Centenas de milhares de manifestantes foram para as ruas, na semana passada, pedir a demissão do Presidente Faure Gnassingbé. Mas a oposição não acredita em mudanças.
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O Parlamento do Togo poderá discutir na terça-feira (12.09) uma reforma constitucional, após vários dias de protestos na semana passada. Centenas de milhares de togoleses foram para as ruas em diversas cidades pedir a demissão do Presidente Faure Gnassingbé e a limitação do número de mandatos do chefe de Estado.
Na capital Lomé, as manifestações ocorreram de forma pacífica na quarta-feira, mas as forças de segurança reprimiram os protestos nos dias seguintes. Mais de 80 pessoas foram detidas entre quinta e sexta-feira. Grupos de direitos humanos afirmaram no domingo que todos os presos foram libertados, embora não houvesse confirmação oficial das autoridades.
A situação terá estabilizado no fim-de-semana. Segundo a agência de notícias France Presse, depois da violência policial, as ruas de Lomé estavam calmas. Os serviços de internet móvel foram interrompidos.
Dúvidas da oposição
O Presidente Faure Gnassingbé está no poder desde 2005, quando morreu o seu pai, Gnassingbé Eyadéma. A família Gnassingbé está no poder desde 1967, após um golpe militar.
Na terça-feira passada, o Conselho de Ministros aprovou um projeto-lei para limitar os mandatos presidenciais. E após os protestos, o Parlamento prometeu discutir nesta semana mudanças na Constituição.
Presidente do Togo sob pressão
Mas a oposição togolesa não acredita que o Parlamento altere realmente a Constituição e desconfia que esta é mais uma estratégia do Governo. "Não estamos à espera de nada. Ainda não conhecemos os detalhes da legislação. Nesta altura, é difícil falar sobre isso", disse Eric Dupuy, porta-voz da coligação da oposição CAP 2015 em entrevista à AFP.
Na Alemanha, o político togolês Clement Klutse, que fugiu do Togo há 20 anos, também não confia no Executivo: "Todos sabem que esse Governo tem manipulado as pessoas", afirma. "O mesmo Governo levou este projeto-lei ao Parlamento há dois anos, mas o projeto foi rejeitado pelos seus deputados. Agora, sob pressão da oposição, pretendem levar esta lei de volta ao Parlamento, mas a população quer a renúncia do Presidente".
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.