Filipe Nyusi pede mais atenção para recrutamento terrorista
Delfim Anacleto
24 de março de 2021
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu aos novos prestadores de serviços cívicos que estejam atentos a tentativas de aliciamento e ajudem na reconstrução de infraestruturas danificadas durante ataques terroristas.
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O apelo do chefe de Estado foi feito esta terça-feira (23.03), no distrito de Montepuez, em Cabo Delgado, durante a cerimónia de encerramento do oitavo curso de prestadores de serviços cívicos de Moçambique.
Dos prestadores do serviço cívico, têm por objetivo de desenvolver atividades de caráter administrativo, assistencial, cultural e económico, em substituição do serviço militar, espera-se maior contribuição para o bem-estar do povo, aplicação de conhecimentos no interesse público, com destaque para a mitigação do sofrimento das populações em caso de desastres naturais, realização de atividades humanitárias, entre outros.
Durante o encerramento do curso de prestadores de serviços cívicos, Filipe Nyusichamou a atenção dos graduados para o empenho na reconstrução de infraestruturas danificadas pelos ataques dos terroristas e pelas calamidades que têm afetado o país.
A violência terrorista contra crianças em Cabo Delgado
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"Participem em atividades concretas de assistência humanitária às populações deslocadas e vítimas de ataques terroristas, no quadro das intervenções dos órgãos competentes para a redução de riscos de desastres também", apelou.
"Existem zonas onde naturalmente a população não se faz presente, mas há infraestruturas destruídas que devem ser reerguidas. Contamos com os prestadores de serviços cívicos porque estão preparados para suportar este tipo de missões", frisou ainda Nusi.
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Terrorismo no norte e ataques no centro
O curso de prestadores de serviços cívicos de Moçambique acontece numa altura em que o norte de Moçambique é palco de terrorismo e o centro alvo de ataques armados, protagonizados pela autoproclamada Junta Militar, grupo dissidente da RENAMO.
A esse respeito, o Presidente Nyusi instou os graduados a manterem-se firmes e atentos às tentativas de aliciamento e recrutamento. "Mantenham-se atentos às tentativas de aliciamento do inimigo para se juntarem às suas fileiras. E sejam conselheiros de outros jovens sobre o perigo de se deixarem levar pelos terroristas e por todos aqueles que querem destruir as conquistas do nosso povo moçambicano."
O Presidente advertiu ainda que "nem sempre quem alicia são terroristas, mas há uns que querem manipular a mente da juventude e a estes também precisam de ter cuidado."
O ministro da Defesa Nacional, Jaime Neto, indicou que a graduação deste grupo faz parte de um dos mandatos do seu pelouro no que diz respeito à formação das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. "A fase seguinte consistirá na distribuição destes pelas diversas unidades produtivas dos serviços cívicos de Moçambique, assim como na formação em áreas profissionalizantes", disse.
O desterro forçado dos deslocados em Cabo Delgado
São mais de 450 mil no norte de Moçambique. O terrorismo cortou-lhes as raízes e tomou-lhes o chão. Os deslocados internos procuram vingar noutras paragens. E Pemba tem sido lugar de eleição. Sobreviverão na nova terra?
Foto: Privat
A dor da perda e da impotência
Um olhar que diz mais do que mil palavras, a imagem poderia ser "sem legenda". Foi depois de um ataque à aldeia "Criação", Muidumbe, a primeira investida terrorista ao distrito, em novembro de 2019. Os insurgentes começaram os seus ataques em Cabo Delgado em outubro de 2017.
Foto: Privat
Histórias de vida reduzidas a cinzas
Desde então, a matança e destruição passaram a ser visitas assíduas da região. Como ninguém quer ser anfitrião, os aldeões fugiram. Em finais de outubro, Muidumbe e outros distritos sangraram de novo e a população fugiu. Muidumbe está praticamente nas mãos dos terroristas, tal como Mocímboa da Praia, desde agosto.
Foto: Privat
Quase todos os caminhos vão dar a Pemba
O único desejo destes residentes de Mueda é conseguir um canto no camião para chegar à capital provincial de Cabo Delgado. Mas a disputa entre pessoas e os seus próprios pertences ameaça deixar alguém para trás. Desde meados de outubro, Pemba recebeu cerca de 12 mil deslocados. Inicialmente, recebia à volta de mil deslocados por dia.
Foto: Privat
Quando o mato passa a ser melhor que o lar
Para muitos em Cabo Delgado, ter um teto deixou de ser sinónimo de segurança. Conseguir manter a vida, mesmo sem casa, passou agora a ser a meta. Os bichos passaram a ser mais cordiais que os irmãos terroristas, as estrelas melhores que o teto e os arbustos melhores que as paredes. Famílias procuram refúgio nas matas, onde caminham por dias dominados pelo medo, sem comida e sem norte.
Foto: Privat
Um abraço amigo em Pemba
Estes deslocados chegam de Quissanga. Mas também chegam à praia de Paquitequete, Pemba, deslocados vindos de vários lugares. Todos tentam escapar ao terror. Muitos fixam-se aqui, onde recebem apoio de ONGs, associações, indivíduos e do Governo. Há até quem abra as portas da sua casa para os receber, mesmo não os conhecendo.
Foto: Privat
Crise humanitária faz brotar solidariedade infinita
A falta de quase tudo faz despertar solidariedade que chega de todo o lado. Para quem está longe, uma angariação de fundos e bens materiais é a opção. Já cuidar dos deslocados na praia de Paquitequete, atendendo-os nas suas necessidades, é o que faz quem está no terreno. Na praia, há jovens que chegam de madrugada para dar amor a quem precisa.
Foto: Privat
Uma fuga rodeada de perigos
O medo é tanto que nem a sobrelotação parece intimidar os deslocados internos. No começo de novembro, mais de 40 pessoas morreram a tentar chegar a Pemba num naufrágio entre as ilhas do Ibo e Matemo.
Foto: Privat
Pemba a rebentar pelas costuras
O "boom" de deslocados é tão grande que o sistema de serviços básicos para a população, como água e saneamento, está no limite. Antes desta nova vaga de deslocados, a capital de Cabo Delgado tinha 204 mil habitantes. Agora, tem mais de 300 mil.
Foto: DW/E. Silvestre
Começar nova vida noutro chão
O Governo criou um comité de gestão para esta crise humanitária. Afirma que está a criar novas aldeias, centros de reassentamento, infrastruturas e a parcelar terras para acomodar os deslocados. Embora esteja garantida a segurança, as suas raízes estão noutro chão.
Foto: Privat
Que futuro?
Por enquanto não há resposta. Mas há deslocados que se vão "desenrascando" para sobreviver. Muitos dizem que não querem viver de mão estendida. Por exemplo, quem tem barco vai à pesca ou trasporta mercadorias. Outros entretêm-se a jogar futebol. Vão cuidando das suas vidas. Mas para os que não têm alternativas, que são a maioria, correrão riscos de entrar para o mundo do crime?