O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, termina este sábado (09.03) a sua deslocação a Angola. Tanto o Presidente luso como o homólogo angolano concordam em afirmar que a visita fortaleceu relações.
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Agostinho Sicatu, um analista político angolano, não tem dúvidas: a visita do Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa a Angola revigorou as afinidades entre os dois países e fez desaparecer as zonas cinzentas. "Claro que se fortificaram as relações e aquelas zonas que eram cinzentas puderam ser organizadas e fortificadas", comentou o politólogo à DW África.
Também Marcelo Rebelo de Sousa foi peremptório: as relações entre Angola e Portugal vivem um dos seus melhores momentos. "Classificaria o nível atual das relações políticas, económicas e sociais, culturais, todas, no plano bilateral e multilateral entre Angola e Portugal, de excelentes. Significa uma classificação de topo para aquilo que vivemos nos últimos seis meses e vamos continuar a viver", resumiu o chefe de Estado português.
Presidente português termina visita a Angola e declara-se solidário com política de João Lourenço
Com um pé no Carnaval e outro no aniversário de João Lourenço
Marcelo Rebelo de Sousa chegou à capital angolana na terça-feira (05.03) e assistiu ao desfile de Carnaval na Marginal de Luanda, no dia em que o Presidente angolano João Lourenço completou 65 anos. Mas a sua agenda oficial começou apenas no dia seguinte com a visita ao memorial António Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, e um encontro com o chefe de Estado angolano, João Lourenço.
Na conferência de imprensa conjunta, o Presidente angolano garantiu que a dívida às empresas portuguesas está a ser paga. Entre os dois Estados foram assinados 11 instrumentos de cooperação bilateral com destaque para dois protocolos sobre administração local e de segurança e ordem interna, bem como cinco memorandos de entendimento em diversas áreas.
Na quarta-feira (06.03), Marcelo Rebelo de Sousa foi condecorado com a Ordem Agostinho Neto, a mais alta distinção do Estado angolano. João Lourenço justificou a condecoração com o esforço que o Presidente português tem feito na melhoria das relações entre Luanda e Lisboa.
"Ao fazer a entrega desta medalha, estamos não só a reconhecer os méritos pessoais e políticos de vossa excelência à frente da nação portuguesa, o seu contributo no aprofundamento das relações entre os nossos povos e países, mas também a saudar por seu intermédio o povo português e transmitir-lhe os sentimentos de fraternidade e de solidariedade da parte do povo angolano", referiu João Lourenço.
Marcelo Rebelo de Sousa ou "Ti Celito" como é conhecido em Angola também esteve no Parlamento angolano, onde discursou. Respeito, gratidão e fraternidade marcaram os seus pronunciamentos na Assembleia Nacional.
Na quinta e sexta-feira (07.03 e 08.03), o Presidente dos afetos como é apelidado em Portugal, confirmou a sua popularidade nas províncias angolanas da Huíla e Benguela. Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido por milhares de pessoas.
O chefe de Estado luso elogiou João Lourenço, considerando que protagoniza um "projeto de paz, de democracia, de regeneração financeira, de desenvolvimento económico, de combate à corrupção", e declarou-se solidário com a sua política.
Num discurso já em tom de despedida, no penúltimo dia da visita de Estado a Angola, durante uma receção oferecida a João Lourenço e à sua mulher, Ana Dias Lourenço, num hotel em Luanda, Marcelo Rebelo de Sousa declarou que irá regressar a Portugal "saudoso e solidário". "Saudoso e solidário, com a vossa gesta nacional, com a sua política, senhor Presidente, com esse percurso imparável legitimamente ambicionando converter o sonho fundador venerado no Memorial Agostinho Neto numa dimensão de potência regional, continental e com afirmação no mundo", acrescentou.
Uma lição do professor
Para o analista Agostinho Sicatu, Marcelo Rebelo de Sousa, que é professor universitário jubilado, deu uma lição aos governantes angolanos sobre a aproximação com a população.
"O cidadão precisa de comer, precisa de vestir, precisa de andar à vontade e o cidadão gostaria de tocar num Presidente, dar-lhe um abraço, quiçá até passear um pouco também com ele. É isso que os cidadãos precisam. Mas os nossos governantes são alérgicos a isso", critica Agostinho Sicatu.
Marcelo Rebelo de Sousa deixa Luanda este sábado depois de uma visita oficial de quatro dias a Angola. Antes de iniciar esta visita, o chefe de Estado português disse à agência Lusa que foi "uma opção intencional" passar o terceiro aniversário do mandato em Angola e que "foi possível conjuntar o programa".
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".