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Prevalecem casos de violência obstétrica em Moçambique

Silaide Mutemba (Maputo)
1 de julho de 2023

Várias mulheres relatam experiências de violência física e psicológica nas maternidades públicas do país. Estudo indica que falta de legislação pode estar na origem do problema.

Moçambique continua a enfrentar problemas de violência obstétrica nas maternidades públicas Foto: DW/S. Lutxeque

Moçambique continua a enfrentar problemas de violência obstétrica nas maternidades públicas. Entrevistas realizadas com mulheres que passaram por experiências de violência obstétrica revelaram casos de violência psicológica, onde as parturientes foram submetidas a humilhações e desrespeito por parte dos profissionais de saúde. Além disso, muitas delas relataram a falta de assistência adequada durante o processo de parto, resultando em complicações e traumas emocionais.

Júlia de Carvalho tem 25 anos e relatou à DW a sua experiência: "Eu gritava, dizia à enfermeira para me ajudar e ela dizia: "Não grites. Estás a fazer barulho e só te estamos ouvir a ti aqui dentro". Então eu praticamente fiz o meu parto. Depois de um tempo a criança saiu. Foi aí que ela se aproximou para cortar o cordão umbilical da criança", contou.

Estudo indica que ausência de legislação para combater este tipo de violência pode estar na origem do problema (Imagem ilustrativa)Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia

Para além de considerar que sofreu maus-tratos durante o trabalho de parto, esta jovem critica também a falta de informação sobre alguns procedimentos médicos após o parto. No seu caso, conta: "cortaram o cordão e levaram a criança. Momentos depois exigi a criança, porque estavam a demorar. Então gritaram: achas que te vamos roubar a criança? Fica calma, vamos trazer o teu bebé".

Subornos

Virgínia Nilza, outra das vítimas, conta à DW que, na sua primeira gravidez, sofreu de "violência psicológica e verbal" por não ter "dado dinheiro para ter uma melhor assistência".

Já na segunda gravidez, Virgínia optou por pagar o suborno aos profissionais de saúde.

"Com o meu segundo filho, fiz diferente. Já tinha conhecimento do parto anterior que foi traumatizante e eu já sabia o que ia acontecer caso não fizesse isso", lamenta.

A falta de humanização hospitalar durante o trabalho de parto, torna-se, para algumas mulheres uma experiência assustadora. É o caso de Virgínia, que recorda um atendimento "assustador". "Acredito que nenhuma mulher ia querer voltar à maternidade depois daquele atendimento", disse.

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Também o psicólogo Cremildo Chichongue alerta para as consequências deste tipo de atendimento para as parturientes. Segundo o especialista, ", a violência obstétrica pode levar a dificuldades no vínculo entre a mãe e o bebé. [A mãe] pode ficar com a sensação de insignificância e incompetência de lidar com o trabalho de parto e não estar a ser boa o suficiente para gerar uma vida".

Falta legislação

Uma pesquisa recente aponta que a ausência de legislação específica para combater este tipo de violência pode estar na origem do problema. O mesmo diz a juíza Vitalina Papadakis que acrescenta que para além de não haver "legislação específica sobre a matéria, o código penal também não prevê, de forma específica, crimes relacionados com a violência que ocorre nas maternidades".

A juíza é membro da Campanha Humaniza Moz, um grupo que congrega várias instituições, entre públicas e da sociedade civil, com o objetivo de fazer advocacia pelo fim da violência obstétrica em Moçambique.

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