Robert Mugabe demitiu o seu vice-presidente e aliado de longa data, Emmerson Mnangagwa. Segundo especialistas, foi eliminado um obstáculo às ambições presidenciais de Grace Mugabe, esposa do atual Presidente.
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Robert Mugabe não anunciou imediatamente quem será o próximo vice-presidente do Zimbabué, mas analistas acreditam que ele provavelmente nomeará a sua esposa Grace Mugabe para o cargo, em breve.
Presidente do Zimbabué demite vice-presidente
Robert Mugabe demitiu Mnangagwa citando deslealdade e falha em cumprir as suas funções de maneira confiável, foi o que declarou em conferência de imprensa o ministro zimbabueano da Informação, Simmon Khaya-Moyo, acrescentando que a demissão tem efeito imediato.
Porém, a queda de Mnangagwa acontece pouco depois que seus seguidores supostamente vaiaram Grace Mugabe durante um comício do vice-presidente realizado no sábado passado em Bulawayo, segunda maior cidade do país.
Razões contraditórias
O Presidente e Grace Mugabe acusaram Mnangagwa de dividir o partido no poder, a União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF). Também acusaram o vice-presidente deposto de conspirar para derrubar o líder de longa data do Zimbabué. Mugabe está no poder desde a independência, em 1980.
"Tornou-se evidente que a sua conduta no cumprimento de seus deveres tornou-se inconsistente com suas responsabilidades oficiais. O vice-presidente exibiu consistentemente e persistentemente traços de deslealidade, desrespeito, traição e falta de confiabilidade. Ele também demonstrou pouca probidade na execução de seus deveres ", declarou o ministro da Informação, Simmon Khaya-Moyo.
Nos últimos dias, Mugabe e a sua mulher tinham advertido em comícios da possível destituição do vice-presidente. No último fim de semana, Robert e Grace Mugabe insinuaram abertamente a demissão de Mnangagwa em comícios em Harare e Bulawayo, a segunda maior cidade do país. Mugabe, de 93 anos, anunciou que se candidatará às eleições de 2018, embora alguns altos cargos do seu partido se tenham postulado a substituí-lo no poder.
Grace Mugabe está agora a pressionar para que a constituição do partido seja alterada num congresso extraordinário previsto para dezembro com o objectivo de incluir uma cláusula que reserve o posto de vice-presidente para uma mulher.
"Se ninguém quise tomar medidas disciplinares contra Mnangagwa, eu farei isso sozinha. Quem se vira contra a liderança escolhida, está acabado", avisou a primeira-dama.
População preocupada
Os zimbabueanos estão preocupados com a escalada de conflitos pela sucessão no partido no poder do Zimbabué.
"Há bênçãos e maldições. Maldições na medida em que o foco não está mais em questões económicas ou em estabilizar o que está a acontecer. As pessoas estão a sofrer. Todo o programa de dinastia que Mugabe tem, não queremos mais isso. Queremos alguma mudança", afirmou um zimbabueno.
Outro cidadão disse que esperava ver as pessoas no Governo mais unidas, assim como no partido no poder. "Quando a primeira-dama entrar no poder, como é o mais provável, devemos preparar-nos para mais caos. Não acho que isso seja bom para a nossa economia”, concluiu.
Mudança necessária
Críticos dizem que a fome de Grace Mugabe pelo poder e os gastos avultados são prejudiciais para o Zimbabué. Linda Masarira, ativista de direitos civis, teme o pior.
"O que acontecerá se ela assumir as rédeas do poder? Ela já nos mostrou que tem fome de poder e só quer acumular todas as riquezas que coneguir obter", sublinhou a ativista.
Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, foi amplamente especulado como o possível sucessor de Robert Mugabe. Ele foi nomeado vice-presidente em dezembro de 2014, depois de a ex-vice-presidente, Joice Mujuru, ter sido demitida sob alegações de tentar derrubar o Presidente.
Protestos no Zimbabué podem trazer mudanças?
Há cada vez mais zimbabueanos a protestar nas redes sociais e a ir para as ruas. Conhecido em tempos como o celeiro de África, o país enfrenta agora graves problemas económicos. Os manifestantes pedem uma nova liderança.
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
Contra a fome
Centenas de mulheres saíram às ruas de Bulawayo, a segunda maior cidade do Zimbabué, a 16 de julho. Levavam na mão tachos e panelas em que batiam com colheres de pau para denunciar as dificuldades económicas e fome no país. "Estamos a aquecer ainda mais a panela que já está a ferver. Vamos aquecer a panela até que Mugabe saia", cantavam as mulheres da campanha #BeatThePot (#BateOTacho).
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
O pastor e a bandeira
Em abril de 2016, o pastor Evan Mawarire lançou a campanha #ThisFlag (#EstaBandeira) nas redes sociais, exigindo ao Presidente Robert Mugabe que agisse contra a corrupção no Governo. Mawarire convocou para 6 de julho uma paralisação nacional contra as dificuldades económicas - a maioria dos zimbabueanos ficou em casa; na capital, a maior parte das empresas e os bancos estrangeiros não abriram.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Protestos dos taxistas
A 4 de julho, taxistas e condutores de transportes semi-coletivos de passageiros protestaram contra os abusos da polícia. Muitos jovens não conseguem encontrar emprego e, por isso, ganham a vida a transportar passageiros. Mas os motoristas queixam-se dos vários bloqueios policiais na estrada, que, segundo eles, servem para os agentes extorquirem dinheiro a quem por ali passa.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
"Mugabe tem de sair"
Sobe a pressão para o Presidente Mugabe abandonar o cargo, devido à grave crise económica que o país atravessa. Há cada vez mais zimbabueanos descontentes com a alta taxa de desemprego, a corrupção no Governo e a falta de dinheiro, que faz com que as pessoas tenham de esperar horas a fio nos bancos para fazer um levantamento - e só podem levantar 50 dólares por dia (45 euros) na caixa automática.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
Mugabe não quer sair
Robert Mugabe tem mandado as forças de segurança abafar as vozes críticas desde que está no poder, há 36 anos. E continua a não querer deixar a Presidência, apesar de aumentarem os pedidos para que se demita face à crise económica. Mugabe mantém tensas relações com o Ocidente, e os seus aliados asiáticos, como a China e Singapura, não estão dispostos a oferecer a ajuda que o país necessita.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Uma economia estilhaçada
Os cofres do Zimbabué estão virtualmente vazios. Os preços dos produtos aumentaram com a seca no país e a economia ficou ainda mais fragilizada. Do Ocidente chega pouca ajuda, depois das sanções à liderança política do país devido a fraude eleitoral e violações dos direitos humanos.
Foto: AFP/Getty Images
Instituições financeiras relutantes
O Zimbabué não consegue obter nenhum empréstimo no estrangeiro e tenta devolver os 1,8 mil milhões de dólares em atraso ao Fundo Monetário Internacional, Banco Africano de Desenvolvimento e Banco Mundial, para conseguir desbloquear novos financiamentos. Para isso, o Executivo de Mugabe terá de resolver os problemas relacionados com a governação e transparência e levar a cabo reformas económicas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lo Scalzo
Sem fim à vista
Hoje em dia, o Zimbabué já não é o celeiro de África, como foi considerado em tempos. A seca prolongou-se e as colheitas foram más. Agora, são esperados novos protestos. Na última campanha eleitoral, Mugabe prometeu dois milhões de empregos aos jovens licenciados. A promessa continua por cumprir.