Moçambique tem previsões económicas irrealistas, diz agência
Lusa | tm
12 de novembro de 2016
Analistas financeiros da revista britânica "The Economist" consideram projeções para evolução das receitas do Governo moçambicano demasiado otimistas e preveem crescimento económico lento, com alta inflação.
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A Economist Intelligence Unit, agência britânica independente de análise e consultoria, alertou este sábado (12.11) que as projeções do Governo de Moçambique para o crescimento económico do país são demasiado otimistas, num contexto de fracas receitas e empresas públicas falidas.
Devido às pressões orçamentais que afetam o país, os economistas consideram "irrealistas" as previsões do Governo para receitas futuras. A administração de Filipe Nyusi estima receitas de 5,8 mil milhões de euros para 2023, o que representa 60% do PIB atual.
De acordo com o relatório financeiro, a pressão para aumentar os gastos e o acesso limitado aos mercados estão a acentuar os impasses económicos.
Os analistas acreditam que a crise deverá gerar uma "política orçamental incoerente e marcada pelo aumento dos atrasos nos pagamentos a fornecedores e credores" e alertam que não há solução rápida para o problema. Além disso, o fim da "era de muitos créditos" deve elevar a instabilidade política.
A desvalorização do metical poderia ser benéfica, acreditam, mas "as receitas e os lucros, equivalentes a um terço das receitas do Governo, devem ser abaladas pelo fraco crescimento", acrescentam. Com isso, a perspectiva é de inflação galopante, taxas de juros elevadas, insegurança e preocupações sobre a qualidade do crédito soberano.
Crise
A crise económica em Moçambique agravou-se no início de 2016, após a revelação de dívidas ocultas no valor de 1,29 mil milhões de euros. Financiamentos de parceiros internacionais foram suspensos e a confiança em indicadores macroeconómicos do país foi abalada.
Em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) também suspendeu créditos e exigiu uma auditoria internacional independente sobre as dívidas não veiculadas para retomar o apoio ao país africano.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.