Presidente português terminou visita de Estado de três dias a Cabo Verde na ilha de São Vicente, terra de músicos como Cesária Évora, Bana e Tito Paris.
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O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, deslocou-se a Cabo Verde com um programa transversal, com iniciativas culturais, académicas e visitas a empresas, além da componente político-institucional e, por outro lado, "para sentir o afeto e a morabeza do povo cabo-verdiano" que retribuiu com abraços, beijos e carinho.
No Plateau, o centro histórico da capital do país, cidade da Praia, engraxou sapatos, tomou uma caipirinha à cabo-verdiana e comeu com as vendedoras do Mercado Municipal porque, segundo Rebelo de Sousa, "não vir ao mercado é não vir à Praia, aqui é que se vê a força dessa gente”.
Durante os últimos três dias, o Presidente português visitou três ilhas: Fogo, Santiago e São Vicente,
Precisamente, em Santiago, o Presidente de Portugal deslocou-se simbolicamente à Cidade Velha, lugar do primeiro povoamento português nos trópicos e antiga capital do arquipélago, classificada pela UNESCO como património da humanidade."Agora que posso entrar à vontade na Cidade Velha e Nova com esta chave que me deram, sinto-me já um cidadão vosso. Vou usar esta chave, desde já, franqueando esta entrada em nome de todos os portugueses, porque esta cidade, como todo o Cabo Verde, está no coração de todos os portugueses”.
Homenagem à democracia cabo-verdiana
A nível político, Marcelo Rebelo de Sousa teve encontros com o seu homólogo cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, e com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.
Na Assembleia Nacional de Cabo Verde, durante uma sessão solene para o efeito, prestou homenagem à democracia cabo-verdiana, que considerou como um exemplo no contexto regional africano.
"Nesta casa da democracia não posso deixar de prestar também eu a minha homenagem à democracia cabo-verdiana pela saga da luta pela independência e pela sua consolidação, pela transição pacífica ao multipartidarismo, pelo respeito pela vontade popular em cada pleito, pelas sucessões pacíficas de governo, pelo papel essencial das oposições, pelo livre debate de ideias, pela convivência pacífica entre os diferentes órgãos de soberania, pelo respeito da separação de poderes e pela garantia dos direitos pessoais e políticos dos cidadãos”, afirmou.Marcelo Rebelo de Sousa homenageou também a comunidade cabo-verdiana em Portugal pelo contributo que tem dado ao desenvolvimento do seu país.
"Agraciei no último fim-de-semana, em Lisboa, o cantor Tito Paris com o grau de comendador da Ordem de Mérito num gesto de reconhecimento pelo seu talento e pela sua obra, mas que não deixa de ser também um gesto simbólico de reconhecimento e de apreço pela comunidade cabo-verdiana toda ela residente em Portugal”.
Durante a visita, Marcelo Rebelo de Sousa ouviu o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, a anunciar que o Governo do arquipélago está a trabalhar no processo de isenção de vistos, a partir do mês de maio, para cidadãos da União Europeia e do Reino Unido que queiram visitar ou fazer negócios em Cabo Verde.
"Queremos tornar efetiva a medida de isenção de vistos para cidadãos da União Europeia e Inglaterra, tendo em conta que nós temos um número significativo de turistas ingleses. O objetivo é criarmos as condições para potenciarmos ainda mais o turismo e o investimento e eliminarmos a barreira que, normalmente, os vistos colocam na livre circulação”, afirmou.
Rebelo de Sousa no Senegal
Depois de Cabo Verde, o Presidente Português desloca-se ao Senegal para uma visita de dois dias.O Senegal tem com Portugal relações seculares que datam do tempo dos Descobrimentos e do período colonial, no entanto, as trocas comerciais são reduzidas atualmente.
Em termos de comércio bilateral, no ano passado o Senegal foi o 62.º cliente de Portugal, com uma quota de 0,07% das exportações portuguesas, e o 75.º fornecedor, com uma quota de 0,04%, de acordo com dados da Agência para o Investimento e o Comércio Externo de Portugal (AICEP).
Independente desde 1960, o Senegal é um exemplo de estabilidade política em África e apontado como um caso de sucesso em termos de democratização.
É um dos 15 países-membros da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) - que Cabo Verde e a Guiné-Bissau também integram - e um dos oito países que integram a UEMOA (União Económica e Monetária do Oeste Africano), da qual igualmente faz parte a Guiné-Bissau.Após a instauração da democracia em Portugal, foram estabelecidas relações diplomáticas entre os dois países, em 02 setembro de 1974.
12.04.2017 Marcelo Rebelo de Sousa- Visita de Eastado a Cabo Verde - MP3-Mono
Situado na ponta mais ocidental do continente africano, a quatro horas de avião de Lisboa, o Senegal faz fronteira com a Guiné-Bissau e tem relações próximas com Cabo Verde, que fica a cerca de 600 quilómetros de distância.
Aproxima-se de Portugal também pela língua, sendo o país da África não lusófona com o maior número de estudantes de português, e com estatuto de observador da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Bairro da Jamaica na margem sul de Lisboa: A prolongada esperança
A Urbanização do Vale de Chícharos no Seixal, concelho do distrito de Setúbal (Grande Lisboa), acolhe, na sua maioria, imigrantes dos países africanos de língua portuguesa. Há quem viva no bairro há mais de 20 anos.
Foto: J. Carlos
Décadas à espera de realojamento
Os prédios inacabados, propriedade da Urbangol, uma sociedade sedeada num paraíso fiscal com dívidas ao fisco, foram ocupados por pessoas de baixa renda que não tinham condições para comprar uma casa. Aguardam, ao longo destes anos, pela promessa de realojamento por parte da autarquia local.
Foto: J. Carlos
Arte e desabafo por um bairro melhor
Por uma das entradas do Jamaica, os visitantes são recebidos por estes murais pintados na parede que cerca a instalação de transformadores da EDP, Energias de Portugal. As pinturas expõem os sentimentos de mudança e a visão do mundo por parte dos artistas que aspiram viver em um bairro melhor.
Foto: J. Carlos
Os ídolos Bob Marley e Che Guevara
O lendário músico jamaicano Bob Marley ou o líder guerrilheiro argentino-cubano Che Guevara são uma espécie de ídolos para os jovens artistas autores destas pinturas. Ao longo da parede, que funciona como uma tela, veem-se outros motivos, incluindo a reprodução de um bairro típico imaginário em África.
Foto: J. Carlos
Falta de água e de luz
Nos cafés ou em outro ponto de encontro e de convívio, os moradores acabam por falar e questionar sempre sobre os inúmeros problemas com que se deparam no dia-a-dia. A falta de água e de saneamento básico ou os cortes de luz pela empresa fornecedora quando não são pagas as faturas coletivas constituem uma dor de cabeça diária.
Foto: J. Carlos
Mas, na hora de matar a fome…
Enquanto não vem uma solução para o realojamento, a vida não para no Jamaica. Aos fins de semana, a música ajuda a acalentar os problemas. Os grelhados à moda dos países de origem, preparados neste caso pela são-tomense Vitória Silva, servem para matar a fome depois de um dia de trabalho árduo.
Foto: J. Carlos
… Pratos típicos juntam amigos
Percorrendo o território adjacente, encontram-se vários espaços anexados como este, adaptados para café e ou restaurantes, são uma das fontes de rendimento familiar. Os pratos típicos de África, sobretudo à base de peixe e banana, recheiam as mesas dos clientes provenientes de sítios diversos e servem de pretexto para reunir amigos.
Foto: J. Carlos
Cultivar para render
Em uma pequena parcela do terreno à volta, há moradores com alguma experiência agrícola que improvisaram hortas com variedades de hortaliças para consumo próprio. Plantam couves, alfaces, tomates, cebolas, alhos e batatas, entre outros produtos que ajudam a aliviar as despesas com a alimentação.
Foto: J. Carlos
Produzir para sobreviver
Também com o mesmo objetivo, a criação de galinhas reforça a dieta alimentar caseira. Para alguns dos moradores desempregados ou não, esta é uma das formas para suprir as muitas dificuldades de sobrevivência quando é baixo o rendimento familiar.
Foto: J. Carlos
Desemprego, droga e prostituição inquietam
O desemprego é um dos males que inquietam jovens mães como Vanusa e Aurora Coxi. Dizem que os habitantes são, de certo modo, discriminados quando procuram emprego pela fama desmerecida de aqui morarem. Isso leva muitos jovens a seguir por caminhos impróprios, do roubo, do tráfico de droga ou da prostituição. Ambas têm um sonho: acabar a universidade, interrompida por dificuldades diversas.
Foto: J. Carlos
Inundação e humidade
A estes problemas juntam-se as condições de habitabilidade nos prédios, que afetam a maioria das mais de 800 pessoas aqui residentes. Júlio Gomes, guineense que mora num anexo improvisado na parte traseira de um dos prédios, é afetado pela inundação quando chove ou quando rompe a canalização do sistema de esgotos do vizinho do andar de cima.
Foto: J. Carlos
Acesso à tarifa social de eletricidade
Os moradores estão em conflito com a empresa que fornece eletricidade (EDP), porque o critério de cobrança não é o mais adequado. É a associação do bairro que recebe o dinheiro dos consumos mensais e paga as faturas únicas por lote, consoante a leitura no contador colocado em cada prédio. Mas há quem não pague. Os clientes reclamam por não beneficiarem de tarifa social.
Foto: J. Carlos
Sede a precisar de reabilitação
Na sede da Associação para o Desenvolvimento Social da Urbanização de Vale de Chícharos, onde vive uma família, as inundações também constituem um incómodo quando chove. Aqui têm lugar as reuniões para discutir os problemas que afetam os residentes, entre os quais o realojamento. Reabilitar o espaço, onde também funcionam aulas de alfabetização, é uma solução em stand by por falta de recursos.
Foto: J. Carlos
Parque infantil inseguro
Ao lado da sede está um pequeno parque infantil, igualmente sem as condições mínimas de segurança para as crianças brincarem. Os poucos equipamentos nele existentes estão em mau estado de conservação e utilização. Este é, entretanto, um dos poucos espaços de lazer que dispõem para descarregar energia e preencher o tempo.
Foto: J. Carlos
Ação social imprescindível
A CRIAR-T – Associação de Solidariedade tem prestado serviço útil à comunidade, já lá vão mais de 15 anos. As suas várias valências permitem, além de apoio social, acolher crianças enquanto os pais vão trabalhar. Porque «é um perigo elas andarem pelo bairro a brincar», diz Dirce Noronha, presidente da Associação para o Desenvolvimento de Vale de Chícharos.