Lichinga, uma das capitais provinciais de Moçambique mais afastadas de Maputo, foi escolhida pela Presidência moçambicana para se assinalar mais um aniversário dos acordos de Lusaca.
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O chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, defendeu esta quinta-feira (07.09.) o compromisso do seu Governo com a paz em Moçambique, considerando, no entanto, que é preciso respeitar a lei e os "valores da moçambicanidade".
"Como Governo, continuamos a manter um diálogo franco, aberto e sem preconceitos com todas as forças vivas da sociedade, com destaque para os nossos irmãos da RENAMO", declarou Filipe Nyusi.
O Presidente moçambicano falava em Lichinga, capital da província do Niassa, norte de Moçambique, durante o 43.º aniversário dos acordos de Lusaca, que marcam o reconhecimento do direito de Moçambique à independência.
Alcançar uma paz efetiva e duradoura
De acordo com Nyusi, a meta agora é alcançar uma paz efetiva e duradoura, condição para o desenvolvimento socioeconómico de Moçambique.
"Caros combatentes, com a vossa experiência, nós queremos fazer de Moçambique um país forte, soberano, próspero, uno e indivisível", afirmou o Presidente moçambicano. Nyusi lembrou, no entanto, que é necessário que haja consideração pela legislação e respeito pelos "valores da moçambicanidade" no âmbito do diálogo, numa alusão às condições para negociação com a Renamo - cujo líder, Afonso Dhlakama, declarou em maio uma trégua sem prazo.
Para Nyusi, é importante que o país conserve a paz em respeito aos feitos dos combatentes que morreram na luta pela independência. "O novo figurino para o alcance de consensos sociais implica a valorização das ideias úteis que venham de opiniões diferentes", explicou o chefe de Estado moçambicano.
Valorizar os antigos combatentes
Filipe Nyusi destacou ainda a necessidade de valorizar os antigos combatentes moçambicanos, considerando que o seu executivo tem esta questão como prioridade."Trata-se de uma conquista que beneficiou a todos os moçambicanos", observou o chefe de Estado, prometendo prestar maior atenção aos problemas dos antigos combatentes, com especial destaque para as pensões, que têm sido constantemente reclamadas pelos antigos militares.
"Queremos, através dos combatentes, exortar todo povo moçambicano a concentrar-se no aumento da produção como agenda nacional", disse ainda o Presidente moçambicano.
Há um ano, as comemorações dos acordos de Lusaca realizaram-se em Pemba, outra capital provincial do Norte, numa altura em que havia confrontos militares no Centro do país entre as forças de defesa moçambicanas e o braço armado da Renamo, principal partido da oposição. Na altura, Nyusi criticou o presidente da RENAMO, acusando-o de desestabilizar o país.
Trégua sem limite
Este ano o cenário é o oposto: o líder da oposição declarou uma trégua sem limite e apertou a mão de Nyusi, num encontro realizado em agosto e de que foram distribuídas imagens, expressando ambos o desejo de assinar em breve um acordo de paz.
As comemorações deste ano decorrem a 20 dias do 11.º congresso da Frelimo, em que Nyusi deverá candidatar-se à liderança e por essa via tentar ser eleito para um segundo mandato na Presidência, nas eleições gerais de 2019.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.