O recém-eleito Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, deverá tomar posse nesta sexta-feira (02.04), num divisor de águas democrático, mas marcado pela violência jihadista e um alegado golpe de estado, há dois dias.
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A tomada de posse de Mohamed Bazoum marcará a primeira transição entre os presidentes eleitos nas seis décadas de independência do Níger em relação à França - é um momento histórico que tem sido amplamente elogiado.
Na madrugada de quarta-feira (30.03), depois de terem sido deflagrados tiros próximo da presidência na capital, Niamey, o Governo anunciou que uma"tentativa de golpe"tinha sido frustrada - um "acto cobarde e regressivo que procurava ameaçar a democracia e o estado de direito", afirmaram fontes oficiais.
O alegado líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey e está a ser "activamente procurado", disse uma fonte dos serviços de segurança do Níger à agência de notícias AFP na quarta-feira (30.01).
Outra fonte de segurança afirmou que "alguns membros do exército" tinham estado por detrás do golpe, mas foram impedidos de se aproximarem do palácio presidencial pela Guarda Presidencial de elite.
Houve "algumas detenções", disse a mesma fonte.
ONU manifestou preocupação
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, foi um dos líderes estrangeiros a manifestar preocupação, e chamou as Forças Armadas "a cumprirem rigorosamente as suas obrigações constitucionais".
Bazoum, 60 anos, é um ex-ministro do Interior e braço direito do Presidente cessante Mahamadou Issoufou, 68 anos. Foi eleito no segundo turno das presidenciais, em fevereiro, com 55,6% dos votos de acordo com os resultados oficiais, porém contestados pelo seu adversário, Mahamane Ousmane.
O Níger é o país mais pobre do mundo, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU de 189 nações.
A nação da África Ocidental sofreu quatro golpes de Estado na sua história, o mais recente dos quais, em fevereiro de 2010, derrubou o então Presidente Mamadou Tandja.
O país foi também devastado por repetidos ataques jihadistas, que avançaram do Mali, no oeste, e da Nigéria, no sudeste.
Mais de 300 pessoas foram mortas em três ataques no Ocidente desde o início do ano.
O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló viajou nesta quinta-feira (01.04) para o Níger para participar na cerimónia de tomada de posse do novo chefe de Estado daquele país, Mohamed Bazoum.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.