Nyusi promete proteção a jovens que abandonem grupos armados
Lusa | ms
3 de fevereiro de 2021
No Dia dos Heróis Moçambicanos, o Presidente Filipe Nyusi exortou os jovens que combatem ao lado dos grupos armados em Cabo Delgado, norte do país, a regressar a casa. Outra afronta à paz são os ataques no centro.
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"Sobre o terrorismo em Cabo Delgado, usamos esta ocasião para, mais uma vez, chamar à consciência dos nossos concidadãos, na sua maioria jovens entre os 14 e 20 anos, a não hesitar em retornar às suas famílias", declarou Filipe Nyusi, numa comunicação à nação, por ocasião do feriado do Dia dos Heróis Moçambicanos, que se assinala hoje.
"Sabemos que [os jovens arrependidos] não têm coragem [de voltar às suas comunidades] por receio de retaliação, mas nós instruímos as estruturas locais e as Forças de Defesa e Segurança para os receberem em harmonia", avançou.
A ação de grupos armados em Cabo Delgado, prosseguiu, constitui um desafio para a manutenção da paz e segurança no país.
A violência armada está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba. Algumas das incursões de insurgentes passaram a ser reivindicadas pelo Estado Islâmico desde 2019.
Ataques da Junta Militar no centro
Filipe Nyusi apontou ainda os ataques da Junta Militar, uma dissidência armada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, como um obstáculo para a preservação da paz na região centro do país.
"A outra afronta à paz são os ataques, em pontos localizados das províncias de Manica e Sofala, pela Junta Militar da RENAMO", salientou.
Moçambique: Desmobilizados da RENAMO vivem com medo
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Nyusi apelou ao grupo para aderir ao processo de desarmamento, desmobilização e reintegração (DDR) acordado com a direção da RENAMO e com o apoio da comunidade internacional, para o fim de constantes ciclos de violência armada entre as forças governamentais e os antigos membros do que foi o braço armado do principal partido da oposição.
"Apelamos, mais uma vez, à Junta Militar da RENAMO para ganhar a consciência de que a solução mais acertada é juntar-se ao DDR", enfatizou o chefe de Estado moçambicano.
Os ataques da Junta, liderada por Mariano Nhongo, antigo líder de guerrilha da RENAMO, já provocaram a morte de, pelo menos, 30 pessoas desde agosto de 2019. O grupo contesta a liderança do partido e as condições para a desmobilização decorrentes do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional, assinado em 2019 entre o Governo e a RENAMO.
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Covid-19: Moçambique vive "situação grave
Filipe Nyusi admitiu também que "a pandemia de covid-19 é um verdadeiro flagelo, sem precedentes, e Moçambique vive uma situação grave".
O chefe de Estado moçambicano avançou que as novas infeções avançam a um ritmo acelerado, bem como as hospitalizações e o número de óbitos. "O país está a ver-se na contingencia de [aplicar] medidas mais restritivas para a sua sobrevivência coletiva", enfatizou.
O Presidente moçambicano anunciou que vai fazer uma nova comunicação à nação na quinta-feira sobre a situação da pandemia no país.
Moçambique contabiliza 403 mortes por Covid-19 e um total acumulado de 40.260 casos, dos quais 62% estão recuperados e outros 307 internados (68% na cidade de Maputo). Os internamentos subiram acentuadamente, provocando uma pressão acrescida sobre os serviços de saúde.
O fardo da Covid-19 para as famílias de Inhambane
Milhares de famílias estão a sofrer na província de Inhambane, no sul de Moçambique, desde que eclodiu a pandemia do novo coronavirus. Há pessoas sem emprego, em isolamento, obras paralisadas e os bens escasseiam.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Famílias sofrem por causa da Covid-19
Muitos habitantes da província moçambicana de Inhambane perderam os postos de trabalho por causa da crise provocada pela Covid-19, outros foram dispensados para cumprirem o isolamento social. Por outro lado, há obras paralisadas e faltam vários produtos, principalmente nas zonas rurais. Muita gente está a migrar para as cidades e vilas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
A culpa é do coronavírus
Dulce Eugénio, mãe de dois filhos e residente no bairro Sarrene, na cidade de Maxixe, disse que antes da pandemia o negócio corria muito bem, mas depois ficou sem dinheiro: "Consegui comprar o meu terreno e já estava a construir a minha casa de blocos com este pequeno negócio de vender tomates, cebola, pepino e cenoura, mas essa doença veio atrapalhar toda a situação."
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Coronavírus trouxe mais fome"
Com o confinamento obrigatório decretado em abril de 2020, a situação da fome agravou em Inhambane. Os cidadãos consideram que a pandemia do novo coronavírus "trouxe mais fome e miséria às comunidades". O desespero continua a imperar.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Viver de hortaliças é para quem pode
Há cada vez mais pessoas desempregadas, muitas famílias tiveram de adaptar as receitas em casa e passaram a consumir mais verduras, por exemplo. Mesmo assim, nem todos conseguem comprar, porque as hortaliças também já começam a escassear. Marta Alberto diz que não foi registada para receber o subsídio da Covid-19, concedido pelo Estado, e pede ajuda.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Produção agrícola em queda
Não é só a pandemia que tem sido um problema. Não tem chovido e muitas pessoas abandonaram a atividade agrícola. Os camponeses pedem ao Estado sementes, que estão cada vez mais caras no mercado. Em Inhambane, nem todos os camponeses vão receber o subsídio de dois mil meticais mensais (cerca de 23 euros) para suprir as suas necessidades durante seis meses.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Abandonada pela família e sem apoio
Joana Cândido foi abandonada pela família. Vivia com os netos, mas, com a pandemia, o filho solicitou aos netos que residissem juntos noutro bairro, deixando assim a idosa à sua sorte. Com problemas na perna e dores constantes na coluna, não lhe é fácil ter três refeições por dia. Afirma que não foi selecionada pelo Instituto Nacional de Ação Social (INAS) para receber o subsídio da Covid-19.
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Estamos a sofrer e precisamos de apoio"
Laura Simão foi registada pelo INAS, na cidade de Maxixe, mas ainda não recebeu o dinheiro e afirma não ter comida suficiente. Em situação semelhante estão muitas outras pessoas carenciadas, que foram inscritas mas ainda não receberam os subsídios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Excluída dos apoios, com a panela vazia
Maria João revela que não foi contemplada pelos apoios da Covid-19. Ficou surpreendida, porque não trabalha, tem filhos a seu cargo e a panela vazia. E pede apoio ao Estado.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Enganar a fome
Teresa António trabalhava como doméstica em Inhambane, numa residência, mas, com a pandemia, teve de deixar de trabalhar para os seus patrões. Agora desempregada, diz que é difícil ter arroz na mesa e, muitas vezes, tem de misturar o arroz com tapioca (farinha de mandioca) para conseguir enganar a fome.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Vender mangas para sobreviver à pandemia
Cândida Maurício fazia venda ambulante no centro da cidade da Maxixe, mas - impossibilitada de continuar o negócio na rua por causa da pandemia - teve de se adaptar. Faz agora revenda de mangas na sua residência, mas soma prejuízos e não recebe apoio do Governo.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Perdeu o emprego com a Covid-19
Com o encerramento dos estabelecimentos comerciais em cumprimento do decreto do estado de emergência, João Saul foi demitido do serviço de guarda. Afirma que a pandemia lhe trouxe efeitos negativos que jamais irá esquecer. Sobrevive com o subsídio que recebe por ser desmobilizado - não superior a 50 euros - valor que considera insuficiente.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Sonho perdido?
Nina Cumbe concluiu o 12º ano de escolaridade em Inhambane, em 2019. Antes da eclosão da pandemia, queria concorrer a uma escola técnica profissional, mas não conseguiu, porque muitos estabelecimentos de ensino tiveram que encerrar com a declaração do estado de emergência no país. Agora, tenta ganhar a vida fazendo tranças a amigas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Resta fé e esperança
No meio de tanto sofrimento provocado pela pandemia do novo coronavírus, as famílias estão a lutar para superar a crise. Ilda Joaquim, residente de Inhambane, afirma que o confinamento social agravou a maneira de viver e que está a ser difícil adaptar-se às novas medidas. Reza muito para que consiga ultrapassar esta crise, porque está difícil receber apoios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
À espera de dias melhores
Antes da chegada do novo coronavírus, Maria Alberto fazia trabalhos para terceiros e produzia mandioca para fabricar e vender farinha. Hoje, é uma simples dona de casa que deixa as panelas limpas à espera que o marido traga alguma coisa dos seus biscates diários. Lamenta o sofrimento provocado pela Covid-19, mas vive na esperança de que tudo voltará à normalidade.