Burkina Faso: Líder da transição denuncia tentativa de golpe
Lusa
2 de dezembro de 2022
O presidente de transição no Burkina Faso, capitão Ibrahim Traoré, líder do golpe de Estado de 30 de setembro, disse a elementos da sociedade civil que o país sofreu recentemente uma tentativa de golpe de Estado.
Publicidade
Segundo a Rádio Ómega, hoje citada pela Efe, Ibrahim Traoré confirmou, assim, que houve uma tentativa de "desestabilizar" o regime registada no passado fim de semana.
O líder militar fez esta revelação na quinta-feira (01.12), durante um encontro na capital do Burkina Faso, Ouagadougou, com organizações da sociedade civil e religiosos, que contou com a presença de mais de mil pessoas.
O capitão, segundo disseram alguns participantes à Rádio Omega, pediu o apoio da sociedade porque há "forças" que pretendem sabotar a transição política em curso neste país da África Ocidental.
O presidente da transição disse conhecer os autores da "manobra", mas preferiu não os travar, porque quer promover o diálogo, garantindo que a situação está controlada. Mas alertou que há "dinheiro" que está a ser usado para apoiar a tentativa.
"Têm de pegar o dinheiro, comer, mas não cair na armadilha", afirmou o capitão, segundo os participantes ouvidos pela estação de rádio, pedindo aos presentes que fiquem atentos porque o caminho de transição não será fácil.
18 meses de golpes e tentativas de golpe na África Ocidental
07:57
Rumores sobre desestabilização
No último fim de semana circularam rumores nas redes sociais sobre uma tentativa de desestabilização no país, mas o regime não se tinha pronunciado publicamente sobre o assunto.
Publicidade
Traoré, 34 anos, foi empossado em outubro passado como presidente de transição na sede do Conselho Constitucional em Ouagadougou, capital do Burkina Faso.
Aquele militar aceitou o cargo depois de ter sido nomeado presidente transitório, chefe de Estado e chefe supremo das Forças Armadas por uma conferência nacional.
O líder militar, o mais jovem chefe de Estado do mundo, foi nomeado presidente transição por cerca de 300 delegados (representantes políticos, militares, religiosos e da sociedade civil) das treze regiões do Burkina Faso, que se reuniram para acordar um roteiro que permita um regresso à ordem constitucional.
Assim, Ibrahim Traoré deverá liderar a transição política por 21 meses e cumprir a palavra, passando depois o poder para os civis.
O capitão reuniu-se em outubro em Ouagadougou com uma delegação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e garantiu que vai respeitar o calendário que aquela organização acordou com o seu antecessor, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba. Esse calendário prevê o retorno da ordem constitucional a 1 de julho de 2024, o mais tardar.
O Burkina Faso teve um segundo golpe de Estado no espaço de um ano a 30 de setembro, após o que tinha sido liderado em 24 de janeiro por Damiba.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.