São Tomé: Presidente quer inquérito sobre tentativa de golpe
af | com agências
28 de novembro de 2022
Depois de ataque a quartel militar em São Tomé, o Presidente Carlos Vila Nova disse este domingo não ter dúvidas da intenção dos atacantes. "Uma tentativa de golpe de Estado" por quem não aceita resultados eleitorais.
Publicidade
"Dúvidas não há - aquilo que hoje sei e tenho informação [é que] foi claramente uma tentativa de golpe de Estado contra as instituições e seus dirigentes", disse Carlos Vila Nova, depois de uma reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional de São Tomé e Príncipe.
O chefe de Estado pediu uma investigação para apurar as razões do incidente que colocou em alarme o país e a comunidade internacional.
Na sequência do ato, pelo menos quatro pessoas, entre elas, três invasores e um militar morreram, segundo o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o brigadeiro Olinto Paquete.
"Infelizmente, perderam-se quatro vidas humanas, que tentámos ao máximo preservar. Três resultantes de ferimentos provocados pelos impactos da carga explosiva, e a quarta morte, o senhor Arlécio Costa, segundo informações dos presentes, saltou da viatura e caiu. Foram levados ao hospital central, mas não resistiram", informou.
Críticas a "tortura e morte"
Nas redes circulam as fotografias dos quatro mortos aparentemente com sinais de maus-tratos. Perante estes factos, o antigo procurador-geral da República são-tomense Adelino Pereira, vítima de um golpe de Estado em 2003, e a conselheira de Estado Celiza Deus Lima repudiaram neste domingo "a tortura e morte" de alegados envolvidos no assalto ao quartel militar na sexta-feira (25.11).
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Olinto Paquete, garante que estão em curso investigações para esclarecer os factos. "Eu não posso justificar. De onde saiu? Também estamos a investigar. Como saiu, não sei também dizer", admitiu.
"Demos orientação que não pode haver agressão. O objetivo é conseguir que os indivíduos fossem presos e a partir deles, nós tentarmos perceber o que aconteceu. As imagens que aparecem, vamos investigar para saber como, porquê, e elas vão servir também para o trabalho de investigação do inspetor-geral", prometeu Paquete.
Os corpos das vítimas do ataque vão passar por uma autópsia que será feita por peritos internacionais, segundo garantiu este domingo (27.11) o representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a África Central, Abdou Abarry. "Portugal vai enviar uma equipa de medicina legal para fazer autopsia dos corpos das vítimas", revelou.
Publicidade
Delfim Neves entre os 16 detidos
Pelo menos 16 de pessoas estão detidas em conexão com o ataque de última sexta-feira, 12 militares e quatro civis, entre os quais o antigo presidente da Assembleia nacional e candidato à presidência do país, Delfim Neves. Os advogados do político alegam que a sua detenção é ilegal.
Entretanto, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social-Democrata (MLSTP/PSD, na oposição) alertou no sábado (26.11) para uma alegada "tendência de instalação de um governo ditatorial no país".
"Perante as evidências dos atos de 25 de novembro e as ações subsequentes, o MLSTP/PSD alerta a população e a comunidade internacional sobre a tendência para a instalação de um governo ditatorial com objetivo de amordaçar a democracia e intimidar os opositores através da instalação do terror, medo e perseguição", disse Raul Cardoso, deputado e membro da comissão política do partido.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.