PGR investiga descoberta de sete corpos nas matas de Nampula
Sitoi Lutxeque (Nampula)
23 de outubro de 2018
Sete corpos foram descobertos numa mata no norte de Moçambique, na sexta-feira, e a população enterrou as vítimas numa vala comum. A DW África acompanhou a equipa da PGR que se deslocou à região para exumar os cadáveres.
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O povoado de Muarapaz, no posto administrativo de Chinga, em Murrupula, acordou em alvoroço na madrugada da passada sexta-feira (19.10), depois da descoberta numa mata de sete corpos, de cinco homens e duas mulheres.
Francisco Valice, residente no povoado de Muarapaz, contou à DW África que as vítimas são desconhecidas na região. Suspeita que tenham sido assassinadas e arrastadas para o local por "indivíduos de má-fé".
PGR investiga descoberta de sete corpos nas matas de Nampula
"Quando nos apercebemos desses corpos sem vida, tratamos de comunicar às autoridades e os corpos foram enterrados [pela população, mediante a autorização das autoridades locais]. São pessoas que não conhecemos, pela aparência eram estrangeiras. Este é o primeiro caso", disse.
Pedro Mpera, outro cidadão que participou no enterro dos corpos na vala comum, acredita que a extração artesanal de ouro, minério que abunda na região, pode ter sido uma das causas que originou as mortes. "As pessoas que descobriram foram garimpeiros. No regresso das minas, viram um movimento estranho, pessoas deitadas no chão com sangue e daí vieram comunicar-nos no bairro e nós fomos ao chefe [do povoado]", conta.
Corpos exumados
Esta terça-feira (23.10), uma equipa constituída pela Procuradoria-Geral (PGR) da República, Serviço Nacional de Investigação Criminal, médicos e jornalistas estiveram no local, onde foram exumados os sete corpos.
Segundo a análise preliminar, as vítimas terão sido espancadas e amarradas, mas não apresentavam sinais de golpes, apesar do estado avançado de decomposição de alguns.
O procurador Cristóvão Mulieca, que liderou a equipa, prefere não avançar detalhes, até que as autópsias estejam concluídas. "Encontrámos sete corpos e continuamos a fazer o trabalho para averiguarmos e sabermos quais são as causas da morte", disse.
Este não é o primeiro caso de exumação de corpos no distrito de Murrupula, que no ano passado foi palco dos confrontos que envolveram antigos guerrilheiros da RENAMO e o governo.
A nova descoberta preocupa alguns partidos políticos, como a RENAMO. O porta-voz do principal partido da oposição, José Manteigas, já tinha denunciado as mortes à DW África. "Por que razões as pessoas foram depositadas numa vala comum sem uma investigação e não se sabe a identidade das vítimas?", lamentou.
Polícia fala em "informação infundada"
A DW África contactou o porta-voz da Polícia em Nampula, Zacarias Nacute, que disse não ter conhecimento da informação. "Podemos dizer que são factos infundados. Porque a Polícia já fez um inquérito para ver se de facto existiam corpos sem vida, mas até ao momento não tivemos nenhum caso do género. Sendo uma situação de sete corpos, não seria um caso para a Polícia não tomar conhecimento", disse.
O porta-voz da Polícia ameaça responsabilizar criminalmente as pessoas que instigam a desinformação. "A instigação à desordem pública constitui um crime. Se a Polícia tiver conhecimento de indivíduos que têm proliferado esse tipo de informações, poderão ser responsabilizados", avisa.
Moçambique: Autoridades investigam descoberta de sete corpos em Nampula
Sete cadáveres foram encontrados pela população numa mata do povoado de Muarapaz, distrito de Murrupula, a 19 de outubro. Os residentes enterraram as vítimas numa vala comum, com a autorização das autoridades locais.
Foto: DW/S. Lutxeque
Um povoado pacato no centro das atenções
O povoado de Muarapaz, no posto administrativo de Chinga, em Murrupula, acordou em alvoroço na sexta-feira, 19 de outubro, na sequência da descoberta de sete corpos, cinco homens e duas mulheres, numa mata. Mas este não é o primeiro caso de exumação de corpos no distrito de Murrupula, que no ano passado foi palco dos confrontos que envolveram antigos guerrilheiros da RENAMO e o Governo.
Foto: DW/S. Lutxeque
Vias de acesso precárias
A 23 de outubro, uma equipa constituída pela Procuradoria da República, Serviço Nacional de Investigação Criminal, médicos e jornalistas esteve no local, onde foram exumados os sete corpos. A viagem até ao povoado não foi fácil, devido às más condições das estradas, muitas vezes cobertas de mato. Muarapaz fica a 100 quilómetros de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
SERNIC recolhe primeiras provas
À chegada a Muarapaz, os investigadores perderam-se por duas vezes nas matas, mesmo com a ajuda de guias, em busca da vala comum. Já no local, os agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) barraram o acesso dos restantes elementos da equipa, para recolherem as primeiras evidências.
Foto: DW/S. Lutxeque
Vala comum quase "camuflada"
Dez minutos depois, toda a equipa foi autorizada a aproximar-se da vala comum. Segundo os especialistas, apesar de estar localizada a menos de cinco metros da estrada, a vala poderia passar despercebida, caso chovesse na região. A população local afirma que enterrou os corpos numa vala comum - com autorização das autoridades - para "respeitar a dignidade dos defuntos", desconhecidos na região.
Foto: DW/S. Lutxeque
Exumação dos corpos
A exumação dos corpos durou pouco mais de duas horas, com o apoio de alguns populares do povoado de Muarapaz. A vala, com aproximadamente dois metros de profundidade, tinha sido reforçada com ramos, bambu e folhas, com vista a proteger os cadáveres, segundo os relatos dos residentes que presenciaram e participaram na sepultura dos corpos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Homicídios relacionados com ouro?
Residentes suspeitam que as vítimas terão sido assassinadas e arrastadas para o local. Pedro Mpera, que participou no enterro dos corpos, acredita que a extração artesanal de ouro pode ter sido um dos motivos. Fala em disputas entre cidadãos nacionais e estrangeiros - estes últimos, na maioria, compradores do minério: "Foram os garimpeiros que descobriram as mortes, quando regressavam das minas".
Foto: DW/S. Lutxeque
Sinais de agressão
Depois da exumação dos corpos, numa análise preliminar, constatou-se que as vítimas terão sido espancadas e amarradas, mas não apresentavam sinais de golpes, apesar do estado avançado de decomposição de alguns dos cadáveres. Ainda não são conhecidas as causas definitivas das mortes. Os exames continuam a decorrer.
Foto: DW/S. Lutxeque
Análises em curso
O procurador Cristóvão Mulieca, que liderou a equipa, prefere não avançar detalhes, até que as autópsias estejam concluídas: "De facto, encontrámos sete corpos e continuamos a fazer o trabalho para averiguarmos e sabermos quais são as causas da morte".
Foto: DW/S. Lutxeque
"Factos infundados", diz Polícia de Nampula
A DW contactou o porta-voz da Polícia em Nampula, Zacarias Nacute, que disse não ter conhecimento da situação: "São factos infundados. A instigação à desordem pública constitui um crime. Se a polícia tiver conhecimento de indivíduos que têm proliferado esse tipo de informações, poderão ser responsabilizados", garantiu.