Presidente do Ruanda inicia novo mandato com promessa de paz
Lusa
11 de agosto de 2024
O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, foi empossado este domingo (11.08) para um quarto mandato, comprometendo-se a "preservar a paz e a soberania nacional" e a "consolidar a unidade nacional".
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Várias dezenas de chefes de Estado e outros dignitários africanos viajaram para assistir à cerimónia de tomada de posse, realizada este domingo (11.08) à tarde num estádio de 45.000 lugares na capital, Kigali, onde a multidão se foi concentrando desde o início da manhã.
Entre os presentes, encontram-se os Presidentes de Angola, João Lourenço, e de Moçambique, Filipe Nyusi, e o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada.
A sua reeleição nas presidenciais de 15 de julho era esperada, dado o seu controlo com mão-de-ferro sobre o destino deste pequeno país da região dos Grandes Lagos de África desde o genocídio de 1994.
Segundo a comissão eleitoral, venceu as eleições com 99,18% dos votos, resultado que ativistas dos direitos humanos apontaram como uma forte prova da falta de democracia no Ruanda.
Depois de ter atingido o limite de dois mandatos de sete anos, Kagame pôde voltar a candidatar-se em 2017, graças a uma controversa alteração constitucional introduzida dois anos antes, que consagrou um mandato de cinco anos - com a manutenção de um máximo de dois mandatos. Esta reforma poderá permitir-lhe manter-se no poder até 2034.
Paul Kagame é o homem forte do Ruanda desde julho de 1994, quando ele e a rebelde Frente Patriótica Ruandesa (RPF) derrubaram o Governo extremista Hutu que instigou o genocídio no qual, segundo a ONU, morreram mais de 800.000 membros da minoria Tutsi.
É-lhe atribuída a espetacular recuperação económica do país desde então, mas tem também sido criticado pela sua falta de abertura democrática, com ativistas dos direitos humanos e a oposição a acusarem-no de governar num clima de medo, intimidação, detenções arbitrárias, raptos e assassínios.
Apenas dois candidatos foram autorizados a concorrer contra ele nas eleições de julho, tendo os outros seis, incluindo alguns dos opositores mais críticos de Kagame, sido impedidos de o fazer.
Frank Habineza, líder do único partido da oposição autorizado (o Partido Democrático Verde, DGPR), e o independente Philippe Mpayimana obtiveram 0,50% e 0,32% dos votos, respetivamente.
O Presidente João Lourenço deverá manter conversações com Kagame sobre o acordo de cessar-fogo na RDCongo, alcançado no mês passado com a mediação angolana, anunciou Luanda.
Angola negociou o acordo após uma reunião entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da RDC e do Ruanda. Mas a 4 de agosto, dia em que deveria entrar em vigor, os rebeldes do M23, que se apoderaram de vastos territórios no leste da RDC desde que lançaram a sua ofensiva no final de 2021, tomaram o controlo de uma cidade na fronteira com o Uganda.
Com 65% da população com menos de 30 anos, a maioria dos ruandeses só conheceu como Presidente Paul Kagame, que ganhou todas as eleições presidenciais que disputou sempre com mais de 93% dos votos.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.