Após críticas, Eletricidade de Moçambique recua na decisão de estipular a sua própria taxa cambial do dólar no pagamento salarial. CDD acredita que pressão da sociedade civil "incomodou" e pesou no volte-face.
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A empresa pública Eletricidade de Moçambique (EDM) tencionava impor uma taxa muito acima da praticada na praça, no pagamento dos seus próprios salários, numa aparente intenção de obter vantagens. Além disso, o pagamento em divisas em empresas públicas não é recomendado.
As intenções despropositadas da empresa pública indignaram os cidadãos, que há poucos dias contestaram a aprovação de regalias e benefícios para o pessoal administrativo do Parlamento, também inusitados, quando o salário mínimo nacional não é atualizado há cerca de um ano por escassez de recursos.
Reunida esta segunda-feira (10.05), a Assembleia Geral Extraordinária da EDM acabou por recuar na decisão. Num comunicado hoje divulgado, a elétrica pública informa que determinou "o pagamento de todas as remunerações da empresa EDM em moeda nacional (metical)".
E também vai "converter a componente da remuneração em dólares norte-americanos para meticais, ao câmbio médio de referência no mercado em vigor na data desta deliberação". A EDM anunciou ainda que decidiu anular uma circular de 6 de maio, "sobre a fixação da taxa de câmbio a ser aplicada para a conversão das componentes em dólares das remunerações e pensões".
Em entrevista à DW África a propósito deste caso, o diretor da organização não-governamental Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, encoraja a sociedade civil "a seguir em frente com a pressão".
DW África: A empresa terá sido pressionada a recuar na sua intenção de obter vantagens dos cofres públicos?
Adriano Nuvunga (AN): Claramente. Nós como sociedade civil fizemos o nosso barulho público e penso que isso pode ter incomodado o nível superior, que provavelmente não quer despoletar mais casos e, por isso, mandou recuar.
DW África: Em Moçambique, o pagamento de salários em divisas não é algo aconselhado pelas autoridades ou não é uma prática instituída...
AN: É uma prática que é condenada pelo Banco de Moçambique, claramente. Não são possíveis as transações de pagamento salarial em operações normais devidamente autorizadas pelo Banco de Moçambique, não é possível.
DW África: Então, estamos a falar de uma empresa pública que viola os próprios regulamentos de uma instituição como o Banco Central...
AN: Claro. A EDM é conhecida recorrentemente por esse tipo de práticas ilegais.
DW África:A empresa Eletricidade de Moçambique também é vista por alguns setores como sendo um "saco azul" do Governo da FRELIMO, principalmente em épocas eleitorais. Perante este tipo de práticas duvidosas relacionadas nesta empresa, não seria o ideal uma investigação à sua atuação?
AN: Claramente, mas para isso acontecer, como sociedade civil temos de seguir em frente com a pressão, porque por parte do Estado não esperamos qualquer tipo de ação. Sabemos que outros setores do Estado e o Governo beneficiam de coisas que se passam na EDM. Por isso, não esperamos ver qualquer tipo de investigação séria.
DW África: Então, continuaremos a ter uma EDM com livre acesso a uma espécie de manjedoura?
AN: Sem dúvida. E todas as mudanças que sempre houve foram porque a sociedade civil pressão. Há um tempo atrás, a EDM era "saco azul" por via dos fornecimentos, muitos deles corruptos, muitos deles fantasmas. Só depois de denunciarmos isso é que houve algumas reformas – e algumas delas não passaram de pseudorreformas. Mas tudo isso porque houve uma pressão fora. Sem que isso aconteça, como foi nesse caso, não esperamos qualquer tipo de movimentação da Procuradoria-Geral da República, muito menos de uma ação movida pelo ministério da tutela que é o Ministério dos Recursos Minerais e Energia.
DW África:A Eletricidade de Moçambique também é uma das empresas que mais deve à Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB)…
AN: Claramente. É uma das empresas que deve e, por isso, não só há uma questão de infraestruturas que não permite que a energia da HCB venha para Maputo, mas também a questão das dívidas.
As maiores barragens de África
Nilo, Congo, Zambeze: os rios africanos guardam grande potencial para a produção de energia. Os governos reconhecem isso e apostam cada vez mais em megaprojetos. Um panorama das maiores centrais hidroelétricas de África.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Grande Represa do Renascimento, na Etiópia
No sudoeste da Etiópia, está a ser erguida aquela que será a maior barragem de África. A construção da Grande Represa do Renascimento começou em 2011 e deve ser concluída em 2017. A barragem localiza-se perto da fronteira com o Sudão, no Nilo, e terá uma potência de 6.000 megawatts (MW). O reservatório será um dos maiores do continente, com capacidade para armazenar 63 quilômetros cúbicos de água.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Represa Alta de Assuão, no Egito
A Represa Alta de Assuão é atualmente a barragem mais potente de África. Está localizada perto da cidade de Assuão, no sul do Egito. O lago atrás da barragem pode armazenar até 169 quilómetros cúbicos de água. Seu maior afluente é o Rio Nilo. As turbinas têm uma capacidade de 2.100 megawatts. A construção durou onze anos e a inauguração foi em 1971.
Uma das maiores barragens do mundo está localizada na província de Tete. A hidroelétrica Cahora Bassa, no rio Zambeze, tem uma potência de 2.075 megawatts, pouco menos que a Represa Alta de Assuã, no Egito. A maior parte da energia gerada é exportada para a África do Sul. No entanto, sabotagens durante a guerra civil impediram a produção de eletricidade por mais de dez anos, a partir de 1981.
Foto: DW/M. Barroso
Represa Gibe III, na Etiópia
A barragem Gilgel Gibe III fica 350 quilômetros a sudoeste da capital etíope, Addis Abeba. Foi concluída em 2016 e pode gerar um máximo de 1.870 megawatts, tornando-se a terceira maior barragem em África. A construção durou quase nove anos e foi financiada a 60% pelo Banco de Exportação e Importação da China, China Exim Bank.
Foto: Getty Images/AFP
Kariba, entre a Zâmbia e o Zimbabué
A barragem de Kariba fica na garganta do rio Zambeze, entre a Zâmbia e o Zimbabué. Tem 128 metros de altura e 579 metros de comprimento. Cada país tem sua própria central eléctrica. A estação norte, da Zâmbia, tem capacidade total de 960 megawatts. A estação sul, do Zimbabué, tem capacidade total de 666 megawatts. As obras de expansão em 300 megawatts começaram em 2014 e devem terminar em 2019.
Foto: dpa
Inga I e Inga II na RDC
As barragens Inga consistem de duas represas. Inga I tem capacidade para produzir 351 megawatts e Inga II, 1424 megawatts. Foram encomendadas em 1972 e 1982, como parte do plano de desenvolvimento industrial do ditador Mobutu Sese Seko. Mas, atualmente, atingem apenas 50% de seu potencial energético.
Foto: picture-alliance/dpa
Inga III
Inga I e Inga II localizam-se perto da foz do rio Congo e ligadas às cataratas Inga. O governo congolês já planeia o lançamento de Inga III, com custo de 13 mil milhões de euros e capacidade de 4.800 megawatts. Juntas, as três barragens seriam a central hidroelétrica mais potente de África.
Merowe no Sudão
O Sudão também depende fortemente de energia eólica com duas grandes barragens no país: Merowe no Rio Nilo (na foto) tem uma capacidade de 1.250 MW e foi construída por uma empresa chinesa. Ainda maior é a barragem de Roseires no Nilo Azul, que desde a sua construção em 1966 foi várias vezes ampliada e conta atualmente com turbinas que têm uma potência total de 1.800 MW.
Foto: picture-alliance/dpa
Akosombo, no Gana
A oitava maior barragem de África é Akosombo, no Gana. Construída na garganta do Rio Volta, a represa teve como resultado o Lago Volta - o lago artificial do mundo, com área de 8.502 quilómetros quadrados. As seis turbinas têm uma capacidade combinada de 912 megawatts. Além de gerar eletricidade, a barragem também protege contra inundações.
Foto: picture-alliance / dpa
Represa Tekezé, na Etiópia
Outra represa grande de África está localizada na Etiópia. A barragem Tekeze encontra-se entre as regiões de Amhara e Tigré. Apesar de seus impressionantes 188 metros de altura, a capacidade máxima da hidrelétrica é de 300 megawatts e, assim, apenas um vigésimo da potência da Grande Represa do Renascimento. A represa entrou em funcionamento em 2009.