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"Precisamos de tecnologia para combater o terrorismo"

Dirke Köpp
10 de julho de 2021

De visita à Alemanha, Mohamed Bazoum falou à DW sobre a luta contra o terrorismo no Sahel e as medidas do governo nigerino contra o recrutamento de jovens para estes grupos.

Deutschland l Besuch des Nigerianischen Präsidenten in Berlin
Foto: Presse- und Kommunikationsdienst der Präsidentschaft von Niger

Mohamed Bazoum tomou posse como Presidente em abril naquela que foi a primeira transferência democrática de poder do Níger.

Para além se ser, atualmente, o país mais pobre do mundo, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas, o Níger também está a ser devastado pela violência de extremistas islâmicos e grupos armados ativos nas regiões fronteiriças com o Mali e o Burkina Faso.

De visita à Alemanha, para um encontro com a chanceler alemã Angela Merkel, o Presidente Bazoum falou com a DW sobre como planeia combater o terrorismo no seu país.

DW: A França disse que irá reduzir o número das suas tropas no Sahel. Espera que a Alemanha faça o mesmo?

Mohamed Bazoum (MB): Não, não é essa a questão. Veja que a França está a reduzir o número dos seus soldados porque eles não estão a ser necessários. Não precisamos de soldados no terreno no âmbito de operações militares anti-terrorismo. Precisamos dos nossos parceiros europeus para coisas que não podemos fazer. Em termos concretos, precisamos dos meios, da tecnologia que não temos, para informação, para inteligência, para aviões de reconhecimento... Toda a informação tecnológica. Os europeus têm isto e nós não! Por exemplo, não temos qualquer capacidade aérea significativa para ajudar os soldados durante as operações em terra. Os nossos parceiros franceses e alemães poderiam ajudar-nos a colmatar esta lacuna. Precisamos realmente de um tipo de forças especiais que possam utilizar estas tecnologias que nós não temos. Dessa forma, poderíamos complementar-nos uns aos outros. Soldados no terreno são uma questão nossa, não dos parceiros.

DW África: Quer isto dizer que continua a apoiar a luta militar contra o jihadismo? A luta contra o terrorismo não deveria ser reforçada por mais desenvolvimento e coesão social?

MB: Atualmente, estamos a combater os terroristas nos locais onde eles assumiram o controlo de áreas, onde utilizam a violência para oprimir a população e alargar ainda mais o seu controlo. Os terroristas estão a cobrar impostos à poopulação. Proibiram e fecharam escolas. Os centros de saúde não estão a funcionar. A administração pública em áreas controladas por terroristas também não estão a funcionar. Esta é a nossa prioridade neste momento. Mas é claro, temos também a questão do desenvolvimento. Mas não devemos confundir os dois.

O chefe de Estado do Níger esteve em Berlim para um encontro com a chanceler alemã Angela MerkelFoto: Presse- und Kommunikationsdienst der Präsidentschaft von Niger

DW África: Os líderes do Mali recomendaram a realização de um diálogo com os jihadistas. Seria essa uma opção para o Níger?

MB: A situação no Níger é diferente da do Mali. Não temos nenhum jihadista nigerino que esteja à frente de um movimento terrorista que nos mande queixas ou faça exigências, porque nós somos principalmente afetados pela ação do Estado Islâmico para o Grande Saahra [ISGS] e do Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (JNIM). Os chefes destas duas organizações não são nigerinos. Do ISGS são malianos. E no JNIM, é um Sahrawi [povo do Sahara Ocidental]. Portanto, enquanto não nos encontrarmos numa situação deste tipo, não podemos dizer que queremos ou não queremos diálogo. Se tivéssemos identificado parceiros ou se houvesse pessoas a dizer "somos os vossos parceiros", então poderíamos pensar no assunto.

DW África: Há muitos nigerinos que se juntam a estes grupos terroristas. O que está a fazer para o evitar?

MB: Estamos a desenvolver ações concretas nas comunidades para explicar esta situação e o que está em jogo, para educar as pessoas. Infelizmente, não posso tornar público o que estamos exatamente a fazer. Sabemos que estes jovens nigerinos que se juntam a estes grupos terroristas não o fazem por convicção ideológica ou convicção islâmica radical. Pelo contrário, eles juntam-se porque acreditam que encontrarão algo para comer e sobreviver. Às vezes, eles encontram nestes grupos algum rendimento e isso leva outros a segui-los. Basicamente, é a isto que se resume o terrorismo em África.

DW África: Foi Ministro do Interior e da Segurança Pública durante quatro anos. O que não conseguiu fazer durante esse tempo para que o Níger chegasse onde está hoje: com massacres, ataques que resultam em mais de 200 mortos...?

MB: A situação deteriorou-se, especialmente no Mali, temos de admitir. Os grupos terroristas expandiram aí as suas bases. E mais jovens estão a juntar-se ao movimento.

DW África: E acha que as tecnologias de inteligência que mencionou, ajudariam a identificar previamente os agressores que estão a atacar aldeias, por exemplo?

MB: Se tivéssemos radares, se tivéssemos sistemas de apoio inteligentes, se tivéssemos helicópteros, a nossa abordagem teria sido completamente diferente. Se [na Alemanha] ficam chocados quando ouvem que inúmeras pessoas estão a morrer, então podem imaginar como deve ser para alguém como eu: o chefe do Estado. Alguém que se espera que lide com tais situações, que as previna e que assegure que não voltem a acontecer. É ainda mais difícil!

Conheça a luta livre tradicional, o desporto-rei no Níger

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