Presidente francês defende acordo alargado com o Irão
Max Hoffman | ARD | tms
10 de maio de 2018
Em entrevista exclusiva à DW e à ARD, Emmanuel Macron diz que saída dos EUA do acordo nuclear com Teerão é um "erro" e pede à Europa que se mantenha unida para salvar o multilateralismo.
Publicidade
O Presidente francês, Emmanuel Macron, concedeu esta quarta-feira (09.05), em Aachen, na Alemanha, uma entrevista exclusiva à DW e à emissora de televisão alemã ARD. Entre os temas abordados, o chefe de Estado francês falou sobre a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irão e defendeu que a Europa deve manter-se unida na missão de preservar a ordem mundial multilateral.
Para Emmanuel Macron, a decisão anunciada na terça-feira pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, de retirar os Estados Unidos do acordo nuclear do Irão, foi um "erro": "É por isso que nós, europeus, reiteramos que continuamos no acordo de 2015, como disse ao Presidente iraniano, Hassan Rouhani. Negociámos e assinámos este acordo que nos permite controlar a atividade nuclear no Irão até 2025".
Emmanuel Macron afirmou ter garantido ao Presidente iraniano que os líderes europeus estão dispostos a negociar para ampliar o acordo nas próximas semanas: "É preciso ir além, para algo mais amplo. É isso que temos de fazer entre os países europeus, com a União Europeia, o Reino Unido, a Alemanha e a França. Temos de reafirmar que estamos no acordo de 2015, porque o regime iraniano não pode reiniciar suas atividades nucleares".
O acordo nuclear com o Irão foi assinado em 2015 pela Alemanha e pelos cinco países membros do Conselho de Segurança da ONU, que inclui os Estados Unidos, a França, o Reino Unido, a Rússia e a China.
Desde que assumiu a Presidência dos Estados Unidos, em janeiro de 2017, Donald Trump já se mostrava contra o acordo assinado pelo Governo de Barack Obama. Tanto Emmanuel Macron como a chanceler alemã, Angela Merkel, estiveram recentemente em Washington e pediram ao chefe de Estado norte-americano que considerasse os efeitos de uma saída do pacto.
Relações Europa-Estados Unidos em risco?
A DW perguntou ao Presidente francês se a decisão de Donald Trump vai estremecer as relações entre a Europa e os Estados Unidos. Mas, segundo Macron, neste momento deve prevalecer o interesse comum nas diferentes áreas de cooperação entre os Estados. "A Europa tem um poder comercial muito forte e os Estados Unidos são um aliado, mas temos regras a cumprir, as regras da Organização Mundial do Comércio, e temos de respeitá-las e fazer com que os outros as respeitem", frisou.
Presidente francês defende acordo alargado com o Irão
Emmanuel Macron disse ainda que é importante que a Europa siga no caminho do multilateralismo: "É muito importante que nós, europeus, mantenhamos um quadro multilateral. Temos uma verdadeira convergência de opiniões e lutamos contra o terrorismo em conjunto com os Estados Unidos. Na Síria, estamos a trabalhar juntos na aliança internacional".
Falando da cooperação a nível da defesa, o Presidente francês reforçou os compromissos que os europeus e os norte-americanos têm com os africanos: "Em África, trabalhamos juntos na zona do Sahel e do Saara contra o terrorismo islâmico. Temos algumas divergências, mas mesmo assim, e mais importante, temos um interesse comum - a vontade de trabalhar pela nossa segurança", explicou Macron.
Nesta quinta-feira, o chefe de Estado francês recebe em Aachen o prestigiado Prémio Carlos Magno. Justificando a escolha, o júri disse que Macron tem a "visão de uma nova Europa" e uma postura "decisiva" contra o nacionalismo e o isolacionismo.
Cronologia da Guerra na Síria
Começou com protestos pacíficos em 2011, mas tornou-se numa guerra civil que já matou 350 000 pessoas e fez milhões de refugiados. Um conflito complexo com vários atores e repercussões à escala internacional.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2011: O início e uma Primavera que não foi
A “Primavera Árabe” estende-se à Síria e começam a emergir protestos contra a família Assad, que lidera o país há mais de quarenta anos. O movimento contra o Governo ganhou amplitude na cidade de Deraa, no sul, alargando-se a todo o país. Ao contrário de outros países, onde as manifestações resultaram em mudanças quase imediatas, na Síria marcavam o início de um conflito sem fim à vista.
Foto: picture-alliance/dpa
2012: Escalada de violência e formação da oposição
A violenta repressão por parte de milícias do Governo de al-Assad contra manifestantes desarmados fez escalar a onda de violência. Grupos da oposição, representativos das diferentes ideologias e fações religiosas, começam a organizar-se a partir de 2011, como o Conselho Nacional Sírio, o Comité de Coordenação Nacional, o Exército Livre da Síria (foto) e o Conselho Nacional Curdo.
Foto: AP
2013: Desmantelamento de arsenal químico
Um ataque químico em dois setores rebeldes perto de Damasco, atribuído ao regime de al-Assad, faz mais de 1400 mortos, de acordo com os Estados Unidos. O regime sírio desmente. O então Presidente dos EUA, Barack Obama, estabelece com a Rússia um acordo de desmantelamento de armas químicas da Síria. Em outubro, Damasco inicia a destruição do seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2014: A ameaça do "Estado Islâmico"
Apoiada por Washington, uma coligação de mais de 60 países realiza ataques aéreos contra as posições do autointitulado “Estado Islâmico” (EI) na Síria. Cerca de 2000 militares norte-americanos são colocados no norte da Síria, para combater o EI e treinar as forças locais. Em junho, o EI proclama "um califado", e torna a cidade síria de Raqa na sua capital.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2015: Rússia entra abertamente no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao Governo sírio, entra ativa e abertamente no conflito. Inicia uma campanha de bombardeamentos aéreos em apoio às forças de Bashar al-Assad, que leva o Governo sírio a recuperar território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
Em setembro, num único fim de semana, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos pelas forças pró-Assad. Em dezembro, após quatro anos de controlo desta cidade, a segunda maior da Síria, as milícias rebeldes acabam por perder Aleppo para as forças governamentais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque químico em Idleb
Um ataque de gás sarin mata mais de 80 civis em Khan Cheikhoun, localidade da província de Idleb, controlada pelos rebeldes e por 'jihadistas'. O regime de Bashar al-Assad é, uma vez mais, acusado de uso de armas químicas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, ordena ataques à base aérea Síria de Al-Chaayrate, no centro do país.
Foto: picture alliance/AA/A.Dagul
2017 : Retoma de Raqa
Em outubro, depois de meses de luta, as forças democráticas sírias, dominadas por curdos e apoiadas pela coligação internacional, tomam o controlo de Raqa. A cidade esteve três anos sob o domínio do autointitulado “Estado Islâmico”.
Foto: DW/F. Warwick
2018: Turquia invade Síria e controla Afrin
Em janeiro, a Turquia, que mantinha um dispositivo militar no norte da Síria, lança uma grande ofensiva contra a milícia curda, as Unidades de Proteção do Povo (YPG), em Afrine. Em março, a Turquia acaba por tomar controlo desta cidade. As milícia curda YPG é considerada um grupo terrorista pelo Governo turco, pois é o braço sírio da organização curda da Turquia, o PKK.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Forças pró-Assad bombardeiam e retomam Ghouta Oriental
O regime sírio lança uma ofensiva aérea e terrestre, de intensidade inédita, sobre o enclave rebelde de Ghouta Oriental, perto de Damasco. A ação resulta em mais de 1700 mortos, entre os quais crianças. Em abril, depois de bombardeamentos devastadores, mas também de acordos de evacuação patrocinados pela Rússia, o regime assume o controlo de Ghouta Oriental, último bastião dos insurgentes.
Foto: Getty Images/AFP/A. Almohibany
14 de abril de 2018: A resposta do Ocidente
EUA, França e Reino Unido realizam uma série de ataques contra alvos associados à produção de armamento químico na Síria, em resposta a um alegado ataque com armas químicas em Douma, Ghouta Oriental, por parte do Governo sírio. Trump justifica os ataques como uma resposta à "ação monstruosa" do regime de Assad contra a oposição e prometeu que a operação durará "o tempo que for necessário".