Escassez de sal leva residentes de Maquival, na Zambézia, a recorrer à água salgada do mangal para cozinhar.
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Dezenas de moradores em Maquival, na província da Zambézia, no centro de Moçambique, já estão há 5 meses sem sal para cozinhar.
Devido à escassez do produto, o único recurso na preparação de alimentos são as cinzas de lenha e a água salgada dos mangais da região, nos períodos de maré alta.
Vender aos chineses
Helena João, uma das residentes em Maquival, diz que a sua família está a enfrentar problemas de saúde por causa do uso constante da água do mangal. Ela afirma que os produtores de sal da região estão a preferir vender o produto aos chineses."Aqui não temos sal, o recurso para sabor de sal é a água do mangal. Alguns dias, fervemos esta água e utilizamos as pequenas partículas sólidas restantes na panela como o sal. Estamos a sofrer muito. Os produtores vendem sal aos chineses, e nós perguntamos: como os chineses chegaram até aqui só para levar sal?"
Procura da China causa escassez de sal na Zambézia
Memuna Menupa, outra residente de 50 anos de idade, está preocupada com a situação.
"Não estamos a consumir sal há vários dias. Sem sal nós nos alimentamos sem gosto, apenas para sobreviver. É a primeira vez que vejo isso. Nessa altura do verão tem havido muito sal por aí, com vendedores ambulantes, a um preço insuportável para todos. Vendem o sal para os chineses, porque os chineses têm muito dinheiro”.
Preços aumentam
A insuficiência de sal neste momento verifica-se em toda a região da província da Zambézia. Na cidade de Quelimane, a capital provincial, por exemplo, os comerciantes agravaram os preços da mercadoria.
Quinze quilos de sal, por exemplo, que antes custavam cerca de 200 meticais (cerca de 3 euros) atualmente custam 750 meticais (10 euros), 50 quilos chegam a custar ao consumidor 1600 meticais (cerca de 24 euros).A vendedora de sal Amélia Chico admite que a mercadoria está em falta devido à procura pelos chineses.
"Trazem camiões, recolhem todo sal, e nós ficamos assim com pouco sal. O preço que os chineses pagam é o mesmo, entre 1500 a 1600 meticais (cerca de 24 euros)".
As autoridades da província da Zambézia reconhecem o problema, mas garantem que nos próximos dias a situação deverá ser ultrapassada. O administrador de Quelimane, Carlos Carneiro, não duvida que os cidadãos chineses estejam a esvaziar o stock de sal, e acrescenta que "não é só sal, mas também o caranguejo, o camarão... Estamos a trabalhar com estes chineses para vermos se podemos controlar esta questão…, e também temos estado atentos e a ter algumas dificuldades nas principais e grandes salinas que se situam lá em Maquival, Idugo, onde os produtores necessitam de apoio financeiro para incrementar a sua produção".
Escolas e material degradado na Zambézia
Para além da sobrelotação, há várias escolas sem condições na província da Zambézia, no centro de Moçambique. As infraestruturas encontram-se deterioradas e há falta de material escolar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Nacogolone
Aqui as crianças estudam debaixo das árvores, estando as aulas dependentes da meteorologia. A maior parte das crianças que estuda nesta escola foi vítima das cheias de 2015, tendo as suas famílias sido reassentadas nas proximidades do bairro Nacogolone. Foram já várias as iniciativas que surgiram no bairro para a reconstrução de salas convencionais, mas a falta de recursos não as deixou avançar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Mutange
As salas de aula desta escola, localizada a 15 quilómetros do extremo sul da vila sede do distrito de Namacurra, foram construídas com material convencional. No entanto, estão deterioradas. As secretárias escolares e o material didático para os professores estão em más condições e os assentos são trazidos e levados pelos alunos todos os dias de e para as suas casas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária 17 de Setembro
Embora se localize na capital da província, as condições desta escola estão muito abaixo das expetativas. Algumas paredes estão corroídas, outras parcialmente destruídas. O mesmo acontece com as carteiras escolares. O teto está deteriorado, o que constitui um perigo para os alunos. A direção da escola recebeu cerca de 200 mil meticais, mas diz não ser suficiente para reabilitar toda a estrutura.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Quelimane
Localizada no centro, em frente ao edifício do Governo da Província da Zambézia, é umas das escolas mais privilegiadas da cidade. Tem condições favoráveis e adequadas ao ensino e à aprendizagem, possuindo até uma sala de conferências. É a mais antiga escola primária - no tempo colonial, era frequentada pelos filhos dos colonos e filhos de negros assimilados.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Comunitária Mártires de Inhassunge
Fundada pela congregação religiosa Padres Capuchinhos, a Escola Comunitária Mártires de Inhassunge acolhe alunos do 1º ao 10º ano e é muito frequentada por pessoas carenciadas e órfãs. Apesar de ter dificuldades no acesso ao fundo de apoio direto às escolas, a instituição conta com infraestruturas adequadas e salas de aula equipadas com carteiras. Uma realidade diferente das escolas públicas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Secundária Geral de Sangarriveira
Integrando alunos da 8ª à 12ª classe, esta escola, que começou a funcionar em 2013, apresenta já rachas nas paredes, janelas partidas e chão degradado. A diretora Paulina Alamo afirma que as obras não obedeceram ao que estava estabelecido. A dimensão das salas é pequena para a quantidade de alunos existente. Há estudantes que têm de se sentar no chão.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária e Completa de Wazemba
O problema alastra-se também aos professores. Os gabinetes dos diretores e gestores das escolas localizadas em sítios mais distantes das vilas e postos administrativos estão em péssimas condições. Exemplo disso é a Escola Primária e Completa de Wazemba, no distrito de Namacurra. No gabinete do diretor, há atlas geográficos pendurados nas paredes feitas de material de construção local.
Foto: DW/M. Mueia
Pais, alunos e professores garantem manutenção
A estrutura externa do gabinete do diretor da Escola Primária de Wazemba foi construído com materiais locais - paus e folhas de coqueiro para cobrir o teto. As paredes são revestidas por lama. Em muitas outras infraestruturas escolares semelhantes a esta, a reabilitação é garantida pelos próprios alunos, encarregados de educação, lideres comunitários e professores.
Foto: DW/M. Mueia
Governo conhece situação
Carlos Baptista Carneiro, administrador de Quelimane, garante que a reabilitação das escolas e a compra de carteiras escolares está dependente da disponibilidade de fundos, pelo que não será possível reabilitar todas as escolas da cidade ao mesmo tempo. Segundo o administrador, o número das instituições de ensino que aguardam reabilitação é grande e o Governo tem conhecimento da situação.