Presidente senegalês pressionado a reagendar eleições
Maria Gerth-Niculescu
15 de fevereiro de 2024
Parceiros internacionais, oposição e sociedade civil querem que Macky Sall resolva a grave crise política em que mergulhou o Senegal ao adiar as presidenciais. Protestos em todo o país já resultaram em três mortos.
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O Presidente senegalês, Macky Sall, convocou ontem o Conselho de Ministros para debater a crise provocada pelo adiamento das eleições presidenciais no país.
O chefe de Estado está a ser pressionado pelos principais parceiros internacionais, oposição e pela sociedade civil para que as eleições sejam reagendadas e a grave crise política seja resolvida.
Pelo menos três pessoas morreram e muitas outras foram detidas em manifestações por todo o Senegal desde o anúncio do adiamento das eleições.
"Estamos fartos deste Presidente, queremos mesmo que vá embora, que deixe o nosso país em paz. Ele violou a nossa Constituição. Dizemos não ao adiamento das eleições!", disse um dos manifestantes.
Para Madia Diop Sané, coordenador do movimento "Vision citoyenne", a expetativa da ida às urnas alimentava o desejo de mudança do povo senegalês. "Os jovens saíram em massa para levantar os seus cartões de eleitor. Infelizmente, estes cartões continuarão a andar por aí", lamenta.
"Os incidentes, a violência, todos diziam que tudo acabaria em breve, que só faltava o dia 25 de fevereiro para, quem sabe, conseguir a verdadeira mudança de que precisamos. É como se a eleição fosse uma arma para o povo senegalês", explica Sané.
Protestos também eclodiram no país, em junho do ano passado, contra a condenação do líder da oposição, Ousmane Sonko, condenado a dois anos de prisão por aliciamento de menores.
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Região de Casamança afetada
Sonko cresceu na região senegalesa de Casamança, geograficamente separada pela Gâmbia. Após os protestos, as autoridades suspenderam os ferries que ligavam a região ao resto do país. O transporte rodoviário, a principal alternativa, é demorado, perigoso e caro.
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O setor das pescas foi um dos mais afetados com a interrupção dos serviços de ferry. "É uma região isolada, por isso, com o barco, tínhamos a possibilidade de enviar os nossos produtos sem qualquer problema", explica o comerciante Moussa Bari.
"O barco tinha uma câmara frigorífica, agora somos obrigados a usar carros, e às vezes não há veículos com frigorífico, é arriscado. O carro pode demorar até 48 horas", acrescenta.
Mas a sensação de marginalização não é nova em Casamança. Para muitos, o seu potencial não está a ser explorado porque o governo não investiu em infraestruturas. O desemprego entre os jovens também é galopante.
Casamança assistiu a quatro décadas de combates entre rebeldes separatistas do Movimento das Forças Democráticas de Casamança e o governo do Senegal. O conflito deixou 60 mil pessoas deslocadas e perto de 5 mil vítimas, incluindo centenas de mortes causadas por minas terrestres.
Para Ousmane Sonko, " deveria ser o centro do Senegal" e enfatizou o potencial comercial da região com países vizinhos como a Guiné-Bissau. O político prometeu tirar a região do seu torpor e transformá-la num "centro financeiro regional".
Casamança: Um conflito (quase) esquecido
A região de Casamança, no sul do Senegal, é um foco de conflito há 30 anos - embora oficialmente prevaleça a paz. Com uma nova operação militar, o Exército tem tomado medidas contra os refúgios dos grupos rebeldes.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Nova ofensiva do Exército
No início de fevereiro de 2021, soldados do Governo senegalês participaram numa operação para encontrar rebeldes em Casamança. A região no sudoeste do Senegal é palco de um conflito em ebulição desde os anos 80. Embora ultimamente a situação se mantenha relativamente calma, em janeiro deste ano o Governo lançou uma nova ofensiva contra os refúgios dos rebeldes.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Rebelião sangrenta
O círculo vicioso de violência começou em 1982, quando os líderes do Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC), que até então lutavam pacificamente pela independência da região, foram presos. Nos anos seguintes, o grupo radicalizou-se e, a partir de 1990, recebeu apoio militar vindo de território guineense. Também a vizinha Gâmbia é cada vez mais arrastada para o conflito.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Negociações falhadas
Houve várias tentativas de um cessar-fogo nos anos 90, que não duraram muito tempo, em parte porque o braço armado do MFDC continuou a fragmentar-se. Apesar de várias tentativas do fundador do MFDC, Augustin Diamacoune Senghore, para alcançar um acordo com o Governo do Senegal, só entre 1997 e 2001 centenas de pessoas foram mortas e milhares tiveram de fugir.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Momento histórico
Em abril de 2001, o então Presidente senegalês Abdoulaye Wade (à direita) viajou para Ziguinchor, em Casamança, um ano após a sua tomada de posse. O novo chefe de Estado queria negociar um caminho para a paz com o líder separatista Augustin Diamacoune Senghore (à esquerda), mas como o acordo contornava a questão da autonomia, volta a ser rejeitado pelos rebeldes.
Foto: Seyllou Diallo/AFP
Violência apesar do acordo de paz
Em 2004, o líder rebelde Augustin Diamacoune Senghore (à direita) e o ministro do Interior Ousmane Ngom (à esquerda) assinaram um tratado de paz duradouro. Embora o conflito político estivesse resolvido, alguns grupos de dissidentes do MFDC continuaram a lutar. E a violência em Casamança intensifica-se.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
A paz torna-se uma questão eleitoral
Em 2012, o concorrente Macky Sall venceu as eleições presidenciais contra Abdoulaye Wade. Uma das suas promessas era trazer finalmente a paz a Casamança. Durante a campanha, Macky Sall enviou o popular músico senegalês Youssou Ndour a Casamança.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
Violência latente
Apesar de todos os esforços de paz, a violência continuou nos anos seguintes. Mais recentemente, em 2018, 13 jovens foram mortos e vários ficaram feridos num massacre perto da capital regional de Ziguinchor. Até agora, muitas pessoas deslocadas não regressaram às suas casas por terem medo.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
Quotidiano em Casamança
Apesar dos recorrentes surtos de violência, os habitantes de Ziguinchor, a principal cidade da região de Casamança, prosseguem a sua vida quotidiana. Com mais de 200.000 habitantes, Ziguinchor é o principal centro comercial de Casamança e uma base importante para o Exército senegalês.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Atrás dos rebeldes
Segundo informações oficiais, soldados do Exército já capturaram várias bases rebeldes, incluindo um bunker subterrâneo, durante a última operação militar que arrancou no início de fevereiro de 2021. Desta forma, o Governo espera acabar também com as atividades criminosas através das quais os grupos rebeldes se financiam.