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Presidente do Mali lembra promessas financeiras da Europa

Dirke Köpp | Eric Topona | ms
8 de fevereiro de 2019

Em entrevista à DW, chefe de Estado do Mali pede mais apoio para a segurança no Sahel. De visita à Alemanha, Ibrahim Boubacar Keita elogia esforços de Berlim para ajudar o país a enfrentar desafios da reforma do Estado.

Presidente Ibrahim Boubacar Keita foi recebido em Berlim pela chanceler Angela MerkelFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Sohn

O Presidente do Mali está desde quinta-feira (07.02) em visita oficial à Alemanha. Ibrahim Boubacar Keita foi recebido esta sexta-feira (08.02), em Berlim, pela chanceler alemã, Angela Merkel.

Em entrevista exclusiva à DW, o chefe de Estado assegura que a implementação do acordo de paz assinado entre o Governo e os grupos armados, em 2015, "não está a demorar". Cerca de cinco mil combatentes, incluindo supostos jihadistas, já estão inscritos no processo de desarmamento lançado no centro do país.

Ibrahim Boubacar Keita também pede à comunidade internacional para desbloquear finalmente os 423 milhões de euros prometidos para financiar a força militar conjunta G5 do Sahel, o grupo que combate o terrorismo jihadista na região e que, além do Mali, é composto pelo Burkina Faso, Mauritânia, Níger e Chade.

G5 combate o terrorismo jihadista na região do SahelFoto: Getty Images/AFP/D. Benoit

DW: Está em Berlim para aprofundar as relações entre o Mali e a Alemanha. Os dois países estão ligados há muito tempo: a Alemanha foi o primeiro país a reconhecer a independência do Mali, em 1960. O que espera desta visita?

Ibrahim Boubacar Keita (IBK): Antes de mais, gostaria de agradecer à senhora Merkel, que me convidou para vir a Berlim, para podermos trocar pontos de vista sobre a atual cooperação e avaliar em conjunto as áreas em que poderemos aumentar essa cooperação. Um ponto-chave, como mencionou, é que a Alemanha foi o primeiro país a reconhecer a independência do Mali, algo que significa muito para nós. E atualmente a nossa cooperação é cada vez mais forte.

DW: Que novas ideias de cooperação vai propor à chanceler Angela Merkel?

IBK: Em primeiro lugar, gostaria de discutir com ela em que ponto se encontra a nossa cooperação, que diz respeito a questões de governança democrática e de apoio institucional. Por exemplo, a Alemanha ajudou-nos a criar um centro de formação para as autoridades locais [no processo de descentralização da administração]. Isso é muito importante para nós. Esta descentralização deve existir realmente e deve ser adaptada à população, ao seu quotidiano e às suas necessidades. A Alemanha ajudou-nos nesse processo. O Mali é um país que enfrenta muitos desafios em termos de segurança - estamos no meio do Sahel. E a Alemanha também nos apoia nesse capítulo.

Dirke Köpp e Eric Topona entrevistaram Ibrahim Boubacar Keita em BerlimFoto: DW

DW: Em 2015, foi assinado um acordo de paz entre o Governo e os grupos armados. Mas parte da opinião pública mostra-se impaciente, não apenas no Mali, mas também na Alemanha, porque está a demorar muito tempo a implementar esse acordo. O que está a bloquear essa implementação?

IBK: A implementação do acordo não está a demorar, apesar de por vezes existir essa impressão. É óbvio que o Governo maliano está a fazer grandes esforços e a trabalhar diariamente para fazer avançar o tratado de paz. A nível institucional, criamos novas regiões que estão a funcionar há cerca de um ano e meio. Há também outras iniciativas em curso para que o processo possa avançar rapidamente. Depois de uma crise como esta, com grupos armados a atacar o Governo, é necessário ter paz e estabilidade sustentáveis.

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Portanto, decidimos desarmar os rebeldes. Mas quando há desarmamento, também é preciso oferecer perspetivas de desmobilização, desarmamento e reintegração. Como a implementação do processo de desmobilização, desarmamento e reintegração é muito demorado, decidimos desenvolver um conceito para acelerá-lo. Graças a este novo sistema, 1.500 homens já foram desmobilizados e desarmados e estão atualmente a ser integrados. Em breve esperamos chegar aos 5.000 e, por fim, aos 20.000. O processo não está a demorar muito. Está a avançar consoante as nossas condições - financeiras, por exemplo. Porque tem havido muitas conferências de doadores, mas há uma diferença entre as ajudas financeiras que foram anunciadas e o que chegou às nossas contas. Mas, apesar desta situação difícil e da falta de dinheiro, a economia do Mali está a fazer bons progressos.

DW: Os países que fazem parte do G5 do Sahel - Mali, Burkina Faso, Chade, Níger e Mauritânia - encontraram-se esta semana. Mas continua a faltar o dinheiro prometido a esta força militar conjunta. O que sugere para que a situação do G5 possa melhorar?

IBK: Costumo recorrer à imagem de uma barragem [quando falo do Sahel]. Se rebentar, as aldeias serão inundadas. Muitos terroristas que estão a ser combatidos por forças internacionais na África Oriental estão a fugir para o Sahel. E a situação anárquica na Líbia favorece esse cenário. Se um dia a barragem do Sahel rebentar, vai chegar à Europa. Portanto, também temos uma missão universal. E não compreendo por que motivo a boa vontade demonstrada inicialmente não se concretizou ainda. São cerca de 423 milhões de euros. Não é uma soma astronómica! Ainda assim, ainda não chegou. É uma pena.

DW: Mas os cinco países envolvidos ainda não enviaram o número total de soldados prometidos para a missão do G5 do Sahel.

IBK: Em termos de recursos humanos e financeiros, é um grande esforço para os nossos países, que têm poucos recursos internos. O Mali, por exemplo, investe 22% das receitas do Estado em segurança e defesa. É muito. Era melhor investir esse dinheiro na educação, na saúde, em infraestruturas, na agricultura. Se não tivéssemos começado o G5, era o que faríamos hoje.

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