Lichinga, uma das capitais provinciais de Moçambique mais afastadas de Maputo, foi escolhida pela Presidência moçambicana para se assinalar mais um aniversário dos acordos de Lusaca.
Foto: DW/M. Mueia
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O chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, defendeu esta quinta-feira (07.09.) o compromisso do seu Governo com a paz em Moçambique, considerando, no entanto, que é preciso respeitar a lei e os "valores da moçambicanidade".
"Como Governo, continuamos a manter um diálogo franco, aberto e sem preconceitos com todas as forças vivas da sociedade, com destaque para os nossos irmãos da RENAMO", declarou Filipe Nyusi.
O Presidente moçambicano falava em Lichinga, capital da província do Niassa, norte de Moçambique, durante o 43.º aniversário dos acordos de Lusaca, que marcam o reconhecimento do direito de Moçambique à independência.
Samora Machel (esq.) e Mário Soares nas negociações de Portugal com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), em Lusaca (1974)Foto: casacomum.org/Arquivo Mário Soares
Alcançar uma paz efetiva e duradoura
De acordo com Nyusi, a meta agora é alcançar uma paz efetiva e duradoura, condição para o desenvolvimento socioeconómico de Moçambique.
"Caros combatentes, com a vossa experiência, nós queremos fazer de Moçambique um país forte, soberano, próspero, uno e indivisível", afirmou o Presidente moçambicano. Nyusi lembrou, no entanto, que é necessário que haja consideração pela legislação e respeito pelos "valores da moçambicanidade" no âmbito do diálogo, numa alusão às condições para negociação com a Renamo - cujo líder, Afonso Dhlakama, declarou em maio uma trégua sem prazo.
Para Nyusi, é importante que o país conserve a paz em respeito aos feitos dos combatentes que morreram na luta pela independência. "O novo figurino para o alcance de consensos sociais implica a valorização das ideias úteis que venham de opiniões diferentes", explicou o chefe de Estado moçambicano.
Valorizar os antigos combatentes
Filipe Nyusi destacou ainda a necessidade de valorizar os antigos combatentes moçambicanos, considerando que o seu executivo tem esta questão como prioridade."Trata-se de uma conquista que beneficiou a todos os moçambicanos", observou o chefe de Estado, prometendo prestar maior atenção aos problemas dos antigos combatentes, com especial destaque para as pensões, que têm sido constantemente reclamadas pelos antigos militares.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
"Queremos, através dos combatentes, exortar todo povo moçambicano a concentrar-se no aumento da produção como agenda nacional", disse ainda o Presidente moçambicano.
Há um ano, as comemorações dos acordos de Lusaca realizaram-se em Pemba, outra capital provincial do Norte, numa altura em que havia confrontos militares no Centro do país entre as forças de defesa moçambicanas e o braço armado da Renamo, principal partido da oposição. Na altura, Nyusi criticou o presidente da RENAMO, acusando-o de desestabilizar o país.
Trégua sem limite
Este ano o cenário é o oposto: o líder da oposição declarou uma trégua sem limite e apertou a mão de Nyusi, num encontro realizado em agosto e de que foram distribuídas imagens, expressando ambos o desejo de assinar em breve um acordo de paz.
As comemorações deste ano decorrem a 20 dias do 11.º congresso da Frelimo, em que Nyusi deverá candidatar-se à liderança e por essa via tentar ser eleito para um segundo mandato na Presidência, nas eleições gerais de 2019.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.