Presidente Nyusi convida o Papa a visitar Moçambique
Rafael Belincanta (Roma)
14 de setembro de 2018
Presidente de Moçambique Filipe Nyusi encerrou nesta sexta-feira uma viagem de dois dias ao Vaticano. Na véspera reuniu-se com a Comunidade de Santo Egídio e hoje foi recebido em audiência pelo Papa Francisco.
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Ao final da audiência no Vaticano na manhã desta sexta-feira (14/09), o Presidente Nyusi convidou o Papa para visitar Moçambique em 2019. A resposta de Francisco foi "se eu estiver bem de saúde até lá, sim". Em declarações à DW África, o Presidente Filipe Nyusi falou sobre as repercussões do encontro com o papa Francisco.
"O balanço é positivo porque tivemos a oportunidade de explicar ao Papa Francisco o que está a acontecer em Moçambique e isso na perspetiva das relações de cooperação que temos com a Santa Sé. Moçambique é um país com muitos crentes católicos, mas não só, e a estima que o povo moçambicano tem para com o Papa Francisco é grande. Pelo facto, durante o nosso encontro conseguimos aproveitar a ocasião para transmitir ao Papa a mensagem dos moçambicanos. Também debruçamos longamente sobre a situação política e principalmente económica em Moçambique, para além de termos abordado o reforço das relações de cooperação entre a Santa Sé e Moçambique", sublinhou o Presidente moçambicano.
Completo desarmamento da RENAMOAntes da audiência com o Papa, o Presidente Filipe Nyusi reuniu-se com membros da Comunidade de Santo Egídio, para abordar questões relacionadas com o fortalecimento do caminho para o completo desarmamento da RENAMO, reforçando o Acordo Geral de Paz de 1992 que selou o fim da guerra civil após 16 anos de conflito.
"Assumimos o compromisso, mas o mais importante é que a paz não é concretizada só por uma pessoa", destacou Nyusi para acrescentar que o "Papa esteve sempre a favor da paz em Moçambique através da Comunidade de Santo Egídio. O Vaticano participou muitas vezes no processo de mediação através do Núncio Apostólico indicado pelo Papa. Portanto as rezas regulares e permanentes do Santo Padre, sempre foram para que Moçambique viva em paz. Isto significa que os passos que temos vindo a dar, representam um esforço coletivo dos moçambicanos e dos nossos parceiros e neste caso concreto da Igreja Católica".
Encorajar os moçambicanosPara o Presidente moçambicano, esta visita e os encontros mantidos representam "uma oportunidade para encorajar os moçambicanos, porque quando conseguirmos os consensos serão fundamentais para podermos saudar e encorajar ainda mais a concretização da paz no nosso país. Pensamos que recebemos o encorajamento necessário e quando regressarmos a Moçambique faremos questão de partilhar esse sentimento com os outros parceiros neste processo de paz, nomeadamente os partidos políticos e de uma forma concreta com a liderança da RENAMO", concluiu o Presidente Filipe Nyusi.
Presidente Nyusi convida o Papa a visitar Moçambique
O último compromisso público da viagem do Presidente Nyusi foi um encontro com a comunidade moçambicana radicada na Itália, aproximadamente 400 pessoas vivendo em todas as regiões italianas, o que a faz ser a terceira maior diáspora moçambicana na Europa.
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.