador Cristovão da Trindade confirma que a sua atividade também sofreu com a redução da campanha e limitação à circulação das "palaiês" [vendedeiras de peixe], afetando o rendimento de toda a comunidade. Agora que diminuiu o número de casos de infetados, ele e os demais pescadores tentam recuperar o tempo perdido.
Foto: João Carlos/DW
Acostumar-se ao teletrabalho
O jurista Weiko Bastos diz que a pandemia pesou fundamentalmente na redução da receita e dos honorários. Levou à diminuição da quantidade e qualidade de clientes. Isso, aliado ao confinamento, atingiu igualmente o orçamento da sua família, forçada a fazer contenção de gastos. "Não estávamos preparados para o teletrabalho e não tinha Internet em casa. As dificuldades eram maiores", recorda.
Foto: João Carlos/DW
Estudar em casa
O professor e escritor, Lúcio Amado é um observador crítico da sociedade são-tomense. Considera que a principal preocupação da população é a sobrevivência, o que faz com que se não dê muita atenção à luta contra a Covid-19. No entanto, reconhece, a pandemia teve reflexos perversos no sistema de ensino. As turmas tinham números elevados de alunos que foram forçados a ficar em casa.
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Dançar conforme a música
Tem um disco novo que devia ter sido lançado em 2020, o que não aconteceu devido à Covid-19. "Tive que suspender todos os trabalhos", explica Kalú Mendes, produtor e um dos músicos de referência de São Tomé e Príncipe. '"Também as grandes editoras começaram a ter problemas financeiros", afirma. No entanto, continua a trabalhar e espera ter o disco no mercado em 2022.
Foto: João Carlos/DW
Resistir à turbulência
Outra referência das artes das ilhas, João Carlos Nezó resiste às intempéries no sul de São Tomé: "Aqui o mercado de arte é muito pequeno", dependente de turistas estrangeiros. Com a pandemia, deixou de vender. Ficou em primeiro lugar num concurso da Aliança Francesa, que lhe dava o passaporte para participar numa residência artística. "Não pude ir porque a pandemia durou dois anos", lamenta.
Foto: João Carlos/DW
Quebra brutal no turismo
Ligada a um empreendimento turístico ecológico no sul de São Tomé, Luísa Carvalho lamenta a quebra de turistas. "Todos os dias há cancelamentos de reservas. Antes da pandemia, tínhamos muita procura", garante a gerente. "De julho até então", adianta, "têm estado a aparecer alguns clientes curiosos", que fogem um pouco à situação, por exemplo, na Europa. Ms prevê: "Isto já não será como era antes".
Foto: João Carlos/DW
Resistência à vacinação
No início, havia resistência da maioria dos são-tomenses em aceitar a vacina contra a Covid-19, devido a rumores sobre a Astrazeneca. No entanto, com a campanha iniciada a 15 de março, aumentou a adesão da população, diz Solange Barros, coordenadora do Programa Nacional de Vacinação. "As vacinas são todas eficazes". Mas, dá conta, a adesão à segunda dose ficou muito aquém do esperado.
Foto: João Carlos/DW
À espera da terceira dose
Daniel Costa reconhece que "a pandemia afetou toda a gente". Para este antigo militar das Forças Armadas, as restrições impostas pelo confinamento e fracos salários agravaram o nível de pobreza da população. Sentiu-se algum alívio com as medidas de apoio do Governo aos mais carenciados. Diz que está pronto para tomar a terceira dose de qualquer vacina e aconselha as pessoas a se vacinarem.
Foto: João Carlos/DW
Manter a esperança e o otimismo
Apesar de algum receio, há uma mensagem de esperança entre os são-tomenses. Os nossos entrevistados acreditam que "as coisas poderão melhorar" nos próximos tempos, sobretudo para a atividade turística afetada sobremaneira. Vive-se uma "normalidade aparente", como diz Elisabete Carvalho, mas a expetativa está em 2022, porque, argumenta Weiko Bastos, "a economia não suporta mais confinamentos".