Acompanhada por uma grande comitiva, a Presidente de Taiwan iniciou esta terça-feira uma visita de quatro dias à Suazilândia, um dos 20 países que ainda mantêm relações diplomáticas com o Governo de Tsai Ing-wen.
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Uma visita oficial é um evento raro para Tsai Ing-wen. Desde que assumiu o Governo, muitos Estados, incluindo países da União Europeia (UE), não permitem a sua entrada - caso contrário, a China protestaria. A Presidente pode entrar nos Estados Unidos da América, mas reuniões na Casa Branca também são tabu.
Em troca da manutenção das relações diplomáticas, a Suazilândia recebe uma apreciação especial em Taiwan. Pequeno em território e com cerca de um milhão e meio de habitantes, o reino entre a África do Sul e Moçambique não tem grande destaque no cenário internacional.
Para conseguir manter o seu "status VIP" em Taiwan, o país renunciou a contactos oficiais com a China - Pequim e Taipé rompem os laços com qualquer Estado que reconheça o outro lado.
Parceria duradoura
Na Suazilândia, Tsai irá visitar projetos de ajuda ao desenvolvimento: Um hospital construído com apoio de Taiwan, assim como programas de formação profissional e agricultura.
Segundo o ministrs dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, Joseph Wu, o lema da viagem é "parceria duradoura". "Este ano celebramos 50 anos de relações diplomáticas entre o nosso país e a Suazilândia. Ao mesmo tempo, serão comemorados o 50º aniversário do rei Mswati III e os 50 anos de independência da Suazilândia", lembra.
Presidente de Taiwan visita Suazilândia
O rei Mswati III já visitou Taiwan 16 vezes. Os ideais democráticos de Taiwan obviamente não importam. Mswati III, o último monarca absolutista no continente africano, é notório por seu estilo de vida extravagante. O seu país, no entanto, continua sendo um dos mais pobres de África.
Contestação popular
No Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, a Suazilândia está classificada na posição 148, entre 188 países. Numa rara manifestação organizada por sindicatos contra as más condições de vida, tumultos eclodiram na última sexta-feira (13.04) na capital, Mbabane.
Do ponto de vista do país asiático, "os aspectos práticos prevalescem", considera Hermann Halbeisen, especialista da Universidade de Colónia, na Alemanha.
Os representantes de Taiwan nas embaixadas que ainda restam têm a possibilidade de fazer contactos valiosos com outros diplomatas estrangeiros. Além disso, os "aliados" diplomáticos, como costumam ser chamados, significam, acima de tudo, legitimidade. Falam por Taiwan em organizações internacionais, já que o país não pode ser membro por causa das reivindicações de poder de Pequim.
A Taiwan foi recentemente negada a participação até mesmo como observador na Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Vantagens económicas
A países parceiros, Taiwan oferece vantagens económicas, como "fortalecimento das relações comerciais, investimentos em desenvolvimento, construção de instalações médicas ou ajuda na agricultura, concessão de bolsas de estudo a cidadãos desses países para estudar em Taiwan", refere Hermann Halbeisen.
A nova rota da seda em África
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A China, no entanto, está a investir em grande escala em África, há muito tempo, garantindo sua influência e matérias-primas. Com o seu enorme peso económico e político, não seria um grande problema fazer com que os aliados remanescentes de Taiwan mudassem de lado.
Em África, além da Suazilândia, apenas o Burkina Faso ainda é parceiro de Taiwan. Desde a eleição de Tsai, a Gâmbia e São Tomé e Príncipe afastaram-se.
Embora Taiwan continue a fornecer ajuda generosa ao desenvolvimento, o tempo da diplomacia dos talões de cheque chegou ao fim. Especialmente no início dos anos 2000, Taipé e Pequim tentavam a superar-se mutuamente. Alguns países, como a Libéria ou o Senegal, até mudaram de lado várias vezes.
Outros parceiros?
As relações que Taipé mantém com 20 Estados deve-se, principalmente, ao facto de que a China simplesmente não quer prevalecer no momento, acredita o especialista alemão Halbeisen. "Pequim ainda tem nas mãos uma forma de pressionar para mostrar novamente a Taiwan o seu isolamento internacional", diz.
Desde que o Panamá mudou de lado no ano passado, a única excepção ainda é o Vaticano, onde a China está atualmente a tentar persuadir o papa Francisco a mudar de lado.
Taiwan está muito focado nas relações diplomáticas, considera Frederic Krumbein, especialista em Taiwan da Fundação Ciência e Política. Em vez disso, defende, "deveria apostar mais em parceiros que pensam da mesma forma, assim como a Alemanha e a sociedade civil global".
No ano passado, o Governo da Nigéria forçou Taiwan a transferir o seu escritório económico - a representação não oficial no país - da capital Abuja para Lagos. O anúncio foi feito durante uma visita do ministro chinês das Relações Exteriores, em janeiro de 2017. Em troca, Taiwan está agora a exigir que a missão nigeriana procure novas instalações fora da capital, Taipé.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
Foto: Getty Images
TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
Foto: cc-by-sa-Jon Harald Søby
Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
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Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
Foto: DW/J. Jaki
À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
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Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
Foto: AFP/Getty Images
O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.