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Presumível morte de Prigozhin: "Putin não perdoa traição"

com agências
24 de agosto de 2023

Qual será o futuro do grupo Wagner, caso se confirme a morte do seu líder? Parceiros de Putin dizem que as relações com a Rússia não serão alteradas. À DW, analista diz acreditar que será o fim do grupo Wagner em África.

Russland Prigoschin soll bei Absturz gestorben sein | Tver
Foto: Marina Lystseva/REUTERS

O Presidente russo, Vladimir Putin, expressou nesta quinta-feira (24.08) as suas "condolências" pela queda de um avião que poderá ter matado o chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, ontem.

"Em primeiro lugar, quero expressar as minhas sinceras condolências às famílias de todas as vítimas", disse Putin, descrevendo Prigozhin como um homem que cometeu "erros" graves, mas que "alcançou resultados".

Prigozhin era até aqui o líder fundador do grupo Wagner que atua em várias partes do mundo como exército privado russo.

Em países como República Centro-Africana, Mali, Líbia e Síria, o grupo Wagner, cuja existência o Kremlin nem sequer admitia até ao final de 2022, tornou-se conhecido em 10 anos como cúmplice de regimes que queriam livrar-se de padrinhos ocidentais ou que procuravam combatentes discretos e implacáveis.

À DW, o conselheiro do Presidente da República Centro-Africana, Faustin-Archange Touadéra, afirmou que com ou sem Prigozhin as relações com a Rússia não vão mudar.

Fidèle Gouandjika acredita que o Wagner vai ter um novo líder e diz que a cooperação militar com a Rússia é para continuar. "Temos um acordo de defesa com a Rússia e penso que os paramilitares que estão connosco vão continuar o seu trabalho como antes - vão encontrar outro chefe. Isso não vai mudar - mesmo que Yevgeny Prigozhin já não esteja lá", disse em reação à notícia da presumível morte do líder dos mercenários russos.

Para o jornalista português, José Milhazes, a Rússia criou o exército privado com o intuíto de ter forças mercenárias para resolver problemas "sujos e complicados noutros continentes. Mas não no interior da Rússia".

O historiador, que viveu 38 anos na Rússia, diz que é do interesse de Putin continuar a reforçar a presença militar russa em África, porque, segundo disse, o Kremlin precisa de novos aliados para sair do isolamento internacional em que se encontra, após invadir a Ucrânia.

Russos levam flores à sede do grupo Wagner após notícia da morte de PrigozhinFoto: Str/AFP/Getty Images

Interesses russos em África

"Há também os interesses económicos, nomeadamente matérias-primas, como é o caso do ouro, diamantes, petróleo, etc. A Rússia pretende concorrer com as potências ocidentais também neste setor, que é um setor que sempre atraiu potências estrangeiras para África, que é o setor das matérias-primas", afirma Milhazes.

A 24 de junho, um dia depois do início da revolta dos mercenários do Wagner, que se encaminhavam para Moscovo, Putin condenou a "traição" de Prigozhin, afirmando ter sido "provocada por ambições desmesuradas e interesses pessoais".  Desde esta altura, o líder do Wagner era um alvo a abater, diz Milhazes.

"Já era um acontecimento esperado, tendo em conta a política de Putin em relação aos seus adversários. Putin disse várias vezes que poderia perdoar tudo, menos traição. E pelos vistos ontem realizou-se, digamos, essa máxima de Putin."

Ainda de acordo com o autor do livro "A Mais Breve História da Rússia", sem Prigozhin o grupo Wagner tem os dias contados. "O Wagner vai deixar de existir como tal. O Kremlin vai passar a controlá-lo completamente. Principalmente a parte que atua em África. Aí, o mais provável é que o Wagner seja substituído por outras empresas mercenárias russas sob o controlo de Putin", antevê o Milhazes.

Annalena Baerbock, chefe da diplomacia alemã, juntou-se às suspeitas de países europeus sobre a responsabilidade do Kremlin na presumível morte do chefe do grupo Wagner na queda do jato na Rússia.

"Ainda não é claro o que aconteceu exatamente porque, como é óbvio, não se pode confiar nas declarações oficiais russas. Mas o que sabemos é que, durante pelo menos um ano e meio, o Kremlin, em particular, tem estado a mentir repetidamente. E, por isso, não é por acaso que o mundo inteiro olha imediatamente para o Kremlin, quando um ex-confidente de Putin cai literalmente do céu, dois meses depois de ter tentado uma rebelião", declarou a ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha.

Quem queria Prigozhin morto ?

Os serviços de informações do Ministério da Defesa da Ucrânia mostraram-se convictos de que o Kremlin está por detrás da queda do avião que transportava PrigozhinFoto: picture alliance

Na quarta-feira (23.08), o Presidente dos EUA, Joe Biden, já tinha dito que "poucas coisas acontecem na Rússia sem que Putin tenha algo a ver com isso". O historiador José Milhazes concorda que o incidente possa ter o dedo de Putin: "Em primeiro lugar, eu coloco a autoria em Putin."

"Daí parece-me mais uma ação realizada por forças russas. Como nós sabemos, havia muitos dirigentes que odiavam o Prigozhin - nomeadamente o ministro da Defesa, Serguei Saigo, e o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas Russas".

Na quarta-feira, a Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia (Rosaviatsiya) indicou que Prigozhin era um dos passageiros do jato privado que se despenhou a norte de Moscovo, matando todos os ocupantes. Entretanto, a morte do chefe do grupo Wagner ainda não foi oficialmente confirmada.

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