Presidente do Zimbabué recua na nomeação de dois ministros
AFP | Reuters | mjp
2 de dezembro de 2017
Um dia depois de ter nomeado o novo Executivo, Emmerson Mnangagwa substituiu os ministros da Educação e do Trabalho. A medida é considerada uma resposta à onda de críticas gerada pela composição do Governo.
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O novo Presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, recuou na nomeação do seu ministro da Educação, um dia depois de ter reconduzido Lazarus Dokora num Executivo que dá posições de destaque a oficiais do Exército. A formação do Governo é vista como uma "recompensa" aos militares pelo seu papel na demissão do antecessor de Mnangagwa, Robert Mugabe.
Emmerson Mnangagwa fez outras mudanças no gabinete do Executivo. O seu assessor, Misheck Sibanda, fala em "ajustamentos para garantir o respeito pela Constituição e considerações de género, demografia e necessidades especiais".
Segundo a Constituição do Zimbabué, os ministros e os seus vices têm de ser membros do Parlamento, exceto cinco que podem ser escolhidos de acordo com as suas capacidades profissionais e competência. Mnangagwa tinha nomeado sete pessoas – incluindo o General Sibusiso Moyo como ministro dos Negócios Estrangeiros e o comandante da Força Aérea Perrance Shiri para a pasta do Território – que não são deputados.
Neste sábado, Emmerson Mnangagwa substituiu o ministro da Educação Lazarus Dokora pelo seu vice, Paul Mavima. A nomeação de Dokora gerou uma onda de críticas nas redes sociais e programas de rádio no país. Os zimbabueanos acusam Dokora de mau desempenho e de minar o sistema nacional de educação.
O chefe de Estado também nomeou a deputada do ZANU-PF Petronella Kagonye para o cargo de ministra do Trabalho e Segurança Social, substituindo o professor Clever Nyathi, que passa agora para conselheiro especial da Presidência para a segurança nacional e reconciliação. Chris Mutsvanga, líder da poderosa associação dos veteranos de guerra, que foi nomeado ministro dos Média, Informação e Radiodifusão, é também agora conselheiro especial do Presidente.
Críticas à "reciclagem" no Executivo
Empossado a 24 de novembro, depois da demissão de Robert Mugabe após uma intervenção militar, Emmerson Mnangagwa está na mira dos críticos pela formação do seu Executivo.
Analistas e cidadãos zimbabueanos esperavam um Governo mais abrangente, que rompesse com a era Mugabe. Mas Mnangagwa "reciclou" vários oficiais e dois nomes, em particular, estão a causar descontentamento: o do titular da pasta dos Negócios Estrangeiros, Sibusiso Moyo, que a 15 de novembro anunciou a intervenção militar na televisão estatal, e o de Perrance Shiri.
O novo ministro do Território é conhecido por ter liderado uma unidade militar que terá alegadamente cometido atrocidades durante a repressão de uma rebelião na província de Matabeleland, no início dos anos 1980, que resultou na morte de 20 mil pessoas.
O novo Executivo, que deverá ser empossado na segunda-feira (04.12), fica também marcado pelo regresso de Patrick Chinamasa ao cargo de ministro das Finanças, apesar de o seu desempenho ter sido fortemente criticado no passado.
Novo Presidente "tem pouca margem" para contrariar expetativas
Entretanto, o líder da oposição zimbabueana, Morgan Tsvangirai, considera que o novo Presidente do Zimbabué tem "muito pouca margem" para ir ao encontro das expetativas de mudança no país, sobretudo a um ano das eleições.
Em entrevista à agência noticiosa Associated Press (AP), em Harare, Tsvangirai defendeu que o novo chefe de Estado, que sucedeu há quase uma semana a Robert Mugabe, afastado na sequência de um golpe militar, terá "muitas dificuldades" em "convencer seja quem for" de que a nova liderança do país vai melhorar a situação rapidamente, sobretudo a crise económica que assola o país.
O líder da oposição zimbabueana, que chefiou, ao lado de Mugabe, uma inédita coligação governamental após as eleições presidenciais de 2008, votação marcada por atos de violência, confrontos e ilegalidades, afirmou não ter qualquer dúvida de que a liderança de Mnangagwa não trará alterações significativas ao atual panorama político, económico e social.
"O Presidente tem de demonstrar que é diferente de Robert Mugabe, que algumas das políticas críticas que pretende impor são diferentes das que foram implementadas nos últimos 10 anos", sublinhou Tsvangirai. "Deem-lhe tempo, mas penso que tem uma janela muito pequena, uma vez que as expectativas (da população) são muito grandes".
De herói a vilão: a vida de Robert Mugabe
Depois de 37 anos no poder, chega ao fim a governação do humilde camponês que se tornou, aos olhos de muitos, um ditador. Robert Mugabe renunciou à Presidência do Zimbabué.
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Origens humildes
Nascido, em Harare, no seio de uma família humilde – o seu pai era carpinteiro e a sua mãe professora – Robert Gabriel Mugabe foi educado numa escola jesuíta até se tornar professor primário. Entre os anos de 1942 e 1960, exerceu na antiga Rodésia, Zâmbia e no Gana. Estudou Inglês, História, Educação e tirou uma licenciatura em Economia, na Universidade de Londres.
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Uma década detido
Aos 36 anos, Mugabe dá inicio à sua luta política focada na independência da Rodésia do Sul do Reino Unido. Funda a União Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica (ZANU-PF) em 1963 e, um ano depois, é preso. Em 1974, altura em foi libertado, Mugabe vai para Moçambique, onde liderou uma guerrilha contra o Governo de minoria branca de Ian Smith. Em 1979, Mugabe voltou ao seu país.
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Mugabe torna-se primeiro-ministro
Em 1980, Robert Mugabe é eleito primeiro-ministro da ex-Rodésia do Sul. Em abril deste ano, é declarada a independência do país que passa a chamar-se “Zimbabué”. Na altura, Mugabe afirmou: "O facto de os brancos nos terem oprimido no passado quando detinham o poder jamais poderá justificar que, hoje, os negros os oprimam só porque agora detêm o poder".
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Povo esperançoso
A subida de Mugabe ao poder trouxe a esperança. O líder do ZANU-PF prometeu melhorias na vida dos cidadãos. Começou por introduzir o ensino primário gratuito, assim como o acesso a assistência médica básica para os mais desfavorecidos, ainda que estas medidas apenas tenham chegado a uma parte da população. Mugabe foi mesmo comparado a Nelson Mandela.
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Chegam os massacres
Dois anos mais tarde, em 1982, Mugabe rompe a coligação do seu partido (ZANU-PF) com a União Popular Africana do Zimbábue (ZAPU) de Joshua Nkomo. Nesta disputa pelo poder, Nkomo teve o apoio das etnias Ndebele. É nesta altura que tem lugar um dos piores massacres que o país tem memória. As forças armadas leais a Mugabe cometeram atrocidades, matando cerca de 20.000 civis.
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Mugabe a Presidente
Em 1987, Mugabe torna-se Presidente do Zimbabué. Já aqui se falava na deterioração do seu estado de saúde. No entanto, o sexagenário deixava claro que a reforma não estava para breve: “O partido irá encontrar um sucessor. Eu vim do povo. O povo na sua sabedoria irá selecionar alguém, assim que eu diga que me vou aposentar. Mas ainda não é altura. Nesta idade ainda posso seguir em frente”, disse.
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Um homem, várias perspetivas
Em 1994, enquanto milhares de cidadãos do Zimbabué continuavam dependentes de ajuda humanitária, não tendo acesso aos cuidados básicos, o presidente era distinguido pela Coroa britânica, em Londres. No Zimbabué, os primeiros protestos deixavam perceber que no país não havia motivo de orgulho no Presidente. No final dos mesmos anos 90, as manifestações contra o poder começaram a intensificar-se.
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A trágica reforma agrária
Em resposta ao descontentamento social, Mugabe lança a reforma agrária no início de 2000, uma medida que levou à nacionalização forçada das propriedades agrícolas que pertenciam à população branca para serem redistribuidas pelos negros. No entanto, os mais beneficiados foram a família de Mugabe e a elite partidária do ZANU-PF que ficaram com várias explorações. A produção agrícola caiu muito.
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"Deixem-me ser Hitler vezes dez"
Até aqui, Mugabe já tinha ganho as eleições de 1984, 1990 e 1996. A cada nova eleição sucediam-se as acusações de fraude, o que fez com que, em 2002, os Estados Unidos e a União Europeia aplicassem sanções ao país. Aos que o apelidavam de ditador, disse: "Sou o Hitler da nossa época. O Hitler que tem por objetivo a justiça para o povo. Se isso é ser um Hitler, deixem-me ser Hitler vezes dez".
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"Fatídico" 2008
Em 2008, Mugabe perdeu mesmo a maioria no Parlamento, tendo o Movimento para a Mudança Democrática (MDM) de Morgan Tsvangiari conseguido um maior número de lugares. As eleições ficaram marcadas pelo elevado número de mortes em consequência de confrontos. O ano de 2008 ficou ainda marcado pela inflação, que atingiu valores recorde, e pela epidemia de cólera que matou milhares de zimbabueanos.
Foto: dpa
Aniversários excêntricos
Do percurso do vilão não se esquecem também as famosas festas de aniversário. Enquanto grande parte do seu povo vivia na miséria, Mugabe exibia a sua excentricidade. No seu 93º aniversário, comemorado este ano, estima-se que Mugabe tenha gasto cerca de 1,9 milhões de euros numa festa que contou com cem mil convidados. Na mesma altura, cinco milhões de zimbabueanos dependem de ajuda internacional.
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Grace, a não sucessora
Em 2015, começa a falar-se da possibilidade da primeira-dama, Grace - segunda mulher de Mugabe, 40 anos mais nova, e que já mantinha um caso com o Presidente enquanto era sua secretária - poder ser a sua sucessora. O que intensificou os conflitos dentro do ZANU-PF. Emmerson Mnangagwa, o vice de Mugabe, foi humilhado e demitido de funções e fugiu do país após um braço-de-ferro com Grace Mugabe.
Foto: Reuters/Philimon Bulawayo
15 de novembro de 2017 - o início do fim
Na festa dos seus 93 anos, em fevereiro, Mugabe nem sonhava o que 2017 tinha reservado para si. Em outubro, foi eleito embaixador da boa vontade da Organização Mundial da Saúde, mas uma chuva de críticas internacionais fez com que a nomeação fosse retirada. Cerca de um mês depois, militares próximos de Mnangagwa protagonizavam um aparente golpe de Estado que culminou com a detenção do Presidente.
Foto: Reuters/Zimpapers/J. Nyadzayo
Adeus Mugabe
A 19 de novembro esperava-se que Mugabe anunciasse a sua demissão depois de ter sido deposto da liderança do seu partido. Mas, num discurso à nação, rejeitou que a intervenção militar no país tenha sido "um desafio" à sua "autoridade como chefe de Estado". Dois dias mais tarde, foi anunciada a sua renúncia, ao mesmo tempo que o Parlamento debatia uma moção de censura contra o agora ex-governante.