"Não houve irregularidade na aquisição das viaturas"
Leonel Matias (Maputo) | Lusa
11 de julho de 2017
Presidente do Parlamento moçambicano, Verónica Macamo, reagiu esta terça-feira (11.07.) pela primeira vez, à polémica sobre a aquisição de 17 viaturas de luxo para os membros da Comissao Permante daquele orgão.
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A aquisição de viaturas Mercedes-Benz no valor de 74.500 euros cada para os 17 deputados da Comissão Permanente do Parlamento moçambicano continua a gerar uma forte polémica em Moçambique, numa altura de crise e aumento do custo de vida no país.
A Presidente do Parlamento, Verónica Macamo, afirmou a jornalistas que não houve qualquer irregularidade na aquisição das viaturas para os membros da Comissão Permanente daquele órgão. "Se repararem na lista protocolar, os membros da Comissão Permanente estão efetivamente acima dos ministros [e estes andam em viaturas protocolares Mercedes-Benz], portanto, em termos legais, em termos de procedimentos não vemos eftivamente nenhum problema”.
País atravessa uma das piores crises económica e financeira
A aquisição das viaturas de luxo tem sido contestada por vários segmentos da sociedade e pela oposição parlamentar, argumentando que o país está a atravessar uma das piores crises económica e financeira da sua história.A crise agravou-se em 2016 na sequência da suspensão da assistência financeira internacional ao país após a descoberta de dívidas contraídas por três empresas com garantias do Estado sem o conhecimento do Parlamento e dos parceiros internacionais.
Comentando sobre o assunto, Verónica Macamo sublinhou que "nós não somos tão irresponsáveis efetivamente para comprar carros nesta altura. Não há ninguém que faria uma coisa dessas. Aliás quando o Governo faz a encomenda tem em conta os preços etc, etc. e vê as vantagens de pagar numa altura para os carros chegarem numa outra altura”.
polémica "compra de carros de luxo"
É imoral a medida, considera RENAMO
A DW África registou o posicionamento da bancada parlamentar da RENAMO. Ivone Soares é a chefe da bancada do maior partido da oposição.
"Nós nunca dissemos que há alguma irregularidade ou alguma ilegalidade na aquisição das viaturas. O que a bancada parlamentar da RENAMO tem estado a dizer de forma reiterada é que o problema que nós temos é a questão da pobreza, da miséria, em que vive a maior parte do povo moçambicano e que acaba tornando imoral ser atribuída viatura protocolar da marca Mercedes-Benz neste caso aos titulares ou aos membros de órgãos de soberania”.
O processo de aquisição das referidas viaturas é anterior a atual crise económica, segundo afirmou a Presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo.
"O que nos foi dito pelo primeiro-ministro, corroborado pelo ministro da Economia e Finanças é que efetivamente a encomenda foi feita em 2015. Portanto, os carros estão a chegar agora mas já foram encomendados há bastante tempo."
Por seu turno, a chefe da bancada da RENAMO, Ivone Soares disse que não é prioridade neste momento a afetação de viaturas luxuosas a membros da Comissão Permanente do Parlamento, para além de que as mesmas têm limitação nas estradas do país.
“Tem de haver um debate sobre despesas do Estado porque no Estado como sabe há mais de 150 Mercedes que foram atribuídos aos vários titulares. Então, é preciso que o Estado decida que meios de transporte quer que sejam alocados para os titulares de órgãos de soberania e que meios de transporte quer que sejam adquiridos para o transporte do povo em geral”.
País pobre com táxis de luxo
Táxis e autocarros da Mercedes-Benz definem o cenário nas ruas de Bissau. Quase todos os taxistas deste país pobre conduzem viaturas da construtora alemã de carros topo da gama, sobretudo modelos a gasóleo dos anos 80.
Foto: DW/B. Darame
Táxis da Mercedes-Benz por todo o lado em Bissau
Nas estradas da Guiné-Bissau, país situado na África Ocidental, prevalecem carros da marca Mercedes-Benz. Apesar deste ser um dos países mais pobres do mundo, ocupando a 12ª posição a contar do fim no índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas, quase todos os taxistas conduzem viaturas da Daimler, construtora alemã de carros topo da gama.
Foto: DW/B. Darame
Modelos resistentes a gasóleo
Os modelos mais resistentes são também os mais procurados. Ao contrário dos modelos modernos, os mais antigos podem ser reparados pelos proprietários e condutores sem conhecimentos de informática. Quase a totalidade dos transportes públicos de Bissau, com os seus 400 000 habitantes, é operada com táxis coletivos e mini-autocarros da marca Mercedes-Benz.
Foto: DW/B. Darame
Amado conduz este Mercedes-Benz desde 1999
Um tio que emigrou para a Alemanha em 1997 enviou este Mercedes para Bafatá, no leste do país, para apoiar a família. Em 1999, o carro foi levado para a capital, Bissau. Desde então serve de ganha-pão ao taxista Amado. As receitas chegam para pagar o almoço e o jantar a toda a família.
Foto: DW/B. Darame
Todos os táxis são táxis coletivos
Tal como todos os taxistas em Bissau, também Amado recolhe sempre vários passageiros que querem ir mais ou menos para o mesmo lado. Os táxis de Bissau estão quase sempre em movimento. Se ainda há um lugar livre, pode-se mandar parar o táxi. Mas o destino deve ser próximo daquele dos restantes passageiros. Também é possível ter o uso exclusivo do táxi, mas é mais caro.
Foto: DW/B. Darame
Painéis dos anos 80
Uma apreciação do interior da viatura revela instrumentos clássicos dos anos 80. Este é o interior de um modelo 190D da série Mercedes-Benz W201. Entre 1982 e 1993 foram produzidos cerca de 1,8 milhões de exemplares deste predecessor da atual classe C. Olhando com atenção deteta-se no lado direito da imagem uma bandeira alemã. Este género de símbolos é muito popular entre os taxistas.
Foto: DW/B. Darame
Oficina da rua
Muitos táxis já têm mais de um milhão de quilómetros de rodagem, e, por isso, sofrem de numerosos defeitos. A reparação torna-se assim num negócio rentável, no qual se especializaram várias oficinas da rua. Sobretudo os jovens aprendem aqui como reparar os modelos da Mercedes-Benz, ocupação que lhes garante o sustento.
Foto: DW/B. Darame
Carros canibalizados
Hoje em dia é fácil obter em Bissau todas as peças sobressalentes dos modelos mais comuns da Mercedes-Benz. Elas não são importadas da Alemanha, mas extraídas dos numerosos táxis cujas carroçarias já não resistem ao uso. As viaturas são canibalizadas e usadas como depósito de peças de reposição. Neste caso foi extraído o bloco completo do motor para ser inserido noutro táxi.
Foto: DW/B. Darame
Investimento conjunto
Sete guineenses juntaram-se para comprar este táxi Mercedes-Benz. Com a matrícula, 42-11-CD, é um dos táxis mais conhecidos da cidade. No fim do mês, o condutor paga o aluguer aos proprietários. Quando o negócio anda de vento em popa, sobra o equivalente a 75 euros para cada um. O que na Guiné-Bissau é uma pequena fortuna. O rendimento médio per capita no país é inferior a 50 euros mensais.
Foto: DW/B. Darame
O modelo para carreiras de longo curso
O modelo 240TD da série 123 foi construído de 1975 a 1986, e é conhecido pelo nome de "sete plass" (sete lugares) na Guiné-Bissau. Este carro é considerado muito resistente e usado, sobretudo, para carreiras de longo curso. Este táxi coletivo faz a carreira de Bissau para Ziguinchor, na Casamansa (Casamance), no vizinho Senegal. A publicidade no para-brisas revela a sua origem.
Foto: DW/B. Darame
Furgonetas da Mercedes para rotas fixas
Enquanto os pequenos táxis coletivos têm rotas flexíveis, as grandes furgonetas da Mercedes-Benz cumprem carreiras fixas. É o caso deste mini-autocarro do tipo 210D ("Mercedes Transporter"), chamado de "toca-toca", que faz a ligação entre o centro da cidade o Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira em Bissau, como se pode ler na placa que diz “Aeroporto”.
Foto: DW/B. Darame
Miríade de tipos
Também há vários tipos de mini-autocarros, mas a preferência dos motoristas pelos modelos da Mercedes-Benz é evidente. Os carros desta marca têm a fama de ser resistentes. O furgão do tipo 210D foi construído na fábrica de Bremen, no norte da Alemanha, entre 1977 e 1995. Deste modelo de nome “Bremer Transporter” foram fabricados 970.000 unidades. Hoje ele é construído sob licença na Índia.
Foto: DW/B. Darame
A importação é sempre de segunda mão
Tanto as furgonetas amarelas e azuis que servem de mini-autocarro como os táxis azuis e brancos são geralmente importados em segunda mão. Normalmente os carros oriundos da Europa entram em África via Banjul, cidade portuária na vizinha Gâmbia. Daí seguem via sul do Senegal e norte da Guiné-Bissau para a capital, Bissau. Onde são pintados nas cores típicas.
Foto: DW/B. Darame
Parte integrante do cenário de Bissau
Na imagem, vários táxis pintados em azul e branco seguem numa estrada secundária de terra batida em Bissau. Os táxis da Mercedes-Benz são hoje parte integrante do cenário da capital da Guiné-Bissau. Como as viaturas são muito resistentes e fáceis de reparar, é muito provável que os modelos dos anos 80 e do início da década 90 ainda possam ser admirados por muito tempo nas ruas de Bissau.