Presidente do Comité de Sanções da ONU, Elbio Roselli, vai a Guiné-Bissau para analisar o impacto das sanções impostas a vários militares guineenses e evolução da situação política no país.
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Durante a sua estada em Bissau, Elbio Roselli vai reunir-se com as autoridades guineenses, incluindo o primeiro-ministro, Umaro Sissoco Embaló, e o chefe de Estado, José Mário Vaz, com os líderes do Partido da Renovação Social (PRS) e PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), a sociedade civil e a comunidade internacional.
O presidente do Comité de Sanções, que termina na quinta-feira (15.06.) a visita à Guiné-Bissau, vai também reunir-se com alguns dos militares a quem foram impostas sanções, na sequência do Golpe de Estado de abril de 2012.
"O presidente do Comité de Sanções das Nações Unidas pretende com a visita receber informações sobre o impacto das sanções, familiarizar-se com os últimos acontecimentos políticos e melhorias de segurança no país e reiterar o apoio total do Comité de Sanções à restauração da ordem constitucional na Guiné-Bissau", refere um comunicado do Governo guineense.
Recorde-se que em maio de 2012, o Conselho de Segurança da ONU aplicou sanções aos responsáveis envolvidos na alteração da ordem Constitucional [golpe de Estado de abril], nomeadamente o general António Indjai, general Mamadu Turé, general Estevão Na Mena, general Ibraima Camará e o tenente-coronel Daba Naualma."A visita é realizada em cumprimento da sugestão contida no último relatório do Secretário-Geral sobre progressos realizados no que se refere à estabilidade e restauração da ordem constitucional na Guiné-Bissau", lê-se ainda na nota do Governo da Guiné-Bissau.
ONU preocupada com a prolongada crise guineense
Em maio, o Conselho de Segurança da ONU manifestou preocupação com a prolongada crise política e institucional na Guiné-Bissau e pediu ao Presidente do país, José Mário Vaz, para nomear um novo primeiro-ministro, cumprindo o Acordo de Conacri. Em relação aos militares, a ONU saudou o facto de se manterem nos quartéis, apesar do impasse político que persiste no país.
O Acordo de Conacri, patrocinado CEDEAO, prevê a formação de um governo consensual integrado por todos os partidos representados no parlamento e a nomeação de um primeiro-ministro de consenso e da confiança do chefe de Estado.O Conselho de Segurança da ONU pediu também aos atores políticos guineenses para colocarem o interesse do povo da Guiné-Bissau em primeiro lugar e exigiu a todos os líderes para "respeitarem o compromisso de trazer estabilidade" ao país com um "diálogo genuíno, inclusivamente sobre a revisão Constitucional".
Restaurar confiança dos parceiros
Ainda sobre o Acordo de Conacri, o Conselho de Segurança salientou que a sua implementação pode ser "uma forma de restaurar a confiança dos parceiros e permitir que a comunidade internacional cumprisse os compromissos assumidos durante a Conferência de Bruxelas de março de 2015 de apoio ao programa "Terra Ranka'" para o desenvolvimento do país.
Numa missão realizada em abril para avaliar o cumprimento do Acordo de Conacri, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) admitiu aplicar, até final de maio, sanções a quem estiver a impedir a sua implementação, mas na cimeira de chefes de Estado e de Governo da organização da África Ocidental a 04 de junho a CEDEAO apenas prolongou por mais três meses a presença da ECOMIB, a força de interposição no país.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.