Líbia condena silêncio internacional aos avanços de Haftar
nn | Lusa | AFP | AP | Reuters
19 de abril de 2019
O primeiro-ministro da Líbia, Fayez al-Serraj, que é apoiado pela Organização das Nações Unidas, condena o silêncio dos aliados internacionais perante a escalada da ofensiva militar liderada pelo marechal Khalifa Haftar.
Publicidade
Pelo menos 205 pessoas morreram e 913 ficaram feridas desde o início da ofensiva do Exército Nacional Líbio (ENL) do marechal Khalifa Haftar para conquistar Tripoli, capital líbia, indicou a Organização Mundial de Saúde (OMS) num balanço divulgado na quinta-feira (18.04).
Em entrevista à BBC, Fayez al-Serraj diz sentir-se abandonado pela comunidade internacional. Para o primeiro-ministro líbio, a falta de apoio dos parceiros internacionais poderá "conduzir a outras consequências", citando o risco dos extremistas do Estado Islâmico se aproveitaram da instabilidade naquele país.
França acusada de conluio com militares de Haftar
O Governo de Acordo Nacional (GAN) da Líbia acusou na quinta-feira, diretamente e pela primeira vez, as autoridades francesas de apoiarem o marechal Khalifa Haftar. França já refutou as acusações, qualificando-as como "completamente infundadas".
"As declarações de apoio e cobertura diplomática a Haftar são completamente infundadas", disse um alto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros de França.
A posição do GAN foi assumida pelo ministro do Interior, Fathi Bach Agha, que ordenou "a suspensão de qualquer ligação entre (o Ministério do Interior) e a parte francesa no âmbito de acordos bilaterais de segurança (...) por causa da posição do governo francês de apoiar o criminoso Haftar que age contra a legitimidade".
Considerada por diplomatas e analistas como um dos apoios do marechal Khalifa Haftar, juntamente com o Egito ou os Emirados Árabes Unidos, a França já tinha negado ter apoiado a ofensiva contra Tripoli. A 8 de abril, uma fonte diplomática francesa indicou que Paris não tinha uma "agenda oculta" para colocar Haftar no poder, a quem "não reconhecerá qualquer legitimidade" se assumir o controlo de Tripoli com o recurso a armas.
Também na quinta-feira, o procurador-geral militar do governo líbio emitiu um mandado de detenção contra o marechal Khalifa Haftar, que controla o leste do país. O procurador-geral militar do GAN ordenou a prisão de Haftar e de seis dos seus oficiais, acusados de realizar ataques aéreos contra instalações e bairros civis, segundo o documento publicado pelo gabinete de comunicação do executivo liderado pelo primeiro-ministro, Fayez al-Sarraj.
Esta decisão surge em resposta ao mandado de detenção emitido em 11 de abril pelo ENL, do marechal Haftar, contra Fayez al-Sarraj e outros responsáveis do GAN.
Desde 4 de abril, combates opõem as forças do GAN ao ENL. Segundo a OMS, as equipas médicas e os cirurgiões mobilizados continuam a intervir em hospitais de campanha instalados nas áreas adjacentes às linhas de frente da batalha.
Milhares de deslocados
Os combates forçaram 25.000 deslocados, incluindo mais de 4.500 em 24 horas, "o maior aumento de deslocações num dia", de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
A comunidade internacional continua dividida sobre a ofensiva e um projeto de resolução do Reino Unido no Conselho de Segurança, pedindo um cessar-fogo e acesso humanitário às zonas de combate, não obteve a unanimidade, de acordo com diplomatas das Nações Unidas.
A Rússia, que bloqueou um projeto de declaração do Conselho pedindo ao ENL para suspender a ofensiva, continua a levantar objeções às referências criticando Haftar, disse um diplomata.
A Líbia tem sido vítima do caos e da guerra civil, desde que, em 2011, a comunidade internacional contribuiu militarmente para a vitória dos distintos grupos rebeldes sobre a ditadura de Muammar Khadafi (entre 1969 e 2011).
Dez líderes africanos que morreram em exercício
A população costuma acompanhar com atenção o estado de saúde dos altos dirigentes – muitos especulam atualmente, por exemplo, sobre a saúde do Presidentes da Nigéria. Vários chefes de Estado já morreram em exercício.
Foto: picture-alliance/dpa
John Magufuli, Presidente da Tanzânia
Morreu a 17 de março de 2021, doente. O seu estado de saúde, pouco antes da falecer, esteve em volto a muito secretismo. Assumiu a liderança do país em 2015 e boa parte do seu povo enaltece os seus feitos, tais como a melhoria dos sistemas de saúde, educação e transporte. Mas também foi contestado por algumas políticas duras e por perseguir os seus críticos.
Foto: Sadi Said//REUTERS
1) Malam Bacai Sanhá, Presidente da Guiné-Bissau (2012)
Malam Bacai Sanhá morreu em 2012. Ele sofria de diabetes e morreu em Paris, aos 64 anos, menos de três anos depois de chegar ao poder. Sanhá tinha vários problemas de saúde.
Foto: dapd
2) João Bernardo "Nino" Vieira, Presidente da Guiné-Bissau (2009)
João Bernardo "Nino" Vieira foi assassinado em março de 2009. Tinha 69 anos de idade. Esteve no poder durante mais de duas décadas. Tornou-se primeiro-ministro em 1978 e, em 1980, tomou a Presidência. Ficou no cargo até 1999, ano em que foi para o exílio. Regressou a Bissau em 2005 e venceu nesse ano as presidenciais.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
3) Mouammar Kadhafi, chefe de Estado da Líbia (2011)
Mouammar Kadhafi foi assassinado em 2011. Kadhafi, auto-intitulado líder da "Grande Revolução" da Líbia, foi morto por forças rebeldes em circunstâncias ainda por esclarecer. Estava no poder há 42 anos, desde um golpe de Estado contra a monarquia líbia em 1969, onde não houve derramamento de sangue. A sua liderança chegou ao fim com a chamada "Primavera Árabe".
Foto: Christophe Simon/AFP/Getty Images
4) Umaru Musa Yar'Adua, Presidente da Nigéria (2010)
Umaru Musa Yar'Adua morreu em 2010 aos 58 anos de idade. Morreu no seu país, vítima de uma inflamação do pericárdio – estava há apenas três anos no poder. Já durante a campanha eleitoral, Yar'Adua teve de se ausentar várias vezes devido a problemas de saúde. Depois de ser eleito, em 2007, a sua saúde deteriorou-se rapidamente.
Foto: P. U. Ekpei/AFP/Getty Images
5) Lansana Conté, Presidente da Guiné-Conacri (2008)
Após 24 anos no poder, Lansana Conté morreu de "doença prolongada" aos 74 anos de idade. O Presidente da Guiné-Conacri sofria de diabetes e de problemas cardíacos. Conté foi o segundo chefe de Estado do país, de abril de 1984 até à sua morte, em dezembro de 2008.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
6) John Atta Mills, Presidente do Gana (2012)
John Atta Mills morreu de apoplexia em 2012. Tinha 68 anos. Atta Mills esteve apenas três anos no poder. Enquanto chefe de Estado, introduziu uma série de reformas sociais e económicas que lhe granjearam fama a nível local e internacional.
Foto: AP
7) Meles Zenawi, primeiro-ministro da Etiópia (2012)
Meles Zenawi morreu na Bélgica aos 57 anos de idade, vítima de uma infeção não especificada. Zenawi liderou a Etiópia durante 21 anos – como Presidente, de 1991 a 1995, e como primeiro-ministro, de 1995 a 2012. Foi elogiado por introduzir o multipartidarismo, mas criticado por reprimir violentamente os protestos do povo Oromo no norte da Etiópia.
Foto: AP
8) Omar Bongo, Presidente do Gabão (2009)
Omar Bongo morreu em Barcelona, Espanha, em junho de 2009, vítima de cancro nos intestinos. Bongo estava no poder há 42 anos e morreu aos 72 anos de idade. Foi um dos líderes que esteve mais tempo no poder e um dos mais corruptos. Bongo acumulou uma riqueza imensa enquanto a maior parte da população vivia na pobreza, apesar de o país ter grandes receitas de petróleo.
Foto: AP
9) Michael Sata, Presidente da Zâmbia (2014)
Michael Sata morreu no Reino Unido aos 77 anos. A causa da morte não foi divulgada. Após a sua eleição em 2011, circularam rumores sobre o estado de saúde do Presidente. As suas ausências em eventos oficiais alimentaram ainda mais as especulações, apesar dos seus porta-vozes garantirem que estava tudo bem.
Foto: picture-alliance/dpa
10) Bingu wa Mutharika, Presidente do Malawi (2012)
Bingu wa Mutharika morreu em 2012. Teve um ataque cardíaco e faleceu dois dias depois, aos 78 anos de idade. Esteve oito anos no poder e ganhou gama internacional devido às suas políticas agrícolas e de alimentação. A sua reputação ficou manchada por uma onda de protestos por ter gasto 14 milhões de dólares num jato presidencial.