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Luta anti-colonial com 1.a exposição permanente em Lisboa

João Carlos (Lisboa)5 de agosto de 2015

De prisão passou a museu da memória. A antiga cadeia do Aljube foi convertida num Museu da Resistência e Liberdade, lugar onde está patente a história da repressão política durante o Estado Novo.

Foto: DW/J. Beck

Ao andar pelos corredores da antiga cadeia do Aljube, Marcos Manuel Rolo Antunes recorda um período difícil da sua vida - o tempo em que foi preso político.

Marcos Antunes ainda se lembra dos locais das salas de interrogatório e de tortura. O opositor ao regime ditatorial de António Salazar foi preso sete vezes, no Aljube, mas também em Caxias e no Porto. Na quarta vez, esteve detido durante sete anos.

De 1926 a 1965, ano do seu encerramento, passaram pela cadeia do Aljube cerca de 30 mil presos políticos, em articulação com o então edifício da polícia política portuguesa, a PIDE, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.

Agora, a antiga cadeia foi convertida no Museu da Resistência e Liberdade, inaugurado a 25 de Abril. O edifício, agora renovado, fica na Rua de Augusto Rosa, perto da Sé de Lisboa.

Museu da Resistência e LiberdadeFoto: DW/J. Beck

Passados cem dias da inaguração, o museu já teve cerca de cinco mil visitantes.

As imagens e peças em exibição mostram o que era um preso político, bem como as formas de resistência e de luta então existentes.

Muítos líderes passaram por Portugal

O terceiro piso, onde está o último núcleo da exposição permanente, é dedicado aos movimentos de libertação e à luta anti-colonial.

À luta anti-colonial, em Portugal, o museu não dá grande relevância, mas está patente, por exemplo, o papel desempenhado pelos movimentos estudantis de meados dos anos 60 contra a guerra de África.

"Procuramos olhar para a luta anti-colonial do ponto de vista dos movimentos de descolonização e libertação", diz Luís Farinha, diretor do museu. "Claro que muitos dos elementos que vão ser líderes ativos desses movimentos estavam em Portugal."

Farinha dá o exemplo da Casa dos Estudantes do Império, "que começou por ser um sítio onde o regime pretendia juntar estudantes africanos e, de algum modo, levá-los a acreditar na política colonial. Mas, na verdade, foi aqui que se criou uma consciência anti-colonial. Grande parte dos líderes africanos, como Mário de Andrade e outros, estiveram aqui." Alguns destes estudantes, das mais variadas áreas, viriam a ser líderes dos movimentos de libertação que lutaram pela independência dos respetivos países em África, nomeadamente em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Memória

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Numa outra sala do museu, são lembrados alguns portugueses, vítimas do sistema repressivo da ditadura. Muitos foram mortos no Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, durante o encarceramento ou o interrogatório.

A exposição encerra na sala dedicada à Democracia, onde se evoca a Revolução dos Cravos do 25 de abril de 1974, que pôs fim a 48 anos de ditadura salazarista. O diretor, Luís Farinha, sublinha que "a guerra colonial foi o grande motivo da mudança para a liberdade e democracia em Portugal. Foi a guerra colonial que fez cair o regime."

A filha do opositor à ditadura Marcos Antunes realça que é importante que "não se branqueie a História e que haja memória".

"A História de um país também se faz da memória e das pessoas", diz Ana Maria, que acompanhou o pai durante a visita ao Museu da Resistência e Liberdade.

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