Muitos burros são roubados no continente africano para serem vendidos para a China, onde se acredita que uma gelatina extraída da pele do animal cura doenças como a impotência e a infertilidade.
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Os burros de África estão a desaparecer. Como de costume, a culpa é do homem. Mas a causa não é, como muitas vezes quando se extingue uma espécie, a urbanização, a desflorestação ou a poluição. Desta vez trata-se pura e simplesmente de roubo. É que na China há quem acredite na superstição de que a gelatina derivada da cozedura de pele de burro cura doenças. E em África há quem esteja disposto a alimentar essa superstição a troco de dinheiro.
Akasoma James vive em Doba, uma pequena aldeia no norte do Gana. Tal como muitos outros, James é proprietário de vários burros. Precisa dos animais para sobreviver pois são eles que puxam o arado e lhe servem de meio de transporte. Mas Akasoma James tem um problema: "Já por várias vezes tentaram roubar os meus burros... mesmo do meu quintal. Uma vez vieram à noite e levaram todos os burros."
Grande procura na China
O motivo dos roubos é a elevada procura de burros na China. Manda a tradição e a superstição nesse país que o chamado "ejao", uma gelatina extraída da fervura de pele de burro, é boa para a pele e cura a impotência e a infertilidade.Como a criação em massa de burros é muito difícil por motivos biológicos, os chineses voltaram-se para o continente africano. Países com fortes laços comerciais com o gigante asiático são agora os principais fornecedores. Simon Pope, da organização britânica de defesa dos animais "Santuário do burro", diz que inicialmente os proprietários africanos saudaram a procura chinesa.
"Quando os preços dispararam, muitos venderam os animais de que não precisavam. Há um enorme incentivo financeiro para a venda de burros."
Mas quando mais ninguém quis vender começaram a acumular-se os casos de roubo, que retiraram a muitas pessoas a base da sua subsistência, diz Pope.
Governos africanos reagemOs Governos africanos reagiram de forma diversa a esta crise. A Tanzânia proibiu o abate e a exportação de burros, numa tentativa de evitar a extinção. Uma medida eficaz que levou à queda de preços como afirma Simon Pope:
Burros roubados em África para satisfazer a demanda na China
"O que significa que os agricultores e outros indivíduos já podem comprar os animais e os roubos diminuíram consideravelmente".
No Quénia o Governo autoriza o abate para a exportação. Há três açougues no país, mas ninguém sabe ao certo quantos burros por lá passam. A população começa a protestar, mas os críticos acreditam que Nairobi quer proteger os postos de trabalho e não pretende renunciar às receitas geradas pelas taxas alfandegárias.
Na Etiópia, protestos populares obrigaram o Governo a encerrar um matadouro chinês algumas semanas apenas após a sua inauguração. Mas muitas vezes os burros etíopes e de outros países acabam por ser transportados para o Quénia onde o abate é legal.
No Gana a lei proibe o comércio com pele de burro, mas esta praticamente não é implementada. Porém, face à crescente resistência por parte dos africanos, os principais produtores chineses de gelatina à base de burro prometem agora apostar mais na criação própria. Uma boa notícia para o burro africano.
Dinheiro da China e um renascimento sobre trilhos em África
Para melhorar sua infraestrutura de transporte no exterior, a China está investindo maciçamente em África, dando uma nova vida a um velho meio de viajar.
Foto: Getty Images/AFP
O comboio rápido de Abuja a Kaduna
Desde julho, 175 quilómetros de trilhos interligam a capital da Nigéria, Abuja, ao estado de Kaduna, no norte do país. A construção custou cerca de 800 milhões de euros. O Banco de Exportação e Importação da China forneceu aproximadamente 450 milhões deste valor.
Foto: DW/U. Musa
O chefe de Estado nos trilhos
O Presidente Muhmmadu Buhari foi convidado especial na viagem inaugural do novo comboio. Um bilhete para a viagem de 2 horas e 40 minutos custará o equivalente a três euros para a classe económica e 4,25 euros para a primeira classe.
Foto: DW/U. Musa
Comboios em Addis Ababa
A primeira linha de comboio rápido na capital da Etiópia entrou em atividade em 2015. Foi construída pelo Grupo Ferroviário da China – também com financiamento da China EximBank. Até 2020, os chineses serão os responsáveis pela operação e manutenção destes comboios. Em seguida, a Etiópia Railways Corporation deve assumir.
Foto: picture-alliance/dpaMarthe van der Wolf
Interligando a África Oriental
Pelo menos 25 mil quenianos e 3 mil chineses devem participar na construção da rota de 472 quilómetros entre Mombasa e Nairobi. Cerca de 90 por cento dos custos de aproximadamente 3,6 mil milhões de euros serão financiados pela China. Mais tarde, cidades como Kampala e Juba devem ser ligadas.
Foto: Reuters/N. Khamis
Museu Ferroviário em Livingstone
O transporte ferroviário em África remonta a um longo caminho. Em 1856 a rota entre Alexandria e o Cairo foi aberta. Estima-se que estas máquinas de vapor trabalharam do início do século 20 até 1976 na Zâmbia. Agora os comboios são exibidos no Museu Ferroviário em Livingstone.
Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin
Dilapidação no final do domínio colonial
Uma série de linhas ferroviárias foram construídas pelos colonialistas em África. Os comboios transportavam matérias-primas para a costa, onde seriam então enviadas para a Europa. Muitas dessas rotas estão em ruínas. As relíquias na foto pertencem à linha ferroviária original entre Swakopmund e Walvis Bay, construída em 1914, mas substituída em 1980.
Foto: picture-alliance/Ardea/K. Terblanche
Rede ferroviária em África
Numa declaração de 2015, o Banco Africano de Desenvolvimento enfatizou a importância da ferrovia para o continente. Permite o transporte barato de mercadorias e alivia o congestionamento urbano, de acordo com o banco. O relatório também critica o mau estado das redes ferroviárias. Elas se estendem principalmente ao norte e ao sul e muitas vezes não estão ligadas entre si.
Estações fechadas serão reabertas?
À medida que as economias crescem em muitos países africanos, uma nova ênfase é dada aos melhoramentos nos transportes. Se a China e outros patrocinadores continuarem a investir, estações de comboio desertas como esta em Adis Abeba poderão funcionar novamente.
Foto: Getty Images/AFP/M. Medina
Ferrovia na África do Sul
A rede ferroviária regional de Gautrain conecta Pretória e Joanesburgo com o maior aeroporto de África. Ela deve ser ampliada dos atuais 80 para 230 quilómetros nos próximos 20 anos. Com cerca de 21 mil quilómetros de via, a África do Sul tem, de longe, a maior rede ferroviária do continente. O Sudão tem 7,3 mil quilómetros, enquanto o Egito tem 5,1 mil.
Foto: imago/ZUMA Press
Comboios franceses em Tânger
Os comboios de alta velocidade do continente estão planejados no norte. O primeiro de 12 comboios TGV franceses foram entregues em junho passado. A viagem entre Tânger e Casablanca deve levar 2 horas 10 minutos a uma velocidade de até 320 quilómetros por hora, em vez de 4 horas e 45 minutos. A linha se estenderá mais tarde à Argélia e à Tunísia.